Em tudo é o
mesmo suor
“Com o suor
do teu rosto
comerás o teu
pão.”
Gênesis 3:19
Workaholic,
Burnout,
assédio,
condições
análogas à
escravidão,
teletrabalho,
colaborador,
uberização,
empreendedor,
desemprego... a
gramática do
mundo do
trabalho do
século XXI é
permeada de
novas roupagens
para velhos
conceitos,
alguns destes,
inclusive, que
deturpam a
essência do
trabalho, a
faculdade do
espírito que
mais o aproxima
do criador.
Realização,
prazer,
utilidade, bem
comum, sustento,
aprendizado,
lazer...outras
expressões que
deveriam
aparecer mais no
mundo do
trabalho, mas a
despeito de toda
a tecnologia que
nos cerca, nosso
meio de vida
continua sendo
uma das fontes
de sofrimento
para o espírito
encarnado, pelo
excesso, pela
falta ou pela
alienação no seu
desempenho.
O fato de o
trabalho ser um
valor universal,
algo
eminentemente
positivo, não
faz dele uma
questão
acrítica. O
equilíbrio
nessas relações,
entre empregados
e entre
empregadores, os
excessos, o
desrespeito, e
toda uma gama de
distorções, são
pontos de pauta,
como lições de
uma vida melhor,
a luz da lei de
justiça, amor e
caridade.
Dado que o
trabalho é tão
importante, em
especial na
visão comungada
por nós,
espíritas, os
seus limites e
desvios também
devem ser objeto
de nossas
discussões. Não
nos aspectos
legislativos ou
políticas dessas
relações, que
guardam fóruns
específicos para
tal, mas no
sentido dos
papeis
reencarnatórios
que ocupamos
nessas relações,
e de que somos
sim,
responsáveis
pelo bem ou pelo
mal que
propiciamos
nessa seara.
A nossa maior
vergonha
histórica, a
escravidão,
tratada de forma
relevante nas
questões 829 a
832 de O livro
dos espíritos,
ainda se
apresenta,
passado tanto
tempo, em formas
sutis de
submissão, de
tratamento
desumano, onde
se morre pelo
trabalho, como
resquício
daquele suor que
ainda escorre
hoje em dia nas
frontes
cansadas.
A escravidão,
nas suas
diversas
derivações
modernas, como o
tráfico de
mulheres, o
trabalho
infantil, o
trabalho para
pagar dívidas
infinitas, bem
como o trabalho
desregulado e
desamparado, são
questões que
afetam o tecido
social, em
especial
daqueles mais
vulneráveis, e
merecem seu
espaço de
reflexão como
espíritas e como
cidadãos.
O trabalho, como
dever, tem seus
limites, como
lembra a questão
683 da obra já
citada. Não
vivemos para o
trabalho, mas
este sim é a
fonte de uma
vida melhor,
seja pelo
aspecto
material, seja
pela construção
de relações e de
realidades. O
trabalho está no
contexto da
encarnação, mas
não é a sua
finalidade.
Mesmo o trabalho
no bem, tão
importante para
nós, não é um
fim, e sim um
meio de nossa
evolução.
No que se refere
ao trabalho,
além de um
sentido amplo,
entendido como a
ação do espírito
para modificar a
sua realidade,
no emprego de
suas forças,
existe o
significado mais
utilizado,
aquele do ganha
pão, do
sustento, que
pode ser objeto
de exploração de
quem nos
emprega, mas
também pode ser
força hipnótica
que nos cega
pelas águas da
ambição.
A sanha de
ganhar mais, de
se ter mais, de
destaque, de
holofotes, pode
nos conduzir a
outras formas de
escravidão, na
qual nos
tornamos
prisioneiros de
um modo de vida.
Claro que a
excelência
profissional, a
qualidade das
entregas, o
desenvolvimento
na carreira são
valores que nos
trazem
realização e
felicidade. Para
nós, para os que
nos cercam e
para a
sociedade. Mas,
como tudo,
demanda
equilíbrio em
relação as
outras dimensões
da nossa vida.
O suor que nos
dá o sustento,
que propicia a
realização de
tantas coisas
boas na
humanidade, é o
mesmo que
patrocina
situações
deploráveis, do
homem em relação
ao próprio
homem, ou ainda,
das suas
próprias jaulas
mentais que ele
mesmo constrói
em sonhos de
transitoriedade.
Ao fim da
encarnação, no
país da luz, o
trabalho
continuará sendo
um valor, um
meio de
progresso, mas
os pressupostos
que o qualificam
são diferentes
da realidade que
ainda temos no
plano material.
Uma visão mais
alargada de uma
vida que
prossegue, e que
torna esse
trabalho, como
valor, algo a
ser pensado hoje
nesse contexto
do mais além.