Na velhice ou na doença
Grande parte das pessoas não se importa com o futuro,
nem desta vida nem da “outra”, que sequer conhece.
Concentra toda a sua energia vivendo intensamente “o que
a vida pode oferecer”, aqui e agora. Com essa entrega
quase total às preocupações materiais, reflexões
importantes ficam sem cuidado e só serão lembradas na
velhice ou na doença grave.
Uma dessas reflexões é sobre a morte. Para os que se
julgam “de bem com a vida”, essa é a última coisa em que
querem pensar. Talvez isso se deva ao modo como,
historicamente, se tem tratado a morte, sempre pintada
com cores escuras e enfeitada com os adereços do horror
e do pesar.
Mesmo sabendo que a morte nos acompanha a cada dia, não
se consegue falar dela com profundidade. Para uns é
apenas o “outro lado”, para outros o “desconhecido”.
Mesmo sendo uma questão tão natural e cotidiana, as
populações têm dela vagas intuições, e a maioria
desconhece que o modo de vida no corpo determina a
condição de vida depois da morte.
O comportamento mental impregna o corpo espiritual da
energia que predominou durante toda a existência. Por
isso o Espiritismo ensina que as pessoas
“materializadas” passam apuros depois de morrer, porque
a vida continua e com ela, tudo o que se acumulou. As
energias do prolongado contato com a matéria, criando
hábitos e vínculos mentais, “pesam” sobre o espírito,
positiva ou negativamente.
Se as religiões explicassem a morte saberíamos como
viver melhor. Mas não só elas, também a ciência menos
orgulhosa, a família mais interessada, a escola, a
universidade, juntando saberes e experiências poderiam
ajudar a dissolver o mito da morte. Sabendo-se imortais,
com a possibilidade de ir e voltar, entenderíamos que a
morte é uma porta aberta para o autoconhecimento.
Entenderíamos que a formação integral do ser humano se
dá no mundo físico e no espiritual, com plena atividade
nos dois campos.
Com essa aliança de saberes e convicções
compreenderíamos que vida e morte se revezam
continuamente por toda a natureza. E, ao invés da
desconfiança e da incredulidade, poderíamos planejar o
nosso futuro com mais segurança, dedicando cada minuto
da vida atual a somar experiências úteis também para o
lado de lá, onde não há inércia nem vazio.
Refletir sobre a morte é preparar-se através do
conhecimento. Individualmente, não precisamos que a
ciência dita oficial dê a última palavra sobre a
imortalidade da alma e seus desdobramentos, e também não
podemos esperar mais que as religiões dogmáticas
expliquem a morte.
Há milhares de páginas publicadas sobre o assunto, há
inumeráveis estudos, pesquisas e relatos de homens
sérios, não contaminados pelo orgulho científico nem
pelo primarismo dos dogmas religiosos, esperando serem
conhecidos pelos interessados.
Se procurarmos as respostas, sem medo e preconceito,
chegaremos à importante constatação de que a vida
continua sem interrupção, onde quer que estejamos – do
lado carnal ou do lado invisível –, e isso mudará tudo.
Perceberemos de imediato que o enorme esforço que se
emprega na vida material para se chegar na maioria das
vezes a resultados pífios e ilusórios, poderia ser
canalizado para a construção do nosso ideal referente ao
espírito.
Em Educação para a morte (Correio Fraterno,
1984), Herculano Pires afirma: “A necessidade de uma
tomada universal de consciência sobre o sentido, o
significado e o valor da morte tornou-se imperiosa. É
simplesmente inadmissível, neste século, qualquer
doutrina que pretenda sustentar por simples argumentos
que a morte é o fim e a frustração total dos seres vivos
e especialmente da criatura humana.”
É preciso ter uma dimensão mais exata da vida e
compreender que a morte faz parte dela.
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