Sobressaltados e
ressentidos
A
profusão das redes sociais teve, dentre muitas
consequências, alguns efeitos na ação de seus usuários,
e isso se aplica também ao subgrupo dos espíritas,
frequentadores assíduos desses espaços. Criou em nós
perfis sobressaltados e ressentidos. Duas
características que merecem dois dedos de prosa, neste
conturbado início de Século XXI.
A
cada notícia bombástica, com vídeos, depoimentos e cenas
chocantes. E no caso espírita, acompanhada do endosso de
mensagens psicografadas. A cada bomba dessas, ficamos
mais sobressaltados, temerosos pelo próximo desastre na
virada da esquina, permeados de medo e de desespero.
Uma
visão catastrófica do mundo, da raça humana, se instala,
em um pessimismo tão alienante quanto o otimismo da
positividade, e essa carga de medo ativa mecanismos de
defesa, profundos, que se convertem em ódio e violência
verbal, que por vezes se reflete no plano concreto, e
certamente tem efeitos na esfera dos amigos espirituais
que nos acompanham.
De
defensores da fé raciocinada e do Deus infinitamente
justo e bom, nos vemos como arautos do cataclismo, como
se não houvesse lei divina, e um Deus à frente de tudo.
Caímos na esparrela de tudo está ruim como nunca foi
antes na história da humanidade, o que nos embaça a
mente para analisar os problemas, as causas e possíveis
soluções.
Mas, não somente sobressaltados. Uma era de redes
sociais na qual cada palavra ou opinião é registrada na
lousa eterna da internet, os tribunais julgadores
rotulam pessoas, na chamada cultura do cancelamento, que
nos faz uma turba de ressentidos, magoados com ofensas
reais, mas de tempos passados.
É
verdade, essas opiniões revelam a natureza dessas
pessoas, o que gera decepção, outra prima-irmã do ódio.
Mas, nós, espíritas, que esposamos a mensagem do
evangelho, temos como um de nossos valores o perdão, no
profundo entendimento de que cada irmão é um espírito
encarnado em uma longa jornada evolutiva.
Talvez seja um convite a abandonarmos os santos de pés
de barro.
O
ressentimento insula, polariza, e nos faz focalizar o
que não é importante, esquecendo dos trabalhos para
alimentar as chamadas “tretas”, que consomem horas
infindas que poderiam ser utilizadas para o estudo
edificante e para trabalho edificante.
Por
favor, não se trata de um convite à alienação ante os
problemas da realidade. Mas, sim, que saibamos lidar com
essa realidade de forma mais inteligente e coerente com
a visão dos pressupostos contidos na doutrina espírita,
alijados das armadilhas que essas tertúlias das redes
sociais nos impõem.
De
sobressaltados e ressentidos, a resolutos e
compreensivos. Ativos e operantes na busca das melhores
lutas e dos melhores caminhos. Esse complexo e tenso
período em que vivemos demanda de nós, espíritas ou não,
uma postura mais madura diante desse cenário que se
apresenta, e parafraseando antigo adágio de nosso
movimento, é preciso “viver no mundo virtual, sem ser do
mundo virtual”, pois é na realidade da encarnação que
estão os problemas a serem enfrentados.
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