O maior acontecimento religioso depois de
Jesus
As religiões se mostram abafadas pelas fórmulas e
sufocadas pelos mistérios
“(...) E eu rogarei a meu Pai e Ele vos enviará outro
Consolador.” - Jesus. (Jo.,
14:16.)
Pululam na Terra os
anticristos, e muitos deles vestindo ainda a sotaina,
pois mesmo nos mais variados arraiais religiosos, por
mais paradoxal que possa parecer, eles se fazem
presentes, inclusive no movimento espírita. Mas, como
diz o próprio Codificador: “não há como a gralha se
disfarçar de pomba.” Sem embargo, como Jesus afirmou
que até mesmo os eleitos poderiam ser embaídos, pela
sutileza dos ardis das trevas, todo o cuidado é pouco.
Daí a conveniência de se prestar toda a atenção à Sua
recomendação no que diz respeito à Vigilância e
à Oração.
É incrível como numa época de tantos esclarecimentos e
de tantas evidências e provas da Imortalidade da Alma,
muitos se aferram à ignorância medieval para a defesa
dos ultrapassados conceitos d’antanho.
Esclarecendo a questão,
Arthur C. Doyle escreveu: “(...)
cumpre que tomemos a resolução de aplicar-nos a
construir com as comunicações do Além um sistema
religioso, que resulte assente, pelo nosso lado, sobre a
razão humana e, pelo outro, sobre a inspiração espírita.
Passou a época em que tais fenômenos constituíam um
divertimento frívolo, vez que agora eles se apresentam
como discutível novidade científica; vão tomando ou
tomarão no futuro a feição de fundamentos de um sistema
preciso de ideias religiosas, de uma parte, confirmativo
dos antigos sistemas e, de outra, inteiramente novo. As
provas sobre que se apoia esse sistema são tão
abundantes que só considerável biblioteca poderia
contê-las. Além disso, as testemunhas dos fatos não são
pessoas obscuras que vivam imersas nas sombras do
passado, inacessíveis, portanto, ao nosso exame. São, ao
contrário, contemporâneos nossos, homens de caráter e
inteligência, respeitados por todos...
A situação, a meu ver, pode resumir-se numa simples
alternativa: ou se admite que houve uma epidemia de
loucura que se alastrou por duas gerações humanas e
dois grandes continentes, atacando homens e mulheres que
a todos os outros respeitos se conservaram eminentemente
sãos; ou então se há de admitir que nestes últimos anos
temos recebido, promanando de fontes divinas, uma nova
revelação, que representa o maior acontecimento
religioso verificado depois da morte do Cristo (visto
que a Reforma não foi mais do que uma nova disposição
dada ao que já existia e não a revelação de novos
princípios) e que muda completamente o aspecto da morte
e o destino do homem. Entre essas duas hipóteses nenhuma
outra posição firme existe. As teorias segundo as quais
no Espiritismo tudo é fraude ou ilusão não encontram
provas em que se apoiem. Ou é mera loucura, ou uma
revolução nas ideias religiosas, revolução que nos dá
como fruto uma extrema intrepidez em face da morte e
imensa consolação quando sobre aqueles que nos são caros
desce o véu.
Muito me apraz
acrescentar aqui algumas breves observações práticas
àqueles que reconhecem a verdade do que digo.
Achamo-nos em presença de uma manifestação imensa e
nova, da mais considerável de que nos dá notícia a
história do gênero humano. Como usar dela? Penso ser
para nós dever de honra externar a nossa crença,
especialmente aos que sofrem. Feito isto, não devemos
forçar a mão e sim deixar que do resto se encarregue uma
sabedoria mais elevada do que a nossa. Não queremos
subverter religião alguma. Desejamos tão-somente
atrair os inclinados à materialidade, tirá-los do vale
apertado em que se encontram e trazê-los ao cume onde
respirarão ar mais puro e contemplarão outros vales e
outros cumes. As religiões se mostram em grande parte
petrificadas e decadentes, abafadas pelas fórmulas e
sufocadas pelos mistérios. Podemos provar que não há
necessidade nem de uma coisa nem de outra. Tudo
o que é essencial é ao mesmo tempo muito simples e muito
positivo.
(...) Cumpre repetir que se a nova revelação pode
parecer destruidora para os que sustentam os dogmas
cristãos com extrema rigidez, efeito inteiramente oposto
ela produz nos que, como sucedeu a tantos dos modernos
pensadores, hão chegado a considerar toda a contextura
do Cristianismo uma grandíssima ilusão. Já ficou
evidenciado claramente que, entre a nova revelação e a
antiga, apesar de esta se achar desfigurada pelo tempo e
mutilada pela ação do homem e do materialismo, tantas
semelhanças há que denotam ser, em geral, o mesmo
esquema de ambas e terem as duas, indubitavelmente, uma
origem comum.
Verifica-se que as ideias aceitas de outra vida após a
morte; da existência de Espíritos superiores e
inferiores; de uma relativa felicidade dependente do
nosso proceder; da expiação pelo sofrimento; de
espíritos guardiães de altos instrutores de um Infinito
Poder Central; de círculos que, sobrepondo-se, cada vez
mais se aproximam desse centro; verifica-se, dizemos,
que todas essas concepções surgem de novo, mas agora
confirmadas por muitos testemunhos.
Foram somente as pretensões à infalibilidade e ao
monopólio, a hipocrisia e o pedantismo dos teólogos e
ainda os ritos instituídos pelos homens, que desviaram a
vida das ideias inspiradas por Deus. Foi isso unicamente
o que adulterou a verdade.
Não posso encerrar melhor minhas ilações do que me
servindo de palavras mais eloquentes do que quantas eu
pudesse escrever e que compõem esplêndido modelo não só
do estilo como também do pensamento inglês. Elas são do
grande pensador e poeta Gerald Massey e datam de muitos
anos: “o Espiritismo foi para mim, do mesmo modo que
para muitos outros, como que uma elevação do meu
horizonte mental e a entrada do Céu. Foi como que a
fé a se formar dos fatos. Tanto assim que a vida,
sem ele, eu só a posso comparar a uma travessia feita, a
bordo de um navio com as escotilhas fechadas, por um
prisioneiro, que vivesse todo o tempo alumiado pela luz
de uma vela e a quem de súbito, numa esplêndida noite
estrelada, permitissem subir pela primeira vez no
tombadilho, para contemplar o prodigioso mecanismo do
firmamento, flamejando a glória de Deus”.
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