Natural do Rio de Janeiro (RJ), onde reside,
Regina Lucia Silveira Martins (foto) é
graduada Mestre e doutoranda em Educação e
professora do Instituto Benjamin Constant. Nas
lides espíritas, realiza estudos no Grupo
Espírita Regeneração, de sua cidade, grupo
fundado por Dr. Bezerra de Menezes em 1891.
Entrevistamo-la sobre seu pai, o psiquiatra
espírita Dr. Roberto Silveira.
Por favor, identifique seu pai para nossos
leitores.
Falar sobre o meu pai representa para mim,
inicialmente, o sentimento de muita gratidão a
Deus, pela oportunidade de ter convivido com um
homem de bem. Sendo meu pai, então, esse
convívio influenciou minha formação e seu
exemplo de vida me influencia diariamente a
buscar conseguir fazer de mim um ser humano
melhor. Dr. Roberto Silveira médico psiquiatra
espírita, conhecido no movimento espírita
através do programa “A Agenda de um psiquiatra
espírita”, apresentado na Rádio Rio de Janeiro,
é um discípulo de Dr. Bezerra de Menezes, “o meu
patrão”, como ele dizia sobre seu “chefe” nos
trabalhos na Casa dos Benefícios, o Grupo
Espírita Regeneração, casa fundada por Dr.
Bezerra em 18 de fevereiro de 1891.
Ele desencarnou no dia em que se comemora a
Independência do Brasil, em 7 de setembro de
2019, aos 90 anos. Conheceu a doutrina espírita
após presenciar um fenômeno autêntico de
mediunidade junto a uma entidade, num centro de
Umbanda, ao qual havia sido levado por uma
enfermeira do Hospital Geral de Bonsucesso, do
qual foi diretor, no início da década de 1970.
Agnóstico até então, começou a pesquisar
assuntos ligados a filosofia espírita, até que,
assistindo a uma palestra do Dr. Jorge Andrea no
Grupo Espírita André Luiz, reencontrou antiga
colega do IAPTEC, que o encaminhou ao Grupo
Espírita Regeneração.
Dessa época até o ano de sua desencarnação, em
2019, atendeu, orientando e medicando, centenas
de pessoas, gratuitamente, que o procuravam no
Regeneração, sempre com o apoio daquilo que
costumava dizer ser fundamental para o processo
de cura: a consulta psicoterápica, o passe, água
fluidificada, a frequência do paciente nas
reuniões públicas doutrinárias e as indicações
de seus nomes nas reuniões mediúnicas.
Quantos livros ele publicou? Quais?
Foram mais de 40 anos de trabalho como
psiquiatra no Grupo Espírita Regeneração.
Publicou os livros Agenda de um Psiquiatra
Espírita, Aqui e Acolá – a psiquiatria nos dois
planos da vida, A Evolução de Adão – da Gênesis
à Psiquiatria (em parceria com Jorge Damas
Martins), A Minha Rosa Amarela, Ensaios de
Evangelismo, As cinco vidas de Aurora, Minha
memórias e Reflexões, Drogas e suas
consequências (autores diversos), Um
psiquiatra entre dois mundos, Ele está bem,
Obrigado e O ‘Meu’ Consultório Psiquiátrico – as
orientações de Chico Xavier.
Desses livros, qual você mais destaca?
Esses livros representam suas reflexões sobre a
relação da doença psiquiátrica e a ausência de
uma perspectiva de conhecimento filosófico sobre
a vida. Diz ele em seu último livro, O ‘Meu’
consultório Espírita – as orientações de Chico
Xavier, “diante das tão discutidas e não
menos misteriosas etiologias das enfermidades
psiquiátricas, principalmente das denominadas
psicoses, por que não admitir a realidade da
reencarnação, como fator de especial importância
para a origem da doença?” Alguns dos livros
apresentam suas experiências no consultório,
outros apresentam seu olhar psiquiátrico, diante
da experiência junto a relatos de espíritos
desencarnados através das manifestações de
médiuns, reflexões sobre o desenvolvimento de
personalidades e sua doença nos processos
reencarnatórios; enfim um olhar sobre os
conflitos emocionais e espirituais, que estão
presentes aqui e acolá no desenvolvimento do
espírito em evolução.
Qual deles mais lhe chama atenção?
O livro que mais me chama a atenção é o seu
último livro: O ‘Meu’ Consultório Espírita –
As Orientações de Chico Xavier.
