A comunhão enquanto medida da distância
entre o Espírito e o Pai
Em O Evangelho
segundo o Espiritismo retiramos
importantes lições a respeito de duas virtudes ativas e
amigas da doçura: a obediência e a resignação.
A primeira consiste na
compreensão intelectiva do Espírito acerca do viés
inelutável do evento ou circunstância que se apresenta
em seu caminho, a despeito de seus projetos pessoais e
expectativas. A resignação, por sua vez, é a aceitação
pelo coração que ilumina a sua consciência sobre a
essência divina do acontecimento que lhe visita, lhe
retirando da zona de conforto; desafiando-o em suas
limitações; excitando-o em suas virtudes e convidando-o
ao bom combate.
Diz-se ativas, pois, as
suas definições abarcam implicitamente os conceitos de
trabalho, de produção e obra. Não se trata de um convite
à inércia ou ao conformismo,
mas, à conformação.
É dizer que a expectativa
de Deus em relação ao Espírito que se depara com sua
inarredável e imperiosa tribulação é a de que se lance
ao bom combate com altivez, coragem, fé e esperança,
caminhando e servindo, confiando e trabalhando.
Emmanuel na obra Palavras
de vida eterna nos
lembra que devemos “suportar com paciência os enganos do
mundo, sem nos acomodarmos com eles, certos de que é
preciso manter indefectível lealdade à aplicação dos
preceitos evangélicos a fim de que se nos renove o
entendimento.”
No jugo da carne o Espírito encarnado experencia
inúmeras oportunidades de exercer sua obediência e,
especialmente, sua resignação. Nas aflições da vida
corpórea e nos desafios de suas tribulações é chamado a
dar o seu testemunho saindo do verbo para a realização.
Em sua hora mais escura ou estando aonde a batalha é
mais acesa sente no seu âmago o chamado do Pai à
demonstração de sua lealdade.
Lealdade como nos ensina Emmanuel na obra Fonte viva:
“Lembra--te de que vives, onde te encontras, por
iniciativa do Poder Maior que nos supervisiona os
destinos e guardemos lealdade às obrigações que nos
cercam. E, agindo incessantemente na extensão do bem, no
campo de luta que a vida nos confia, esperemos por novas
decisões da Lei a nosso respeito, porque a própria Lei
nos elevará de plano e nos sublimará as atividades no
momento oportuno.”
A lealdade ao Pai nos é
reivindicada a todo momento no Evangelho, enquanto prova
de nossa fé e esperança nos teus desígnios, conferindo à
nossa aceitação ostensividade por meio de nossas ações.
O ensino se inicia com o “licenciado” antropomorfismo de
atribuir ao Incriado a ideia de Pai. A esta concepção
alia-se a informação de que este Pai é fonte de bondade
pura e amor infinito, para a partir daí o nosso Mestre
nos ensinar:
E qual o pai dentre vós
que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou,
se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? E
qual o pai dentre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe
dará uma pedra? Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um
escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas
dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial
dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?
De inquebrantável fé
raciocinada somos conclamados a confiar nos desígnios
divinos, de modo a sempre condicionarmos nossos pedidos
ao juízo justo e perfeito do Pai.
Emmanuel nos ensina ser
“(...) imperioso, em matéria de petição, rogar isso ou
aquilo ao Senhor, sempre de acordo com a Sua Vontade,
porque a vontade do Senhor inclui, invariavelmente, a
harmonia e a felicidade de nossa vida.”
Contudo, na imperfeição
do Espírito reside a leviandade de suas pretensões e a
inflexibilidade de seu juízo (recebimento) sobre as
decisões do Pai. É no endurecimento de sua recepção que
extraímos graves misérias. Mergulhados em deletéria
contrariedade renunciam à posição de filhos amorosos em
abono à indignação e rebeldia.
Na irresignação tomamos
noção da distância que nos separa de Deus.
Negligenciamos instinto basilar de adoração para,
calcados em nosso orgulho,
defendermos anormal discordância da vontade da
Perfeição.
De outro lado, a lealdade
do filho resignado o aproxima do Pai pela escolha de
compreender a se rebelar, acolhendo com o coração
vibrante a oportunidade de progresso.
Ensina-nos Allan Kardec:
Deveis considerar-vos felizes por sofrerdes, visto que
as dores deste mundo são o pagamento da dívida que as
vossas passadas faltas vos fizeram contrair; suportadas
pacientemente na Terra, essas dores vos poupam séculos
de sofrimentos na vida futura. Deveis, pois, sentir-vos
felizes por reduzir Deus a vossa dívida, permitindo que
a saldeis agora, o que vos garantirá a tranquilidade no
porvir.
Por essa razão a maior ou menor comunhão dos Espíritos
encarnados com os desígnios celestiais é a medida exata
de sua distância em relação a Deus. Somente na certeza
de que a vontade divina é mais sábia e misericordiosa do
que o capricho próprio é que encurtamos a lonjura que
estamos Dele.
Referências bibliográficas:
DE CAMPOS, Humberto (Espírito). Boa
Nova. Psicografado por Francisco Cândido Xavier.
Brasília: FEB, 2020.
DIAS, Haroldo Dutra (Trad.), 1971- O
novo testamento, tradução de Haroldo Dutra Dias. –
1. ed. – 11. imp. – Brasília: FEB, 2020.
EMMANUEL (Espírito). Palavras de vida
eterna. Psicografado por Francisco Cândido Xavier.
Uberaba: Edição CEC, 1998.
EMMANUEL (Espírito). Fonte viva. Psicografado
por Francisco Cândido Xavier. Rio de Janeiro: FEB, 2000.
EMMANUEL (Espírito). Segue-me!... Psicografado
por Francisco Cândido Xavier. Matão: O Clarim, 2012.
EMMANUEL (Espírito). Vinha de luz.
Psicografado por Francisco Cândido Xavier. Brasília:
FEB, 2019.
KARDEC Allan. O Evangelho segundo o
Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. Brasília: FEB,
2018. P. 316.
Sandro Drumond Brandão é dirigente do Centro Espírita
Santo Agostinho, de Belo Horizonte (MG)
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