Olhos de ver
“Tocou, então, os olhos deles, dizendo: conforme a vossa
fé, seja feito a vós.” (Mateus,
9:29.)
A cegueira é uma das expressões que se repete nos
apontamentos evangélicos. Temos os cegos de natureza
física expiando suas faltas do pretérito, quando seus
olhos astutos foram utilizados para desvirtuar ou
deturpar as existências alheias. Temos também os cegos
de discernimento, de ingratidão, de leviandade, de
zombaria, de incredulidade, de ignorância... São muitas
as referências cristãs, como o cego de Betsaida, o cego
de Jericó, entre outros. Por isso, necessitamos curar a
catarata e a conjuntivite, corrigir a visão espiritual
dos nossos olhos entregando-nos à própria cura; porém,
não esqueçamos a pregação do reino Divino aos nossos
órgãos, pois eles são vivos e educáveis. Sem que o nosso
pensamento se purifique e sem que a nossa vontade
comande o barco do organismo para o bem, a intervenção
dos remédios humanos não passará de medida de trânsito
para a inutilidade.
Cada aprendiz em sua lição assim como cada vaso em sua
utilidade. Cada um de nós tem o testemunho individual no
caminho da existência terrena, e por vezes falhamos aos
compromissos assumidos e nos endividamos infinitamente;
todavia, no serviço reparador clamamos pela misericórdia
Divina, rogando compaixão e socorro. A pergunta feita ao
cego de Jericó é bastante expressiva: “Que queres que
Eu faça?”. A indagação deixa perceber que a posição
melindrosa do interessado se ajusta aos designíos da
Lei. Bartimeu, no entanto, soube responder solicitando a
visão.
Lembremo-nos que por vezes perdemos a casa terrestre a
fim de aprendermos o caminho do lar celeste. Há épocas
em que as feridas do corpo são chamadas para curar as
chagas da alma e há situações em que a paralisia nos
ensina a preciosidade do movimento. Estejamos certos de
que nos encontramos, invariavelmente, na mais justa e
proveitosa oportunidade de trabalho que necessitamos e
que talvez não saibamos de pronto escolher outra estrada
melhor.
Todo toque de Jesus é fator de transformação, pois as
forças que Dele emanam sempre dizem verdade Divina,
impulsionando mentes e corações a outras órbitas de
experiências e vida essencial. Ele também esclarece que
a cegueira moral obstrui, no íntimo de cada um, o fluxo
da vida e da felicidade real. É imperioso considerarmos
que todas as aquisições conhecidas por fora, somente
denotam valor verdadeiro se filtradas por dentro.
Atendamos, assim, as definições espíritas que nos traçam
deveres irrevogáveis, definitivos, confessando-nos
espíritas e abraçando atitudes espíritas, sem, no
entanto, esquecermos que o Espiritismo na esfera de
nossas vidas, em tudo e por tudo, é renovação moral.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, no capítulo
8, item 20, há uma bela comunicação do Espírito Vianney,
Cura d’Ars, Paris, 1863, intitulada: “Bem Aventurados
os que têm fechados os olhos”: “(...)”. “Oh! Sim,
bem-aventurado o cego que quer viver com Deus, mais
feliz que vós, que estais aqui, ele sente a felicidade,
toca-a, vê as almas e pode se lançar com elas nas
esferas espirituais que os próprios predestinados da
vossa Terra não veem”. (...) “Crede-me bem, meus bons e
caros amigos, a cegueira dos olhos é, frequentemente, a
verdadeira luz do coração, enquanto que a vista é,
frequentemente, o anjo terrestre que conduz à morte.”
A nossa missão é a de despertar os olhos e os ouvidos
para confundir os orgulhosos e desmascarar os
hipócritas, ou seja, os que afetam exteriormente a
virtude e a religião para ocultar as suas torpezas. É
necessário que cada coisa venha ao seu tempo. A verdade
é como a luz e é preciso que nos habituemos a ela pouco
a pouco.
A fé, como síntese da inteligência moral, é um recurso
poderosíssimo da projeção espiritual da criatura. Ela é
arrebatadora e contagiosa, encontrando palavras
persuasivas que vão à alma. Portanto, preguemos pelo
exemplo da fé; preguemos pelo exemplo da esperança
inabalável que nos faz ver a confiança que fortalece e
nos leva a enfrentar todas as vicissitudes da vida.
Tenhamos a fé em tudo o que ela tem de bom e de belo em
sua pureza e em sua racionalidade, vencendo, assim, os
condicionamentos estreitos que nos escravizam à matéria,
os conceitos reducionistas de nossas possibilidades
essenciais, reconhecendo a grandeza do amor Paterno,
sentindo que Ele não dá o Espírito por medida. Assim,
portas da Sabedoria e do Amor estarão constantemente
abertas. Os tesouros da ciência e as alegrias da
compreensão humana, as glórias da arte e as luzes da
sublimação interior são acessíveis a todos; portanto, é
preciso estudar, observar, trabalhar e nos renovar para
o bem, ampliando a visão que nos é própria auxiliando o
outro, ajudando desta forma a nós mesmos.
Deus é amor e Nele operamos o despertamento de nossos
potenciais de Espírito, mas é oportuno recordar que, no
despertamento do rio da vida, cada alma somente retira a
porção de riquezas que possa utilizar proveitosamente.
Deste modo, a fé torna-se o fundamento de nossa
iluminação, permitindo-nos com lucidez e consciência
acordar as mais sublimes realizações espirituais.
Para encontrar o bem e captar a sua luz não basta
admitir-lhe a existência, é indispensável buscá-lo com
perseverança e fervor. Seja qual for a nossa
interpretação religiosa da ideia de Deus, é necessário
acentuar a confiança no bem para que possamos refletir a
sua grandeza. O bem eterno é a mesma luz para todos.
Busquemo-lo sem nos determos no mal, sustentando
permanentemente o coração nas águas vivas do bem.
Procuremos a boa parte das criaturas, das coisas e dos
sucessos que cruzam a nossa luta cotidiana. Teremos,
então, o espelho de nossa mente voltado para o bem,
incorporando-lhe os tesouros eternos e a felicidade que
nasce da fé generosa e operante, libertando-nos dos
grilhões de todo mal, de vez que o bem constante e puro
terá encontrado em nós seguro refletor.
Bibliografia:
KARDEC, Allan – O Livro dos Espíritos –
16ª edição – Editora FEESP – São Paulo/SP – questões 627
e 628 - 2015.
______________ O Evangelho segundo o
Espiritismo – 365ª edição – Editora IDE – Araras/ SP
– capítulo 8, item 20 e capítulo 19 – 2009.
XAVIER, Francisco, Cândido – Pensamento
e Vida – ditado pelo Espírito Emmanuel - 19ª edição
– Editora FEB – Brasília/DF – capítulo 6 – 2016.
PAIXÃO, Wagner – O Evangelho por
Dentro - ditado pelo Espírito Honório Abreu - 1ª
edição – Editora Itapuã – Mario Campos/MG – lição 13 –
2016.