Primeiramente por observar que ele reconhece que
o consultório espírita é diferente de um
ambulatório convencional, onde o psiquiatra
normalmente é instruído a ser neutro, e não se
deixar envolver afetivamente com o paciente; ao
contrário, na casa espírita o médico conta com o
que a Dra. Nise da Silveira chamou de “afeto
catalizador”. Desde o primeiro contato, na
anamnese, este ambiente proporciona a
aproximação médico paciente; o médico passa a
ser considerado um amigo, um companheiro
espiritual, pelo paciente e o médico, segundo
ele mesmo afirma no livro, um simples
instrumento a serviço de uma equipe médica
chefiada pelos mentores da casa, no caso do
Regeneração, Dr. Bezerra de Menezes. Depois
porque o livro traz, na sua segunda parte,
mensagens psicografadas pelo Chico direcionadas
a meu pai, sobre seu trabalho psiquiátrico no
Regeneração. São mensagens de Dr. Bezerra de
Menezes, Dr. Alcides de Castro e Dr. João
Baptista Maia de Lacerda, sobrinho de Dr.
Bezerra de Menezes em sua última existência,
que, segundo o próprio Chico, era mentor
espiritual de meu pai. Essas mensagens
confirmavam a importância do trabalho do
consultório no Regeneração e a equipe que
vinha colaborando junto a ele no tratamento aos
enfermos. É importante lembrar que muitos
ex-pacientes de meu pai hoje se encontram lá no Regeneração,
fazendo parte da fileira de colaboradores da
Casa.
Do legado de pai, o que mais ficou?
Do legado que ele nos deixou, posso afirmar que
acompanhei com admiração a sua trajetória como
médico, provedor e chefe da família e espírita.
Cresci vendo meu pai sempre presente, provedor
da família, um herói! Nas lembranças da
infância ele era grande, parecia estar em alto
posto familiar e social. Como médico
citopatologista, era chefe de um grande hospital
federal. Era dono e chefe de seu laboratório
particular e, no Clube de Regatas do Flamengo,
erámos seus filhos conhecidos, na turma da
natação, como filhos do vice-presidente médico
do clube. Porém nas questões religiosas, víamos
alguma resistência. De família católica, minha
mãe insistia na sua presença às missas de
domingo, mas lembro que nas homilias ele sempre
se ausentava e saía da igreja.
Do legado de psiquiatra o que é mais marcante?
Foi nos primeiros anos da década de 1970 que o
vimos mudar radicalmente. Antes, fazia parte dos
congressos médicos, dirigia e organizava
eventos, viajava com delegações esportivas... de
repente tudo mudou. Passou a não fazer questão
de participar dos congressos, desligou-se do
clube, passando a ser apenas empolgado torcedor
do Flamengo. Algo o estava motivando... Um novo
ânimo! Passamos a vê-lo envolvido as voltas com
livros espíritas e filosóficos, conversas sobre
o Espiritismo, novos amigos espiritualistas e
essa sua convicção foi-se estendendo à família,
que começou a acompanhá-lo nas idas ao Grupo
Espírita Regeneração.
Citologista de renome nacional, médico formado
pela Universidade Federal Fluminense, além de
funcionário público do hospital citado e
trabalhar em seu Laboratório Citopatológico
sediado na Fundação Bela Lopes de Oliveira, ao
entrar para a doutrina, resolveu fazer um curso
de especialização em Psiquiatria na antiga Casa
Dr. Eiras no bairro de Botafogo no Rio de
Janeiro. Formou se nessa especialização em 1978.
Daí, passou a ficar mais tempo do seu dia,
atendendo sua agenda de marcações no
Regeneração.
E do espírita?
Para nós, seus filhos, fica a lembrança do
caminho trilhado por ele, sua escolha de
serviço, a oportunidade que ele foi buscar, de
conquistar novo degrau para o encontro com o
Cristo.
Da intimidade e da convivência familiar, o que
mais lhe vem à mente?
Minhas palavras finais são de agradecimento a
Deus, pela oportunidade que tive em conviver com
esse pai amigo e dedicado à caridade, pelo
exemplo que nos deixou e que conduz a nossa
atual personalidade, em luta sempre, entre os
vícios do passado recente, que teimam em
aparecer, e o despertar das virtudes esquecidas
do Espírito, papel fundamental dos pais na
infância como nos diz a pergunta 383 d’O
Livro do Espíritos: Qual é, para o
Espírito, a utilidade de passar pela infância?
— Encarnando-se com o fim de se aperfeiçoar, o
Espírito é mais acessível durante esse tempo às
impressões que recebe e que podem ajudar o seu
adiantamento, para o qual devem contribuir os
que estão encarregados da sua educação.
Suas palavras finais.
Um grande sentimento de gratidão pela vida e,
claro, pelo pai com quem tanto pude aprender.
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