A conquista da paz
Como todos já percebemos, a paz não é algo fácil de
conquistar e, em especial, de manter.
A visão que a maioria de nós tem, deste estado de
espírito, é completamente deturpada. Começa por acharmos
que é uma emoção ou um sentimento.
A paz é um estado de espírito ou um estado do ser, como
preferirem.
Imaginem uma guerra no tempo medieval, onde tentamos
conquistar um castelo, que representa a paz, que está
completamente rodeado por militares que nos impedem de
passar para este castelo.
Essas forças militares que rodeiam totalmente o castelo,
ainda longe deste, e que nos mantêm à distância do
objetivo, são as emoções, os desejos desmedidos e os
sentimentos de aversão. Dentro destes, encontramos a
raiva, o egoísmo, a ira, o orgulho, a avareza, a
angústia, os desejos e por aí afora.
Quando nos deparamos, frente a frente, com estas
unidades militares, na tentativa de chegar ao castelo,
acontece uma luta enorme, à semelhança do nosso
interior.
Esta luta aumenta a desestabilização e é nesta altura
que mais queremos ter paz, tal como o desejo da
paciência nasce da impaciência, se não tivermos
impacientes, não desejaremos estar pacientes.
Para chegarmos ao castelo da paz, pensamos que temos de
combater as unidades militares das emoções atrás
mencionadas porque temos a noção de que no estado mental
agitado não nos podemos ficar serenos.
A conquista da paz passa pela conquista de nós próprios,
acabando com as nossas tendências negativas que nos
levam ao conflito interno.
Quando mencionamos conquista, parece que estamos a falar
de uma autêntica luta, mas também não poderia estar mais
errado. Como é que iríamos conquistar a paz com uma
luta? Será que alguma luta, mesmo que interna, nos
poderá trazer paz?
Onde nascem as emoções? As emoções nascem em nós. Parte
do ser que quer a paz cria as emoções, os desejos
desmedidos e os sentimentos de aversão.
Podemos perguntar a nós próprios: se queremos a paz, por
que criamos o que nos afasta desta?
Estas emoções, sentimentos negativos e desejos
desmedidos fecham a visão da paz tal como as nuvens
fecham o sol.
Com esta visão é fácil percebermos que a luta da
conquista passa para uma luta de abdicação, ou, como
Cristo mencionou, desapego.
Temos de desapegar, isto quer dizer deixar de dar valor
ao nosso estado de ser que cria as emoções negativas, os
desejos desmedidos e os sentimentos de aversão,
desapegar das vontades errôneas terrenas, como seres.
O nosso modo habitual de funcionamento é:
- Surge a raiva, sou agressivo com a outra pessoa, vejo
o mal que fiz e arrependo-me, pensando que tenho de
alterar aquela forma de estar. Aqui nasce a luta, parte
agiu de forma errada e outra parte a critica e tenta ser
melhor.
Esta é uma luta perdida, porque toda a luta é um
conflito que nos afasta da paz interior.
O melhor seria não criarmos o que nos tira a paz, logo,
não existiria luta, porque não precisaríamos de mudar o
que não criamos. Como poderemos chegar aqui?
Jesus aconselha uma atenção sobre nós quando ensina
“Vigiai e orai”, ou seja, atenção ao que surge em nós; a
seguir, quietude ou oração para não cairmos em tentação.
Desta forma, não chegaremos ao conflito e
desenvolveremos o desapego que encurta o caminho para a
paz.
Permanecer em paz ou ser puros de coração não é combater
os defeitos, mas abdicar destes para que não haja lugar
para a criação de conflitos.
Na imagem do castelo da paz e suas tropas envolventes, a
única coisa que teríamos de fazer, para chegar ao
castelo, era deitar as armas fora e caminhar sem iniciar
uma única luta. Em nós, não há forma de exigir ser
perfeitos sem que haja nascimento de más tendências; a
perfeição acontece por não nos apegarmos a estas, e elas
morrem como nasceram, sem nos movimentar ou influenciar.
Mateus 26:39 - Indo um pouco mais adiante, prostrou-se
com o rosto em terra e orou: "Meu Pai, se for possível,
afasta de mim este cálice”, e ficou por uma hora.
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