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por Rogério Coelho

 

O maior acontecimento religioso depois de Jesus


As religiões se mostram abafadas pelas fórmulas e sufocadas pelos mistérios


“(...) E eu rogarei a meu Pai e Ele vos enviará outro Consolador.” - 
Jesus. (Jo., 14:16.)


Pululam na Terra os anticristos, e muitos deles vestindo ainda a sotaina, pois mesmo nos mais variados arraiais religiosos, por mais paradoxal que possa parecer, eles se fazem presentes, inclusive no movimento espírita. Mas, como diz o próprio Codificador: “não há como a gralha se disfarçar de pomba.” Sem embargo, como Jesus afirmou que até mesmo os eleitos poderiam ser embaídos, pela sutileza dos ardis das trevas, todo o cuidado é pouco.  Daí a conveniência de se prestar toda a atenção à Sua recomendação no que diz respeito à Vigilância e à Oração.

É incrível como numa época de tantos esclarecimentos e de tantas evidências e provas da Imortalidade da Alma, muitos se aferram à ignorância medieval para a defesa dos ultrapassados conceitos d’antanho.

Esclarecendo a questão, Arthur C. Doyle escreveu:[1] “(...) cumpre que tomemos a resolução de aplicar-nos a construir com as comunicações do Além um sistema religioso, que resulte assente, pelo nosso lado, sobre a razão humana e, pelo outro, sobre a inspiração espírita. Passou a época em que tais fenômenos constituíam um divertimento frívolo, vez que agora eles se apresentam como discutível novidade científica; vão tomando ou tomarão no futuro a feição de fundamentos de um sistema preciso de ideias religiosas, de uma parte, confirmativo dos antigos sistemas e, de outra, inteiramente novo. As provas sobre que se apoia esse sistema são tão abundantes que só considerável biblioteca poderia contê-las. Além disso, as testemunhas dos fatos não são pessoas obscuras que vivam imersas nas sombras do passado, inacessíveis, portanto, ao nosso exame. São, ao contrário, contemporâneos nossos, homens de caráter e inteligência, respeitados por todos...

 A situação, a meu ver, pode resumir-se numa simples alternativa: ou se admite que houve uma epidemia de loucura que se alastrou por duas gera­ções humanas e dois grandes continentes, atacando homens e mulheres que a todos os outros respeitos se conservaram eminentemente sãos; ou então se há de admitir que nestes últimos anos temos rece­bido, promanando de fontes divinas, uma nova reve­lação, que representa o maior acontecimento religioso verificado depois da morte do Cristo  (visto que a Reforma não foi mais do que uma nova disposição dada ao que já existia e não a revelação de novos princípios) e que muda completamente o aspec­to da morte e o destino do homem. Entre essas duas hipóteses nenhuma outra posição firme existe. As teorias segundo as quais no Espiritismo tudo é fraude ou ilusão não encontram provas em que se apoiem.  Ou é mera loucura, ou uma revolução nas ideias religiosas, revolução que nos dá como fruto uma extrema intrepidez em face da morte e imensa consolação quando sobre aqueles que nos são caros desce o véu.

Muito me apraz acrescentar aqui algumas breves observações práticas àqueles que reconhecem a ver­dade do que digo.  Achamo-nos em presença de uma manifestação imensa e nova, da mais considerável de que nos dá notícia a história do gênero humano. Como usar dela?  Penso ser para nós dever de honra externar a nossa crença, especialmente aos que so­frem.   Feito isto, não devemos forçar a mão e sim deixar que do resto se encarregue uma sabedoria mais elevada do que a nossa. Não queremos subver­ter religião alguma.  Desejamos tão-somente atrair os inclinados à materialidade, tirá-los do vale apertado em que se encontram e trazê-los ao cume onde respi­rarão ar mais puro e contemplarão outros vales e ou­tros cumes.  As religiões se mostram em grande parte petrificadas e decadentes, abafadas pelas fórmulas e sufocadas pelos mistérios. Podemos provar que não há necessidade nem de uma coisa nem de outra.  Tudo o que é essencial é ao mesmo tempo muito simples e muito positivo.

(...) Cumpre repetir que se a nova revelação pode parecer destruidora para os que sustentam os dogmas cristãos com extrema rigidez, efeito inteiramente oposto ela produz nos que, como sucedeu a tantos dos modernos pensadores, hão chegado a considerar toda a contextura do Cristianismo uma grandíssima ilusão. Já ficou evidenciado claramente que, entre a nova revelação e a antiga, apesar de esta se achar desfigurada pelo tempo e mutilada pela ação do homem e do materialismo, tantas semelhanças há que denotam ser, em geral, o mesmo esquema de ambas e terem as duas, indubitavelmente, uma origem co­mum.

Verifica-se que as ideias aceitas de outra vida após a morte; da existência de Espíritos superiores e inferiores; de uma relativa felicidade depen­dente do nosso proceder; da expiação pelo sofrimento; de espíritos guardiães de altos instrutores de um Infinito Poder Central; de círculos que, sobrepondo-se, cada vez mais se aproximam desse centro; verifica-se, dizemos, que todas essas concepções surgem de novo, mas agora confirmadas por muitos testemunhos.

Foram somente as pretensões à infalibilidade e ao monopólio, a hipocrisia e o pedantismo dos teólogos e ainda os ritos instituídos pelos homens, que desviaram a vida das ideias inspiradas por Deus. Foi isso unicamente o que adulterou a verdade.

 Não posso encerrar melhor minhas ilações do que me servindo de palavras mais eloquentes do que quantas eu pudesse escrever e que compõem esplêndido modelo não só do estilo como também do pensamento inglês. Elas são do grande pensador e poeta Gerald Massey e datam de muitos anos: “o Espiritismo foi para mim, do mesmo modo que para muitos outros, como que uma elevação do meu horizonte mental e a entrada do Céu.  Foi como que a fé a se formar dos fatos. Tanto assim que a vida, sem ele, eu só a posso comparar a uma travessia feita, a bordo de um navio com as escotilhas fechadas, por um prisioneiro, que vivesse todo o tempo alumiado pela luz de uma vela e a quem de súbito, numa es­plêndida noite estrelada, permitissem subir pela primeira vez no tombadilho, para contemplar o prodigioso mecanismo do firmamento, flamejando a glória de Deus”. 


 

[1] - DOYLE, Arthur Conan. A Nova Revelação. 3.ed. Rio [de Janeiro: FEB, 1980, p. 113-120.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita