Nem toda criança gosta de abraçar e
beijar
É dos sonhos que nasce a inteligência. É preciso escutar
as crianças para que a sua inteligência desabroche.
Rubem Alves
Mariana Silva, 5 anos, até pouco tempo tinha um hábito
que deixava a mãe constrangida. Toda vez que alguém ia
abraçá-la ou beijá-la, ela se afastava. E ainda: tinha
vezes que fazia expressão de nojo e choramingava
irritada. “Eu morria de vergonha”, conta Beatriz Silva.
Com o tempo, e depois de muita conversa, ela aprendeu a
falar que não queria abraço ou beijo.
Quem falou que somos obrigados a abraçar e beijar? O
nojo muitas vezes é apenas uma forma de a criança
defender-se, pois nem todo mundo aprecia contato físico.
Aprendi que há outras formas de educar uma criança com
as visitas – parentes ou amigos – e sem a necessidade de
toque. Por exemplo, ela pode sorrir, dizer um “olá”,
acenar com a mão, dar tchau. Até porque é um direito da
pessoa, e desde pequena, não se sentir à vontade para
beijar a tia ou a amiga da mãe.
O que não faz sentido? Não respeitar o filho e forçá-lo
a abraçar ou beijar o avô. O mais sensato é sempre
consultar a criança (“filha, você quer dar um abraço na
tia?”) e deixar os adultos avisados de que o cumprimento
pode, ou não, ocorrer.
Antes de sair de casa é importante conversar com os
filhos sobre a possibilidade de receber beijos e
abraços. Se eles enfatizarem a recusa ao gesto, melhor
dizer que a criança não gosta, evitando constranger-se
quando a criança limpar o rosto ou fazer expressão de
nojo na frente da pessoa que a beijou.
As pessoas são diferentes. A criança pode negar-se a dar
beijos ou abraços por diversos motivos. Pode ser que
seja uma criança tímida que sinta vergonha e incômodo em
interagir com outras pessoas, também é possível que não
lhe agrade simplesmente ter contato físico com pessoas.
Façamos uma pequena reflexão: como você se sentiria se o
obrigassem a beijar ou abraçar alguém sem querer
fazê-lo? Certamente isso seria um incômodo e entenderia
que não estão respeitando suas decisões, não é verdade?
Com as crianças acontece exatamente o mesmo.
É comum e muito antieducativo ouvir dos adultos frases
como ‘se não me der um beijo, eu vou ficar muito
triste’, ‘se não me der um beijo é porque não me ama’,
‘se não me beijar eu vou chorar’, ‘dê um beijo na sua
avó porque senão ela ficara muito triste’ etc. Ora,
devemos evitar manipular as crianças e, quanto ao toque,
respeitar suas decisões, ou seja, a maneira como elas
escolham com quem querem ter contato físico e com quem
não.
Notinhas
Beijar ou abraçar não deve ser uma obrigação! Não há que
obrigar as crianças a dar beijos ou abraços a outras
pessoas se elas não quiserem fazê-lo. As crianças têm
que se sentir livres para beijar alguém a quem amam e
quando quiserem.
Não se alarme se o seu filho se nega a dar um beijo ou
abraço em outra pessoa. O mais recomendável é agir com
normalidade e não insistir para que o faça.