Outros aspectos da dor e do sofrimento
Nota-se com relativa clareza que, de uns tempos para cá,
passou-se a enxergar a vida sob uma perspectiva mais
realista, na qual a questão do sofrimento deixou de ser
anatematizada. De fato, torna-se crescente agora a sua
aceitação à medida que certos movimentos sociais e
populares contribuem para tal. Por exemplo,
especificamente na área musical um novo gênero foi
cunhado, ou seja, o da chamada “sofrência” (neologismo
recentemente incorporado ao vernáculo).
De maneira similar, no futebol – esporte extremamente
apreciado –, os treinadores e analistas passaram a
aludir sobre a necessidade de uma equipe a também
desenvolver a capacidade de sofrer para ser bem
sucedida. Dito de outra forma, um time precisa ser capaz
de resistir às investidas do adversário para algo
conquistar. Em suma, parece que o sofrimento está
deixando de ser visto e tratado como algo mítico e/ou
abominável. Portanto, nada mais natural, já que a
realidade mostra a sua presença em todos os cantos.
Com efeito, o sofrimento e, por conseguinte, as dores de
variados matizes atingem a tudo e a todos nesse mundo.
Sendo a Terra um orbe moralmente atrasado, abriga em seu
seio considerável contingente de habitantes portadores
de profundas máculas em suas consciências. E o remédio
salutar idealizado por Deus para que os indivíduos se
redimam de seus atos tresloucados, bem como avancem
espiritualmente, é o da dor. Não é por outra razão que a
observamos de maneira onipresente afligindo às
criaturas. De fato, homens e animais igualmente sentem
os seus acicates como a lembra-los tratar-se de recurso
indispensável para que desenvolvam valores e virtudes.
Se o objetivo traçado pelo Criador para nós é a
conquista da perfeição, sem a experiência da dor e do
sofrimento então, tal desiderato não seria alcançado.
Lembra-nos, a propósito, o Espírito Joanna de Ângelis,
na obra Após a Tempestade... (psicografia de
Divaldo Pereira Franco), que “O santo e o apóstolo, o
anjo e o missionário são trabalhadores na forja ardente
do sofrimento purificador, tomando forma na bigorna e no
malho das aflições que suportam e vencem”. Alerta-nos
ainda a respeitada entidade espiritual que “... a dor e
o agravo, a angústia e o desespero são vigorosas
terapêuticas da vida para que o enfermo espiritual
inveterado se preocupe com a cura real e se volte em
definitivo para os elevados objetivos da Vida Maior, em
cujo rumo se encontra desde agora [...]”.
Depreende-se, assim, que as adversidades, os reveses e
as dores físicas e morais são etapas de aprendizado para
o nosso progresso e redenção espiritual. Desse modo, em
variados degraus haveremos de enfrentá-la para que nos
despojemos interiormente de toda e qualquer tendência
menos feliz. Assim sendo, todos os indivíduos estão
igualmente sujeitos a passar por dramas acrisoladores
que advém das dores e do sofrimento.
Posto isto, é preciso melhor entender porque trilhamos
por esse roteiro. Nesse sentido, o Espírito Druso
esclarece, na seminal obra Ação e Reação, ditada
pelo Espírito André Luiz (psicografia de Francisco
Cândido Xavier), por meio de uma taxonomia, como a dor
pode ser interpretada. Primeiramente, a ínclita entidade
reitera que se trata de um ingrediente da mais alta
relevância no capítulo da vida. Desse modo, tem-se,
segundo ele, a dor-evolução que nos acomete de
fora para dentro d’alma. Vemo-la, assim, nos animais
sacrificados para atendimento de nossas necessidades
físicas, nas crianças que a sentem no desenvolvimento da
dentição, no funcionamento de certos órgãos e nos tombos
(premonitórios de outros mais complexos a caminho).
A outra variante é a dor-expiação que enseja
experiências extremamente cáusticas para os Espíritos
infratores às leis divinas. Em muitas ocasiões, vale
ressaltar, são observáveis pelos estigmas que produzem,
assim como em situações existenciais dramáticas nas
quais a pobreza e a carência de recursos são salientes.
Por fim, a entidade alude às dores-auxílio,
vislumbradas para que nos recuperemos de certos deslizes
e fracassos adquiridos ao longo da existência em curso,
a saber: o enfarte, a trombose, o câncer e outras
doenças e enfermidades. Esses casos decorrem da prática
de determinados excessos em nosso estilo de vida, cujos
efeitos deletérios acabam se manifestando em certo
momento.
Seja como for, dificilmente passaremos pela existência
terrena sem usufruir de incômodos, aflições e
dissabores. No limitado estágio evolutivo em que nos
encontramos, esses estados são necessários para que
adquiramos equilíbrio, discernimento e força íntima. Não
sendo, portanto, possível evitá-los, é melhor, então,
compreender porque estão em nossa vida.
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