Aceitação
O tema nomeado acima veio ao encontro de reflexões que
tenho feito ao longo de minha vida a respeito de mim
mesma e do que depreendo em conversas com outras pessoas
que vivem preocupadas em demasia com os julgamentos
elaborados pelos outros a respeito de suas ações e
atitudes.
Sempre na tentativa de buscar um aperfeiçoamento
espiritual, socorro-me de leituras edificantes que podem
me ajudar a vencer as dificuldades que carrego em meu
íntimo, e, por que não, ajudar outros a se libertarem
das suas próprias.
Em uma obra intitulada, “Os Prazeres da Alma”, ditada
pelo espírito Hammed, o enfoque dado à questão é
bastante elucidativo e nos encoraja a sermos mais
confiantes e exercitarmos a autoaceitação que é, para o
autor, um dos desafios que recebemos na vida. Assim,
quando aceitamos a nós mesmos, eliminamos as amarras de
doentia dependência que nos vinculam aos outros, cujos
valores não são iguais aos nossos.
Se pautarmos a nossa existência nos preocupando com a
impressão que causamos aos outros, menos descobriremos o
que somos, acobertando nossas potencialidades,
subestimando nossos talentos e ruindo todos os esforços
que fazemos para nos situarmos no mundo. Aliás, mundo
que pertence a todos, cada qual dando o seu contributo
para a sua melhora.
Como menciona Hammed, “querer parecer impecável
diante dos outros é tarefa desgastante e desnecessária”.
O que vale e o que importa mais do que a nossa
reputação, que, em linguagem de dicionário significa o
conceito que goza uma pessoa em seu grupo social, é
estarmos apaziguados com a nossa consciência. Esta, a
consciência, está ligada à Soberania da Vida Superior,
enquanto a reputação é condicionada ao caráter instável
e temperamento vacilante dos seres humanos.
Desse modo, devemos sempre ter em mente que não somos o
que os outros pensam e, muitas vezes, nem mesmo o que
pensamos ser; mas, somos verdadeiramente, o que
sentimos. Somente os sentimentos podem revelar nosso
desempenho no passado, nossa atuação no presente e nossa
potencialidade futura.
O medo de sermos rejeitados ou não aceitos pode ser
visto como um resquício fortemente gravado no psiquismo
pelas experiências infantis ou por complexos adquiridos
em outras existências. Porque ainda não aprendemos o
autoamor, costumamos esperar as compensações e os
favores do amor alheio, permitindo um nível de
insegurança e dependência dos outros face ao excessivo
valor que depositamos no que eles pensam sobre nós.
Assim, acabamos não nos dando conta de que um julgamento
arbitrário é o “declínio do entendimento”, da empatia,
da complacência e da aceitação para com a nossa
“diversidade existencial”. E mais uma vez, cito Hammed,
quando ele diz que o julgamento é o “naufrágio da
compreensão”.
Recordemos Jesus de Nazaré que deixou claro que, para
Deus, não havia eleitos; o reino dos céus era uma
conquista comum a todos aqueles que cultivassem o amor a
Deus, ao próximo e a si mesmo. E, numa atitude incomum
para a sua época, demonstrava apreço e respeito a todos,
excluídos e discriminados, ladrões, cobradores de
impostos, adúlteros e prostitutas. De ninguém fazia
acepção ou escolha de um em detrimento do outro, o que
levou Paulo de Tarso a afirmar aos cristãos da Igreja da
Galácia: “Deus não faz acepção de pessoas” (Gálatas,
2:6).
E, para finalizar, registremos esse ensinamento que
certamente nos levará a outro modo de nos posicionarmos
na vida, sem demasiada preocupação para com o que os
outros pensam a nosso respeito: “Ao alterarmos a nossa
“visão efêmera” para uma “visão de eternidade”, mudamos
a “concepção de mundo” cartesiano e simplista em que
vivemos, modificando as conclusões equivocadas a
respeito das pessoas e da vida. O normal, o anormal, o
moral, o imoral, o natural e o não natural são
relativos, mesmo quando se trata da configuração ou da
aparência externa da matéria”.
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