Entrevista

por Orson Peter Carrara

Um olhar direto à divulgação, preocupação constante da ABRADE

Natural de Remígio e residindo em João Pessoa, ambos municípios da Paraíba, Marcelo Firmino Dias (foto) é bancário e possui Mestrado em Administração. Palestrante e atual presidente da ABRADE – Associação Brasileira dos Divulgadores do Espiritismo, ele atua também junto à ADE-PB, à Federativa Estadual e à UEDAC – União Espírita Deus, Amor e Caridade. Para falar-nos acerca de sua experiência nas lides espíritas, ele nos concedeu gentilmente a entrevista seguinte:


Considera que, com no contato com o Espiritismo, no início de sua juventude, isso trouxe-lhe transformação no entendimento da própria vida? Qual o ponto que mais lhe chamou atenção de início?

Ingressei muito jovem na Juventude Espírita da UEDAC, aos 16 anos, portanto, tive a alegria de apreender os primeiros conhecimentos espíritas em plena juventude, idade onde a dinâmica física encontra-se em plena capacidade de assimilação do mundo. Foi renovador e dinâmico, colocando minha alma em ebulição, a mente desperta em busca das revelações novas que surgiam a cada reunião na Casa Espírita ou em cada leitura. Senti grande identificação com os ensinos espíritas, tranquilizando-me quanto ao futuro e acontecimentos passados que interferem na vida presente. Os estudos e as atividades de caridade desenvolvidas na UEDAC me envolveram e dominaram minha atenção desde as primeiras horas. Cuidar da alma e do corpo, com solidariedade e amor.

E agora, na maturidade, olhando no retrovisor do tempo, como analisa esses benefícios todos?

No primeiro momento fui tomado de uma certa pressa em aprender e vivenciar cada lição, compreendendo em seguida que o estudo e a prática demandam tempo necessário à produção de cada fruto. A pressa deu lugar ao trabalho e à observação regular, empreendendo obra interna de renovação e persistência, mitigando dia após dia os medos e os impulsos que fragilizam nossa condição espiritual. Entendi que a perfeição é nosso destino e nosso plano mais importante, embora sendo obra de Deus, no tempo, é nosso compromisso diário na conquista dos valores e crenças duradouras de elevação e otimismo, aproveitando cada momento do caminho, ladeados pelas almas amigas ou não, que avançam na estrada da Vida.

E seu envolvimento com a divulgação espírita, como surgiu?

Já na UEDAC, na MEBEM – Mocidade Espírita Bezerra de Menezes, assumi como Editor do Jornal Espírita da Juventude da Casa, O VAGALUME, incrementando a qualidade gráfica e aumentando a participação dos jovens, noticiando e entrevistando, dinamizando as páginas que os seus fundadores, de forma pioneira, lançavam ao conhecimento da Juventude Espírita. Desde então, temos focado o estudo em grupo, promoção de eventos e encontros, além da capacitação de monitores, facilitadores e divulgadores, na propagação das ideias espíritas. Desde 1997 ingressei na ADEPB – Associação de Divulgadores do Espiritismo na Paraíba e, por consequência, na ABRADE, onde também fui Diretor de Tecnologias de Comunicação, fazendo algumas edições do CURSO DE ORATÓRIA através de grupos virtuais que se comunicavam via e-mail, entre 2000 a 2006. Até hoje permaneço engajado e atuando nesses segmentos do Movimento Espírita.

Atualmente presidindo a ABRADE, compacte para o leitor as informações principais dessa entidade

Associação Brasileira de Divulgadores do Espiritismo, abreviadamente ABRADE, é uma associação civil, espírita, de caráter cultural, sem fins lucrativos, por prazo de duração indeterminado, com sede e foro onde estiver sendo exercida a presidência da Diretoria Executiva. A ABRADE originou-se e é sucessora da antiga ABRAJEE – Associação Brasileira de Jornalistas e Escritores Espíritas, fundada em 1976. O 1° CONBRAJEE, presidido por Deolindo Amorim, foi realizado em 1939. Em 1995, em Assembleia Geral, a ABRAJEE foi transformada em ABRADE, com o objetivo de ampliar o alcance e a mobilização dos comunicadores e divulgadores. Em 1997 a ABRADE realizou o 10º CONBRAJEE e o 1º CONBRADE, simultaneamente. Em 2007 realizamos o 2º CONBRADE, em João Pessoa/PB. Temos planos de realizar o 11º CONBRAJEE e 3º CONBRADE, também simultaneamente, em breve.

ABRADE possui como missão “promover e aprimorar a comunicação social espírita, fazendo interagir as ideias espíritas na sociedade de forma ética, fraterna e parceira, contribuindo para a transformação moral da humanidade, a promoção da felicidade do ser humano e o equilíbrio da natureza”. 

Entre os seus principais objetivos, podemos destacar a busca contínua da excelência na comunicação social espírita (CSE), bem como uma ampla interação com a sociedade em geral.

ABRADE não alimenta qualquer tipo de discriminação.

ABRADE se propõe atuar em várias áreas. Do seu Plano Estratégico, podemos destacar as seguintes ações: Disseminar uma proposta de PCSE - Política de Comunicação Social Espírita; aprimorar e viabilizar as metodologias e tecnologias de comunicação; participar de congressos, seminários, fóruns e demais eventos, intercambiando as ideias espíritas com todos os demais segmentos da sociedade; divulgar o movimento alteridade; promover e participar de cursos; realizar parcerias e convênios com outras Organizações;

apoiar e interagir com as Associações de Divulgadores do Espiritismo (ADEs) estaduais e municipais, bem como com as demais instituições similares; atuar de forma fraterna, democrática, ampla e autônoma no meio espírita. 

Contamos com todos nesta caminhada, pois acreditamos que ninguém será feliz sozinho ou rodeado por poucos. Venha, participe conosco, pois todos unidos, sem qualquer discriminação, construiremos uma sociedade mais justa e fraterna.

O que considera mais importante para o divulgador espírita?

Consideramos como impactante a vivência dos princípios espíritas pelo Divulgador Espírita, no seu papel como Dirigente, Palestrante, Facilitador, Monitor de estudos, Médium ou no campo das mídias sociais, jornais, Rádio e Televisão, entre outras. O Divulgador será sempre o maior estandarte da divulgação espírita. Para isso, não deve tentar aparentar perfeição que não possua, mas precisa ter conduta pautada nas Leis humanas, como qualquer cidadão, demonstrando, além disso, compromisso com os princípios espíritas que abraça, empreendendo esforço contínuo de aprimoramento pessoal. Para isso precisa manter os estudos sempre em dia e, ao ingressar em segmento de comunicação e divulgação específico, procurar dominar as ferramentas e técnicas disponíveis para, mesmo na condição de aprendiz, oferecer o seu melhor contributo em favor da Causa Espírita.

Em termos de estratégia para uma eficiente divulgação espírita, o que destaca?

É fundamental aumentar o uso da capacidade estrutural e logística instaladas pelo Brasil e mundo afora. Temos milhares de instituições espíritas com sede própria que utilizam suas dependências apenas no fim de semana, cujos auditórios são utilizados uma ou duas vezes por semana, isso é desperdício de talentos oferecidos pelo Senhor da Vida e dos Mundos. É preciso multiplicar esses talentos e disponibilizar mais oportunidades de interação com a comunidade do entorno da Casa Espírita, adotando todas as ações ao alcance para chegar aos lares e corações residentes no Bairro onde o Centro Espírita esteja funcionando, principalmente, esse deve ser o público almejado por cada Centro Espírita, mesmo com as facilidades das mídias e eventos virtuais.

É preciso que as casas espíritas se multipliquem na estratégia apontada por Kardec: “é melhor ter muitos centros espíritas pequenos que um centro espírita grande” (transcrição não literal). É muito importante constar no Estatuto da Casa Espírita que o seu patrimônio deve ser, obrigatoriamente, destinado à Causa Espírita e que a alteração dessa finalidade somente possa ocorrer com anuência expressa da Federativa Espírita ou Associação Espírita Estadual, mesmo em casos de dissolução ou encerramento das atividades. São cuidados importantes nos dias que vivemos.

As associações e federativas melhor estruturadas financeiramente devem focar os meios de comunicação de massa e artes, como a TV Aberta e por assinatura, o cinema e teatro. Esses são campos ainda pouco explorados e que precisam de mais atenção por parte dessas associações e federativas.

Pela experiência da ABRADE, nesses anos todos de atuação, o que a entidade indica ou recomenda para o comunicador espírita, em termos de cumprimento da nobre tarefa da divulgação espírita?

Em continuidade à resposta da pergunta anterior, o Comunicador Espírita precisa apresentar projetos viáveis às associações e federativas, desde pedidos de patrocínios para seus projetos de comunicação espírita ao trabalho voluntário nas associações e federativas. Há também milhares de casas espíritas sem pessoas para designar no Departamento de CSE – Comunicação Social Espírita, precisamos de jornalistas, radialistas, técnicos em mídias, demais comunicadores voluntários para ajudar nessa área, cuja tarefa vai impactar a atuação de toda a Casa Espírita. As mídias sociais e a facilidade de produção de conteúdos, atualmente, são filões de preciosas oportunidades aguardando mãos capazes de multiplicar a Boa Nova que o Espiritismo oferece.

De sua vivência pessoal espírita, como enxerga as distorções variadas que atingem o real entendimento da proposta espírita?

Em relação ao que chamarmos de Realidade, até mesmo a Ciência descobre, rotineiramente, que existiam e existem distorções de entendimento em seus postulados, daí que, todos os dias, milhares de pesquisadores publicam artigos, monografias, dissertações e teses novas, revelando algo novo ou compreensões diversas das existentes. Contudo, obedecem a um Método Científico de Pesquisa, não são opiniões pessoais. Posteriormente, o consenso científico oferece, dia a dia, um conjunto de informações que se tornam referência para a Sociedade. Assim também devemos pautar o estudo e a pesquisa espírita, com método, transparência e publicidade das opiniões.

As distorções no entendimento da Ciência, da Filosofia ou da Religião, são processos de aprendizagem que remontam à origem da humanidade. Evidente que divergir é um exercício de liberdade valoroso e que precisa ser respeitado. Mas, se perceber que é feito com leviandade ou por interesses pessoais, melhor ocupar-se de seguir adiante, buscando melhores referências e propósitos mais nobres. E aqui vai um alerta importante: Bom senso e equilíbrio em tudo, para não perder a oportunidade de aprender sempre.

O que se tem de mais valioso na construção da Codificação Espírita é o método utilizado por Allan Kardec na separação do joio e do trigo das comunicações mediúnicas e opiniões dos estudiosos de seu tempo. Cuidemos de atualizar nossas opiniões com método e humildade, para comparar sem preconceitos e sem medo de aprender, desaprender e continuar aprendendo.

Sendo a distorção uma forma legítima de ver e compreender a realidade, nada mais natural que interagir para crescer juntos, com fraternidade e caridade, construindo entendimentos mútuos.

Já a distorção criminosa de fatos e informações deve ser percebida e tratada como fakenews, adotando-se as providências cabíveis a cada caso, em razão da gravidade que a situação exija.

Algo mais que gostaria de acrescentar?

Precisamos relembrar nesses tempos de facilidades virtuais a assertiva do nosso Codificador, Allan Kardec:

- “Quando as crenças espíritas estiverem vulgarizadas, quando forem aceitas pelas massas, — o que, a julgar pela rapidez com que se propagam, não estaria muito longe, — dar-se-á com elas o que se tem dado com todas as ideias novas que encontraram oposição: os sábios se renderão à evidência”.  (INTRODUÇÃO - Item VII de O Livro dos Espíritos)

- “Do ponto de vista da ciência espírita, ela nos faz penetrar mais adiante o mistério da constituição íntima do mundo invisível, cujas leis conhecidas confirma, ao mesmo tempo que nos mostra suas novas aplicações. Ela ajudará a compreender certos fenômenos ainda incompreendidos da vida diária e, por sua vulgarização, não deixará de abrir novo caminho à propagação do Espiritismo”. (Revista Espírita, 12/dez/1868)

Como se vê, Kardec reconhece, destaca e valoriza essa tarefa de vulgarizar, ou seja, tornar comum ou popularizar as ideias e crenças espíritas, o que implica alcançar os lares e corações humanos, nas palavras do Codificador Allan Kardec: serem “aceitas pelas massas”. Por mais rigoroso que seja o olhar dos espíritas sobre como as ideias espíritas são propagadas nos meios não espíritas, foram as novelas, o cinema, a TV e as mídias sociais que melhor cumpriram esse desiderato de vulgarizá-las, inclusive por ações de produtores que nem espíritas eram. Afinal, acreditar na vida após a morte, na existência dos espíritos ou almas, na possibilidade de retomar outro corpo pela reencarnação, não implica ver essas dimensões conceituais e filosóficas com a compreensão que nós espíritas adotamos.

E aí nos cabe tarefa relevante na comunicação e divulgação do Espiritismo: qualificar esse debate na Sociedade, por todos os meios, agregando o saber espírita, dando subsídios valiosos a esses produtores e debatedores não espíritas, sem imposição, mas nos responsabilizando por fazermos nós mesmos o melhor que pudermos, em nossas associações e casas espíritas.

Suas palavras finais.

Quero agradecer o convite e a oportunidade de conversar e interagir com o amigo e seus leitores. E, pessoalmente, reconhecer Chico Xavier como o maior comunicador espírita do século XX, sem demérito aos demais, não apenas pela comunicação entre os dois mundos, fruto da mediunidade de que era portador, mas também por seu exemplo de vida e sua atuação na mídia, notadamente durante o “PINGA FOGO”, na extinta TV Tupi. Naquele momento podemos dizer que há um Chico Xavier antes e outro depois desse Programa de TV, de alcance nacional, inclusive pelo impacto na ampliação e estruturação do Movimento Espírita Brasileiro e Mundial, atraindo novos adeptos e estudiosos em diferentes segmentos da sociedade. Sua atuação contribuiu para um rápido crescimento do Movimento Espírita e suas obras psicografadas persistem atraindo multidões de leitores e pesquisadores. Sua vida e obra vem sendo adaptadas para o cinema, como o Livro “Nosso Lar”, visto por mais de 4 milhões de pessoas, um fenômeno entre os filmes de maior público do cinema brasileiro.

Neste momento, o Livro “Os Mensageiros” também encontra-se em gravação como “NOSSO LAR 2” e promete repetir o mesmo sucesso de público.

São caminhos para a popularização das ideias espíritas, como previa o Codificador Allan Kardec. Aos poucos a mensagem espírita vai se tornando lugar comum entre os círculos acadêmicos e populares da vida em sociedade.

A ABRADE se coloca à disposição de todos por meio de seu canal no Youtube, página no Facebook e Instagram. ABRADE COMUNICAÇÃO – ABRADE ESPIRITISMO.


 

 

     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita