As paixões, segundo Kardec
Allan Kardec define paixão como o excesso de um
sentimento ou de uma necessidade. Tal definição foi
apresentada pelo codificador no comentário ao item 908
de O Livro dos Espíritos:
Todas as paixões têm seu princípio num sentimento, ou
numa necessidade natural. O princípio das paixões não é,
assim, um mal, pois que assenta numa das condições
providenciais da nossa existência. A paixão propriamente
dita é a exageração de uma necessidade ou de um
sentimento. Está no excesso e não na causa e este
excesso se torna um mal, quando tem como consequência um
mal qualquer.
Algumas lições podemos extrair do pensamento de Kardec:
1- A paixão está sempre no exagero, no excesso de
condições que são naturais em nossa vida, como apreciar
algo, gostar de alguém, depender de coisas que são
fundamentais à nossa sobrevivência.
2- Em si mesma, a paixão não é um mal, mas pode
tornar-se um mal quando traz algum tipo de dano (seja
material, emocional ou espiritual) para o próprio
indivíduo ou para outras pessoas.
3- Pode-se admitir boas paixões, que podem
levar o homem à realização de grandes coisas, mas uma
paixão só será genuinamente boa se apenas produzir o
bem. Se o excesso de um sentimento produzir boas coisas
de um lado, mas como efeito colateral, coisas más, de
outro, não faz sentido considerá-lo como bom em si
mesmo.
4- Didaticamente, as paixões podem estar relacionadas a sentimentos ou necessidades.
5- Paixões como excesso de sentimentos: a paixão pelo
futebol, pelo carteado, pela política partidária, pela
religião, por parceiros, filhos etc.
6- Paixões como excesso de necessidades: gula,
dependências químicas, sexolatria, vaidade extremada,
fixação no poder etc.
Dentre todas as
consequências daninhas das paixões se destaca uma: o sequestro
da consciência. O apaixonado perde a capacidade de
ajuizar logicamente, de avaliar as coisas de forma
racional, de pensar com lucidez. Assim, não identifica
em si mesmo atitudes gravemente equivocadas, que são
óbvias para todo o mundo, mas que o pensamento
perturbado, pelo excesso do qual foi vitimado, impede
que sejam identificadas.
No combate às más paixões, seguindo o pensamento de
Kardec, podemos sugerir:
1- Identificação com um grupo de pessoas onde se cultiva
a verdade, se preza a justiça e se busca a
solidariedade:
Nessas reuniões homogêneas e simpáticas haure novas
forças morais; poder-se-ia dizer que aí recupera as
perdas fluídicas perdidas diariamente pela irradiação do
pensamento, como recupera pelos alimentos as perdas do
corpo material. R.
E. de dezembro de 1864.
2- Oração sincera:
A prece é o orvalho divino que suaviza o calor das
paixões. ESE.
Cap. 27, item 23.
3- Sintonia com os bons Espíritos
Pode o homem achar nos Espíritos eficaz assistência para
triunfar de suas paixões?
“Se o pedir a Deus e ao seu bom gênio, com sinceridade,
os bons Espíritos lhe virão certamente em auxílio,
porquanto é essa a missão deles.” - OLE
- item 910.
4- Estudo permanente da Doutrina espírita
[Um rapaz] que se iniciou no Espiritismo há apenas dois
meses, captou o seu alcance com tal rapidez que, sem
nada ter visto, o aceitou em todas as suas consequências
morais [...]; ideias, hauridas num estudo sério do
Espiritismo produziram em seu cérebro uma súbita
revolução; pareceu-lhe que um véu foi retirado de seus
olhos; a vida se lhe apresentou sob outra face. O
Poder da Vontade sobre as Paixões – R. E. de julho 1863.
5- Autocontrole, como instrumento da vontade.
Compreende a sua natureza espiritual aquele que as
procura reprimir [as paixões]. Vencê-las é, para ele,
uma vitória do Espírito sobre a matéria. OLE,
item 911.