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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

É missão dos pais desenvolver a inteligência espiritual dos filhos?

 

É absolutamente compreensível que os pais da atualidade, em especial aqueles mais bem-sucedidos do ponto de vista profissional e econômico, se empenhem para que os seus filhos também o sejam em suas vidas. Partindo dessa premissa básica, pode-se conjecturar que fazem todo o possível que a sua prole estude em bons colégios e faculdades. No afã de lhes proporcionar o melhor nesse particular, investem pesado para que façam cursos de línguas, aulas de reforço escolar, viagens internacionais de intercâmbio cultural e assim por diante. A ideia subjacente em todo esse esforço é que o filho(a) desenvolva a sua inteligência e se capacite para o aprendizado de inúmeras disciplinas e campos do conhecimento – pilar para o progresso na cada vez mais exigente carreira profissional, seja ela qual for.

Apesar dos contratempos na esfera do ensino gerados pela Covid-19, de maneira geral, as medidas acima continuam sendo imprescindíveis. Sem elas, é pouco provável que o indivíduo venha se destacar no competitivo mercado de trabalho. Todavia, em flagrante contraste com o passado recente, no qual o indivíduo começava de baixo numa empresa e, lentamente, galgava as promoções, hoje a dinâmica é outra muito distinta. Ou seja, o jovem contemporâneo precisa mostrar desde cedo excepcional aptidão e capacitação, sem as quais suas chances serão muito reduzidas.

Desse modo, privilegia-se o talento (a inteligência, enfim) que deve estar no mínimo em estado latente, isto é, apta para ser desenvolvida e aperfeiçoada. De certa maneira, é um jogo de cartas bem marcadas, pelo menos no que tange aos melhores empregos e oportunidades. Por sua vez, os pais se incumbem de exercer o papel de condutores deste processo como patrocinadores e/ou orientadores. Com efeito, cabe a eles a missão de lapidar os seus filhos, bem como ajudá-los a evitar, dentro do possível, fracassos desnecessários decorrentes de más decisões e escolhas.

Mas eles também podem, por exemplo, alertá-los para o imperativo de desenvolverem algo mais além da indispensável inteligência, capacitação e preparo. Nesse sentido, vale a pena formular a seguinte indagação: pode a superinteligência levar ao desenvolvimento espiritual? Essa questão foi, a propósito, discutida recentemente num interessante artigo publicado no prestigioso jornal acadêmico Religions, de autoria do ilustre Professor Dr. Ted Peters, da Graduate Theological Union dos EUA. Para ele, a nossa inteligência faz o julgamento possível. Dito de outra forma, a inteligência humana não dita que tipo de julgamento dever ser feito. Assim sendo, de acordo com ele, “A bússola moral deve ser acrescentada para se fazer sólidos julgamentos morais ou espirituais”. Concluindo o seu raciocínio, ele sugere que a manifestação da inteligência não está necessariamente estribada no pilar moral.

De fato, observa-se presentemente uma miríade de desenvolvimentos científicos e tecnológicos apoiados na inteligência artificial, por exemplo, na qual a mão humana ocupa, por assim dizer, papel-chave, mas não necessariamente voltados para o bem-estar geral. Conforme sólidas suspeitas indicam, a Covid-19 pode ter sido criada em laboratórios da China (essa história, aliás, ainda não foi suficientemente esclarecida). Seja como for, é fato que armas químicas, biológicas e mísseis supersônicos (inclusive nucleares) foram e têm sido criados/aperfeiçoados, mas divorciados do nobre propósito de ajudar a humanidade.

Segue daí, então, a conclusão de que a inteligência humana, embora tenha alcançado altos graus de desenvolvimento, continua, não raro, sendo mal empregada. Sendo essa a realidade à qual estamos todos expostos, os pais podem e devem ajudar os seus filhos desde cedo a também desenvolver a inteligência da alma, ou seja, a inteligência espiritual. Tal potencialidade tem sido associada a inúmeras virtudes tais como alegria, amor, ausência de ego, autorrealização, autotransformação, consciência, caridade, compaixão, comunidade, discernimento, empatia, fazer o bem, generosidade, gratidão, humildade, perdão, preces, preocupação com o outro, propósito, resistência, responsabilidade, sabedoria, serenidade, servir, sofrer, tolerância, transcendência, verdade, visão etc.

Posto isto, os pais podem trabalhar para incutir na mente dos filhos valores superiores, bem como orientá-los para o dever moral de jamais abandonar preocupações dessa natureza. Tais elementos formadores do caráter podem ser obtidos através dos saudáveis diálogos familiares ou exercícios práticos. (Parece insignificante, mas, definitivamente, não é, levar as crianças, por exemplo, a visitar um parente doente, a um velório ou mesmo separar objetos usados para doação.)

Creio piamente que tais esforços/iniciativas por parte dos pais fará muito bem aos filhos, particularmente na maneira como seguirão ao longo de suas vidas. No mínimo servirá de lembrança providencial nos momentos mais críticos em que o livre-arbítrio for acionado. Lembremos igualmente que os filhos também estão sujeitos a enfrentar testes morais de variada ordem. Em assim acontecendo, como curso natural da vida e da evolução do Espírito, é evidente que podem sucumbir aos apelos da matéria e, assim, acabar trilhando por caminhos ínvios. Se tal infelicidade vier a acontecer, aos pais haverá pelo menos o sentimento de consciência tranquila de tê-los orientado para o bom caminho. 


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita