Abnegação
Adamastor
chegava todo dia
ao colégio em
que era o
supervisor
pedagógico bem
cedo. Começou a
notar que sempre
que chegava, em
frente ao prédio
da direção,
postava-se
sentado um
senhor, que
ficava mexendo
tranquilamente
no seu aparelho
celular. E dia a
dia, lá estava
aquela pessoa,
sentada naquela
cadeira
desconfortável
de um dos pátios
da escola,
sereno, mas ao
mesmo tempo,
intrigante.
Sem conter a sua
curiosidade,
após uma semana,
perguntou
reservadamente
ao segurança do
colégio quem
seria aquele
senhor que já
cedo estava ali
sentado,
cumprindo
expediente em
condições tão
desconfortáveis.
Seria um
representante
comercial, ou
mesmo alguém da
fiscalização
governamental?
Quem sabe seria
um maníaco, em
um mundo tão
louco? O
segurança sorri,
e explica que
era uma situação
mais simples do
que parecia.
“-Seu Adamastor,
aquele senhor é
o Jurandir,
marido da
funcionária
Helena, uma
senhora que já
está próxima de
se aposentar e
que reside muito
longe do
colégio. Como
tem havido
muitos assaltos
e ela sai cedo,
ele todo dia vem
com ela de trem
e fica aqui
esperando ela
sair as 14hs,
para
acompanha-la de
volta ao lar.”
Explica
pacientemente o
segurança, e ao
se inteirar da
situação,
Adamastor
exclama em alto
e bom tom: “-Um
abnegado.”
A abnegação é um
atributo humano,
caracterizado
pelo
desprendimento e
pelo altruísmo,
na dedicação
extrema a uma
pessoa, causa ou
princípio. Algo
bonito de se
ver, raro em um
mundo de
valorização da
individualidade,
e que se traduz
em uma força
poderosa nos
desafios do
cotidiano. Mas,
como tudo,
merece
equilíbrio e
contexto.
Heróis abnegados
como Jurandir, e
tantos outros
que se dedicam a
causas sociais e
religiosas, são
tesouros em
forma de
espírito.
Pessoas que
transpiram nos
desafios do dia
a dia naquele
tema, e que
inspiram, com
seu ideal, um
outro conjunto
de pessoas, em
uma rede de
empolgação que
contagia e
mobiliza
corações e
mentes, em ações
que resultam em
grandes
realizações,
materiais ou
não.
Certamente,
estimado leitor,
você conhece nas
fileiras
espíritas
pessoas
abnegadas.
Alguns notórios,
mas a maioria
desconhecida,
movidas por um
sentimento forte
e profundo para
a promoção das
nossas causas.
Abnegados na
evangelização
infanto-juvenil,
na promoção
social, na
atividade
mediúnica, na
divulgação
espírita, na
arte, nas
tarefas de
manutenção e na
arrecadação de
fundos.
Pessoas com uma
chama interior,
poderosa, mas
são pessoas.
Enfrentam os
problemas comuns
da vida
encarnada no
planetinha azul,
repleta das
decepções, das
calúnias, das
traições, e por
vezes, essa
abnegação vai se
enfraquecendo,
até apagar.
Afinal, essa
dedicação
desmedida,
intensa, por
vezes é muito
para qualquer
um, e vemos o
fenômeno do
trabalhador
incansável que
sofre uma
mutação e não
quer saber de
mais nada.
Desaparece.
Aí vem as
explicações
estapafúrdias.
Está
obsediado....
Era só um
interesseiro...
Melindre... Na
verdade, era uma
pessoa com
grande fé
naquela missão,
naquela obra, e
que a abraçou
com todas as
suas forças,
esquecido de que
cada um tem seu
tempo. E foi,
foi, até que se
viu
sozinho...cercado
pelas armadilhas
do insulamento e
do
autoritarismo,
nos famosos
donos do
trabalho,
permeado das
fofocas e das
interpretações
maldosas.
Faz-se
necessário
adotar cuidados
para não se
perder o
trabalhador
espírita
abnegado, mas
também é
necessário um
entendimento
amplo de que o
comprometimento
e a dedicação
variam de
trabalhador para
trabalhador, por
questões
diversas,
variando da
esfera pessoal
até o
amadurecimento
do seu papel na
atividade
espírita.
A abnegação é
uma condição
nobilíssima, mas
que tem a sua
força quando se
equilibra entre
diversas pessoas
no campo de
luta. Se
concentrada, se
expande como uma
chama vivaz na
palha seca, para
se esgotar
depois. Precisa
ser como uma
brasa, a
alimentar por
muito tempo o
fogo permanente,
alimentando
mutuamente pelas
outras brasas.
Sim, temos e
teremos sempre
os expoentes,
aqueles
abnegados que
vão mais além.
Mas, não nos
cabe, na tarefa
da evolução,
terceirizar as
ações para estes
e sim se
inspirar em seus
exemplos para
também
alimentarmos em
nós um pouco de
abnegação,
fortalecendo a
rede de pessoas
que converte
recursos em
milagres, nas
transformações
maravilhosas que
vemos nos
trabalhos
espíritas por
aí.
Ser abnegado
implica na
renúncia, no
sacrifício em
prol de uma
causa. As
motivações são
as mais
diversas, e a
maioria são
lastreadas em um
sonho de ver um
mundo melhor e
poder contribuir
com um pequeno
tijolinho. Esse
compromisso, com
o reino de Deus
que virá, é de
todos nós, e se
alguém está
dando de si no
limite de suas
forças, talvez
seja por que nós
estejamos nos
omitindo de
nossos deveres.
Fica a reflexão.