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por Ricardo Orestes Forni

 

Aceitação do que somos


“Hoje, eu só posso o que sou. E isso é bom. Isso é permitido. Isso é humano!” – Livro Pensamentos Que Ajudam.


Utilizaremos neste artigo uma excelente página (mais uma!) do doutor José Carlos de Lucca no sentido de entendermos o progresso lento da evolução, para que não venhamos a cair no desânimo em relação a nós mesmos, tendo como consequência a desistência de lutar para crescermos em nossa jornada evolutiva.

Quando lemos na questão de número 909 de O Livro Dos Espíritos que poderíamos vencer as nossas más tendências com fracos esforços, faltando-nos para isso apenas a dose necessária de vontade, pode parecer que é muito fácil mudar para melhor.

Ao constatarmos que não conseguimos, é de grande utilidade buscar no livro do doutor José Carlos, Pensamentos Que Ajudam, editora Interlítera, a seguinte colocação: Quase todos nós alimentamos uma forte sensação de autorrejeição, por não sermos aquela pessoa perfeita que gostaríamos de ser. E isso nos deixa constantemente frustrados e inseguros, sem que o amor possa nos propiciar uma experiência mais feliz de viver.

É preciso, nessas ocasiões, não perdermos de vista e dosar corajosamente a quantidade de orgulho que nos perpassa o ser quando almejamos mudanças rápidas. Será que é nosso interior que faz essa reinvindicação para transformar o homem velho em homem novo, ou é o nosso exterior no sentido de nos apresentarmos com muitas virtudes perante aqueles que convivem conosco e observam nosso comportamento?

A questão de número 911 do L.E. reforça a de número anterior mencionada (909) quando Kardec indaga se não existem paixões tão vivas e irresistíveis que a vontade não tenha poder para superá-las, porque os Espíritos da Codificação afirmam que a vontade está apenas nos lábios e que, na realidade, estamos bem contentes que assim não seja.

Essa colocação nos lembra a lição que Chico Xavier nos deixou ao ensinar que a tentação era algo da qual corríamos, mas com uma grande vontade de sermos alcançados por ela.

Quando se crê não poder vencer suas paixões, é que o Espírito nelas se compraz em consequência de sua inferioridade, completa a questão de número 911.

O maior exemplo de reforma íntima na história do cristianismo foi de Maria Madalena. Ela realmente buscava uma mudança interior por entender que somente assim conseguiria aplacar a sede imensa de ser realmente feliz. Não podemos ter a pretensão de ter a mesma força dessa grande vencedora de si mesma. Há quanto tempo ela vinha em profundo sofrimento que trabalhava seu mundo íntimo e que acabou por dar-lhe as forças necessárias às mudanças diante do convite de Jesus?

Ainda titubeamos diante dos valores do mundo material e tentamos emergir das imperfeições que ainda nos caracterizam como espíritos no início da caminhada evolutiva em um planeta de provas e expiações.

Publio Lentulus só necessitou de cinquenta anos (o que significa esse tempo em face da eternidade?) para buscar o caminho de quitação de sua consciência. Não podemos ter essa pretensão se nos conhecemos bem.

Esses dois exemplos mencionados, entre muitos outros, demonstram que cada ser imortal se encontra em um determinado estágio evolutivo e com as possibilidades desse momento da evolução, o que não impede de avançar pela eternidade afora.

O livro mencionado do doutor José Carlos nos faz uma ponderação na qual devemos nos amparar para prosseguirmos: Aceitemos que não somos uma obra pronta. Admitamos que somos um projeto em construção e que ainda carregamos pedras disformes que, aos poucos, serão naturalmente lapidadas. E não fiquemos tão desapontados conosco, porque nem Deus deixa de nos amar e compreender um minuto sequer nos momentos em que nossas fraquezas se escancaram! Deus sabe que é a fraqueza que um dia nos fará fortes, é a ignorância que nos trará à sabedoria, é a doença que levará à saúde, é o erro que nos conduzirá à experiência do acerto! Tudo está certo na ordem divina!

Se concordarmos com essa colocação plena de lógica e afastarmos a cortina do orgulho assumindo e aceitando-nos como já somos, atingiremos o objetivo para o qual Deus nos mergulhou na vida imortal.

Se ainda estamos a distância não mensurável de Maria Madalena ou Miriam de Magdala, como queiram, estejamos próximos da humildade necessária para prosseguir aceitando-nos e amando-nos para consumarmos o projeto final da Providência Divina para todos os filhos de sua criação.

Afinal, nem Ele deixa de amar e acreditar em cada ser que criou como os filhos pródigos que retornarão ao lar para o banquete do triunfo sobre si mesmos.



 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita