Em nossa pesquisa, publicada no livro As Colônias Espirituais e a
Codificação, encontramos mais obras que trazem informações de construções no
plano espiritual, bem anteriores à literatura André Luiz:
As obras dessa lista fazem parte das 39 fontes nas quais há referências à
construções no plano espiritual.
Número significativo, considerando que em relação à elaboração do conteúdo da
primeira edição de O Livro dos Espíritos o Codificador literalmente
disse: “[…] Foi assim que mais de dez médiuns prestaram concurso a este
trabalho” ([1]).
Nas obras da Codificação
Inicialmente, é importante citarmos dois pontos, sobre os quais o horizonte do
entendimento irá se descortinar, pois tornará mais clara a questão:
1º) Mundos transitórios
Passa despercebido a muita gente a existência desses mundos. Segundo conta das
questões 234 a 236 de O Livro dos Espíritos, a superfície deles é estéril
e servem de habitação a Espíritos desencarnados, como dito são “lugares em que
possam repousar de uma erraticidade demasiado longa” ([2]).
Essa condição é temporária, pois não se conservam perpetuamente destinados aos
Espíritos errante. Então, aqui temos “lugares circunscritos” ou estamos indo
longe demais?
2º) Mundo visível que nos é invisível
Na Revista Espírita 1858, mês de março, temos o artigo “Júpiter e
alguns outros mundos”, do qual tomaremos estes três parágrafos:
De todos os planetas, o mais avançado, sob todos os aspectos, é Júpiter.
Ali, é o reino exclusivo do bem e da justiça, porque não há senão bons
Espíritos. Pode-se fazer um ideia do feliz estado dos seus habitantes
pelo quadro que demos do mundo habitado sem a participação dos Espíritos da
segunda ordem.
A superioridade de Júpiter não
está somente no estado moral dos seus habitantes; está, também, na sua
constituição física. Eis a descrição que nos foi dada, desse mundo
privilegiado, onde encontramos a maioria dos homens de bem que honraram nossa
Terra pelas suas virtudes e seus talentos.
A conformação dos corpos é quase a mesma desse mundo, mas é menos material,
menos denso e de uma maior leveza específica.
Ao passo que rastejamos penosamente na Terra, o habitante de Júpiter se
transporta, de um lugar para outro, roçando a superfície do solo, quase sem
fadiga, como o pássaro no ar ou o peixe na água. Sendo a matéria, da qual o
corpo está formado, mais depurada, ela se dissipa, depois da morte, sem ser
submetida à decomposição pútrida. Ali não existe a maioria das enfermidades
que nos afligem, sobretudo aquelas que têm sua fonte nos excessos de todos
os gêneros e na desordem causada pelas paixões. A alimentação está em relação
com essa organização etérea; não seria bastante substanciosa para os nossos
estômagos grosseiros, e a nossa seria muito pesada para eles; ela se compõe de
frutas e plantas, e, aliás, haurem, de algum modo, a maior parte do meio
ambiente do qual aspiram as emanações nutritivas. A duração da vida é,
proporcionalmente, muito maior que sobre a Terra; a média equivale a cinco dos
nossos séculos. O desenvolvimento também é muito mais rápido, e a infância
dura apenas alguns de nossos meses.
Sob esse envoltório leve, os Espíritos se desligam facilmente e entram em
comunicação recíproca unicamente pelo pensamento, sem excluir, todavia, a
linguagem articulada; […].
Os animais não estão excluídos desse estado progressivo,
sem se aproximarem, entretanto, do homem, mesmo sob o aspecto físico; seus
corpos, mais materiais ligam-se ao solo, como nós à Terra. Sua inteligência é
mais desenvolvida do que nos nossos; a estrutura dos seus membros se dobra a
todas exigências do trabalho; são encarregados da execução de obras manuais;
são os servidores e os operários: as ocupações dos homens são puramente
intelectuais. O homem é, para eles, uma divindade, mas uma divindade tutelar que
jamais abusa do seu poder para oprimi-los. ([3])
(itálico do original, negrito nosso)
Para a ciência humana o planeta Júpiter não é habitado. Estariam os Espíritos
equivocados ao tê-lo como tal? Allan Kardec, por sua vez, se deixou enganar?
Curioso é o fato dos que negam a existência de colônias espirituais também não
questionarem a habitabilidade de Júpiter, especialmente por se tratar de um
planeta gasoso.
Vejamos agora estes três relatos mais objetivos quanto ao tema:
1º) Revista Espírita 1859, mês de setembro.
Do artigo “Confissão de Voltaire”, o nobre iluminista francês, na condição de
desencarnado, entre outras coisas, disse:
Foi, eu o digo, zombador e desconfiado que abordei o mundo espírita. Primeiro fui
conduzido para longe das habitações dos Espíritos, e percorri o espaço
imenso. Em seguida, me foi permitido lançar os olhos sobre as construções
maravilhosas das moradas espíritas e, com efeito, elas me pareceram
surpreendentes; fui impelido, aqui e ali, por uma força irresistível; tive
que ver, e ver até que minha alma transbordasse pelos esplendores, e
derrotada diante do poder que controlava tais maravilhas. Enfim, quis me
esconder e me agachar no oco das rochas, mas não pude. ([4])
(grifo nosso)
Segue-se, em nota, alguns comentários de Allan Kardec, dos quais destacamos o
seguinte trecho: “[…] Nunca talvez um quadro mais grandioso e mais
impressionante foi dado do mundo espírita, e da influência das ideias terrestres
sobre as ideias de além-túmulo. […].” ([5])
2º) Revista Espírita 1865, mês de maio.
Mensagem “Sobre as criações fluídicas” assinada por Mesmer:
O mundo dos invisíveis é como o vosso;
em lugar de ser material e grosseiro, é fluídico, etéreo, […].
O mundo dos Espíritos não é o reflexo do vosso; é o vosso que é uma grosseira e
muito imperfeita imagem do reino de além-túmulo. ([6])
(itálico do original, negrito nosso)
Mais claro que isso é impossível. Então, por que a resistência?
3º) O Céu e o Inferno, Segunda parte, cap. II – Espíritos Felizes,
Condessa Paula.
Allan Kardec após destacar as qualidades morais, informando que a Condessa havia
falecido aos 36 anos de idade, no ano de 1851, relata que “um de seus parentes,
evocou-a doze anos depois de falecida, e obteve, em resposta a diversas
perguntas, a seguinte comunicação”:
[…] O que é, no entanto, essa felicidade comparada à que desfruto aqui?
Esplêndidas festas terrenas em que se ostentam os mais ricos paramentos, o que
são elas comparadas a estas assembleias de Espíritos resplendentes de brilho que
as vossas vistas não suportariam, brilho que é o apanágio da sua pureza? Os
vossos palácios de dourados salões, que são eles comparados a estas moradas
aéreas, vastas regiões do Espaço matizadas de cores que obumbrariam o arco-íris? Os
vossos passeios, a contados passos nos parques, a que se reduzem, comparados aos
percursos da imensidade, mais céleres que o raio? E o que dizer desses
horizontes nebulosos e limitados, que são, comparados ao espetáculo de
mundos a moverem-se no Universo infinito ao influxo do Altíssimo? E como são
monótonos os vossos concertos mais harmoniosos em relação à suave melodia
que faz vibrar os fluidos do éter e todas as fibras d'alma! E como são
tristes e insípidas as vossas maiores alegrias comparadas à sensação
inefável de felicidade que nos satura todo o ser como um eflúvio benéfico, sem
mescla de inquietação, de apreensão, de sofrimento?! Aqui, tudo ressumbra amor,
confiança, sinceridade: por toda parte corações amantes, amigos por toda parte!
[…]. ([7])
(grifo nosso)
Eis a afirmação clara e objetiva da existência de “moradas aéreas”.
Conclusão
Sinceramente ficamos surpreendidos com os espíritas que negam a existência das
colônias, entendidas, como construções no mundo espiritual. Como bem disse
Herculano Pires o detalhamento delas oferecido por André Luiz é a maneira dele
as ver, porém, não faz sentido nenhum negá-las diante de tudo que, na
atualidade, podemos encontrar a respeito delas.
Ficamos muito preocupados com os amigos expositores que vêm a público dizer o
contrário, pois estão se expondo como pesquisadores de superfície, demonstrando
que não foram ao fundo da questão, situação em que a existência delas é
inegável.
Referências bibliográficas:
KARDEC, A. O Céu e o Inferno. Brasília: FEB, 2013.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Brasília: FEB, 2013.
KARDEC, A. Revista Espírita 1858. Araras (SP): IDE, 2001.
KARDEC, A. Revista Espírita 1859. Araras (SP): IDE, 1993.
KARDEC, A. Revista Espírita 1865. Araras (SP): IDE, 2000.
KARDEC, A. Revista Espírita 1867. Araras (SP): IDE, 1999.
PIRES, J. H. O Infinito e o Finito. São Bernardo do Campo
(SP): Correio Fraterno, 1983.
SILVA NETO SOBRINHO, P. As Colônias Espirituais e a
Codificação. Divinópolis (MG): Ethos Editora, 2015.
MICHAELIS, Circunscrito, disponível em: Link-1.
Acesso em 16 abr. 2022.