A grande esperança
A princípio, todas as religiões têm em seus fundamentos
grandes verdades ¹ trazendo, cada uma no seu
contexto, contribuições para o aperfeiçoamento do homem,
no que tange aos seus hábitos morais.
No entanto, o próprio homem, no exercício das suas
funções religiosas, desvia o sentido das doutrinas que
professa. Com o tempo, vai introduzindo “verdades”
novas, ideias pessoais, conceitos deliberadamente
reelaborados, que vão desfigurando as formulações
originais que eram para educar a alma, mas que acabam
emparedando os crentes nos dogmas, nas fantasias, nas
malhas de falsos princípios que atrasam muito o seu
progresso.
As religiões se desviaram das suas finalidades
essenciais. Seitas e denominações em número cada vez
maior, inapelavelmente apegadas à letra, se agarram ao
misticismo, ao sagrado, e negam a ciência como se fosse
possível viver sem ela.
Em flagrante contradição com os avanços do mundo,
apartado da cultura geral, um contingente imenso de
pessoas entra e sai mecanicamente de templos e igrejas
com a mente fixada naquilo que ouviram e conservam o das
tradições.
A sádica governança política através de estatutos
religiosos manipula e mantém milhões de seres atados ao
passado arcaico, ao culto de tradições obsoletas. A fé
cega, os preconceitos e o sectarismo completam o triste
quadro “religioso” da humanidade.
Vê-se isso no mundo, e também no Brasil. A hedionda
mistura de fé, ignorância e terror alimenta o ódio que
divide pessoas e grupos.
Felizmente há exceções, mas insuficientes para fazer
predominar o bom senso e o equilíbrio nesse meio.
Apesar de tudo, a força irresistível do progresso
continua pedindo a colaboração dos homens conscientes.
Se uma pessoa quer a fraternidade ardentemente, isso nos
leva a pensar que dez outras também a podem querer. Se
dez a buscam, por que cem, mil, não a buscarão? E assim
por diante.
Num raciocínio francamente positivo, é lógico aceitar
que muitos milhões, hoje, não querem outra coisa senão a
paz, o trabalho, o progresso. Esse pensamento está no
coração de muita gente, mesmo em locais da Terra onde
vigoram os crimes religiosos, o fanatismo, a violência
sectária.
As pessoas que sofrem sob esses regimes querem caminhar
para Deus ², pois esse desejo está gravado em sua
consciência. Entretanto, são iludidas há séculos por
sistemas político-religiosos que se perpetuam no mando;
por homens equivocados e bárbaros que as aliciam sob a
capa da falsa pureza e santidade, mantendo-as na
ignorância da qual não as querem ver se afastar, porque
isso as libertaria.
Em meio a esse caos moral em que a humanidade está
mergulhada, o Espiritismo se apresenta como a “grande
esperança” para o esclarecimento espiritual das massas.
Os princípios universais que ele ensina faltam, em parte
ou no todo, à maioria das religiões e seitas da
atualidade que, corrompidas, não têm como reverter esse
quadro.
Sem o conhecimento que o Espiritismo traz da
imortalidade da alma, da reencarnação, da
comunicabilidade dos Espíritos, os homens continuarão à
deriva. Sem o entendimento do mecanismo de causa e
efeito que confere “a cada um segundo as suas obras”,
continuarão desrespeitando o próximo, infringindo as
leis e, com isso, sofrendo e fazendo sofrer.
O Espiritismo tem muito a esclarecer sobre as questões
humanas e contribuir com as religiões no sentido de se
perceber, de uma vez por todas, que está na hora de
trocar o velho pelo novo, o passado pelo futuro, as
trevas pela luz.
(¹ e ²) “As Leis Morais”
(Conhecimento da Lei Natural), O Livro dos Espíritos,
Allan Kardec, Lake editora.
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