Beber socialmente. Quem você engana?
“Dirigir embriagado é brincar de roleta-russa", diz o
especialista em segurança de trânsito, David Duarte, da
UnB, em entrevista ao Correio Braziliense
As críticas que se fazem sobre os anúncios de bebidas,
especialmente da cerveja, são justas, pois esses
comerciais apresentam uma realidade que não é
verdadeira: a de que beber é saudável, de que beber é
felicidade, beber é sucesso com mulheres bonitas,
praias, encontros etc.
Os patrocinadores dizem que eles não querem ganhar novos
clientes, alegam que não estão aliciando consumidores e
sim buscando conquistar os clientes que já fazem uso de
outras marcas para a sua, oferecendo algum diferencial
na qualidade e na apresentação.
Hoje, os jovens estão experimentando mais cedo o álcool,
e os riscos do consumo de álcool na adolescência é muito
grave considerando que seu corpo e seus órgãos estão em
crescimento; terão mais chances de se tornarem
dependentes do álcool, com consequências físicas,
profissionais e sociais.
Pesquisas apontam que 26,8% dos jovens com idade entre
15 e 19 anos, no Brasil, já relataram consumo de álcool
no último ano, o que é um fator de risco para acidentes,
violências e doenças. De cada dez pessoas que começam a
beber antes dos 15 anos, seis fazem isso em festas ou
por influência dos amigos. Pesquisa feita pelo IBGE com
dez mil estudantes de ambos os sexos entre 13 e 17 anos
mostra que um a cada quatro entrevistados, já sabe o que
é ficar embriagado.
Por ser o álcool culturalmente aceito em diversas
sociedades e ser uma droga lícita, inclusive de uso em
algumas religiões, ele se destaca como a primeira causa
evitável de doenças. O álcool traz relevantes problemas
sociais, causando prejuízo nas funções laborativas, além
de gastos com emergências clínicas e psiquiátricas
decorrentes do seu uso.
Muitas pessoas dizem “eu bebo socialmente”. E
quem diz assim está enganando-se, porque social ele mente.
Você não sabe quem vai ficar dependente da droga, é um
gatilho. Só não desenvolve o alcoolismo aquele que não
prova. E muitos que dizem beber socialmente, de vez em
quando, em festa, no fim de semana, quando bebe exagera
e então começam os problemas.
Esse beber desmedido, num único dia, é chamado de binge,
e potencializa os efeitos entre os jovens, adultos e
motoristas.
É sabido que a gravidade das consequências do consumo de
álcool depende da frequência e das quantidades
consumidas. Um padrão de consumo de risco que tem
despertado interesse internacional e que nos últimos
anos começou a ser investigado no Brasil é o denominado binge
drinking (BD) ou “beber pra ficar bêbado logo”.
De acordo com Zila van der Meer Sanchez Dutenhefner,
professora da Escola Paulista de Medicina e da
Universidade Federal de São Paulo, em artigo publicado
no Cebrid – Centro Brasileiro de Informações sobre
Drogas Psicotrópicas: “Esse padrão é caracterizado pelo
consumo de, no mínimo, quatro doses de álcool em uma
única ocasião por mulheres e cinco doses por homens. Os
episódios de uso abusivo agudo de álcool não apenas têm
influência na mortalidade geral, mas contribuem para
desfechos agudos como acidentes e agressões. O BD está
associado a maiores índices de abuso sexual, tentativas
de suicídio, sexo desprotegido, gravidez indesejada,
overdose alcoólica, quedas, gastrite e pancreatite”.
Pensemos em nossa vida, em nossa saúde, no bem-estar
comum.
Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é
diretor da Editora EME.
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