Progredir sem
cessar, tal é a
lei!
A
marcha do progresso é inestancável e faz parte do
processo de evolução das criaturas
“(...) Aquele que se sinta possuído do desejo sério de
melhorar-se, perscrute a sua consciência, a fim de
extirpar de si os maus pendores, como do seu jardim
arranca as ervas daninhas”. -
Santo Agostinho
Os
Benfeitores Espirituais responderam a Allan Kardec que “Deus
criou todos os Espíritos simples e ignorantes”, mas
que progressivamente atingiriam a perfeição, ajustados à
célebre conclamação de Jesus: “sede
perfeitos, como perfeito é o Pai Celestial”.
Existem duas modalidades de progresso que evidentemente
interagem entre si: o progresso intelectual e o
progresso moral, sendo que o progresso intelectual é o
encarregado de abrir espaço e aplainar o caminho para o
progresso moral.
O
mundo apresenta hoje altos índices de intelectualidade,
mas quanto à moralidade... Deixa muito a desejar! E é
por isso que estamos testemunhando nos diversos
patamares da escala social tantas esquisitices e
despautérios.
Com
extrema sabedoria, Joanna de Ângelis ensina:
“a mudança dos hábitos viciosos para saudáveis exige
esforço hercúleo e prolongado... Certamente, não é de um
para outro momento que se anulam condicionamentos
negativos, substituindo-os por novos costumes que se
devem incorporar de tal forma que se automatizem,
funcionando sem imposições mentais.
As
fixações anteriores ressumam amiúde, impondo falsas
necessidades que, quase sempre, se fazem atendidas,
reiniciando o círculo pernicioso. Enquanto se não
desperta para a valorização da saúde em todos os seus
aspectos, particularmente naquele de natureza moral, a
consciência de responsabilidade para com a vida se
demora bloqueada, dificultando a alteração de conduta.
O
amadurecimento psicológico proporciona a seleção
natural daquilo que é bom e útil em detrimento do que é
prejudicial e desgastante. Nessa ocasião, surge,
espontaneamente, uma alteração na escala de valores
humanos, que passam a ter novas medidas na prioridade de
uns sobre os outros, assim proporcionando a eleição
daqueles que preservam a existência em substituição aos
que lhe são prejudiciais.
Essa ocorrência pode dar-se mediante o suceder de
experiências, através do estudo ético e da aquisição do
conhecimento em torno do ser real, assim como pela
descoberta do significado e dos objetivos do Si sobre o
ego, transitório e devorador.
A
consciência, que jaz adormecida, estimulada pelos
fatores externos e as necessidades de autorrealização,
libera recursos latentes, ampliando as aspirações do ser
e passando a dirigir-lhe o processo renovador. As
velhas indumentárias que lhe escamoteavam a legitimidade
são destruídas, e apresenta-se, esplendente, a nova
proposta de harmonia e bem-estar que mais se desenvolve
quanto mais se desvela. Assim, o letargo, na comodidade
do menor esforço, cede lugar à ação constante em favor
do crescimento íntimo, que amplia o campo das percepções
e dos interesses que passam a comandar a vontade,
direcionando-a para mais belos cometimentos e
realizações.
Todos os indivíduos que se dignificaram e contribuíram
para o progresso da sociedade viveram esse momento de
decisão, de escolha, de renovação: saturaram-se dos
hábitos perturbadores e os substituíram por novos
processos de autorrealização; viveram momentos de transe
e de dor até que se firmassem as inusitadas
experiências, que se deveriam transformar em questões
naturais, em processos de comportamento normal. Não
poucas vezes se viram sitiados pelos costumes antigos,
experimentando agonia e frustração, receio e
desencanto, mas não desistiram, e, por isso mesmo,
lograram as modificações a que se propuseram,
libertando-se das conjunturas infelizes.
O
vício, na sua trajetória danosa, termina por consumir a
vítima que o aceita como direcionador do seu destino.
Não obstante, momento chega, no qual ele perde o encanto
mentiroso e dá-se uma verdadeira revolução interna, que
o obriga a desalojar-se, deixando o espaço para a
instalação de diferentes costumes, que se incorporarão
ao cotidiano, alterando, por completo, a conduta do ser.
Para que seja lograda a meta, tornam-se urgentes, a
constatação dos danos sofridos e daqueles que virão mais
tarde, o desejo sincero de mudar, a disposição para
pagar o ônus do desafio que se aceita, a perseverança na
ação iniciada. E mesmo quando ocorre alguma recidiva, em
razão da fragilidade do caráter ainda não forjado na
resistência que precisa ser mantida, deve-se recomeçar,
sem qualquer conflito, permitindo-se o direito de
tombar, mas impondo-se o compromisso de prosseguir sem
desfalecimento.
A
conquista dos valores morais é árdua, enquanto que as
condições viciosas já se encontram ínsitas no
comportamento, em razão da sua ancestralidade em
experiências anteriores por onde a criatura transitou.
Agora, portanto, é o momento da decisão e, de imediato,
soa o da ação correta, mediante cujo começo se abrem as
possibilidades para o êxito.
Enquanto se acredita na impossibilidade da libertação,
ei-la, realmente inexequível, por falta de sustentação
emocional para o projeto em pauta. Aceito o raciocínio
de que cada um é aquilo a que se propõe, torna-se mais
fácil a execução da tarefa em delineamento.
O
despertamento da consciência de valores constitui o
passo avançado para o ser humano alcançar as metas, para
as quais se encontra na Terra...”
“(...) O homem é a medida das suas realizações
interiores, quando vence as paixões anestesiantes ou
alucinadoras, as tendências perniciosas, os vícios
escravizadores, as ambições desordenadas. Enquanto não
se resolva por travar essa batalha sem quartel nem
assistentes, conquistará o Cosmo e perder-se-á a si
mesmo no báratro das aflições que acumula pela
negligência e descontrole do instinto.
Este é um período de glórias para a inteligência e de
sombras para o sentimento, porquanto uma grande nuvem
paira sobre a sociedade, ameaçando-a de sofrimentos
dantes jamais experimentados. Essa borrasca aterradora
resulta do comportamento dos seus membros, que se não
querem convencer da necessidade de desincumbir-se com
distinção dos compromissos que têm pela frente. Ao
invés da renovação interior, porém, dá-se o inverso:
mais mergulham nas águas viscosas do prazer e do crime,
individual como coletivo, atraindo as tempestades por
sobre suas cabeças.
Nunca hão faltado advertências espirituais,
conclamando-os à mudança de conduta, felicitando-se com
as lutas retamente travadas, tendo sempre em mira que se
encontra na Terra em trânsito, não sendo este o seu lar
permanente.
Autoconhecendo-se, é mais fácil a alguém conhecer, com
mais precisão, aqueles que se encontram à sua volta.
Descobrindo as próprias deficiências, nasce-lhe a
tolerância para com os limites que encarceram outras
pessoas na ignorância e na maneira rude de se
apresentarem. Trabalhando o granito dos defeitos,
torna-se-lhe fácil auxiliar a lapidação de arestas
outras, que se encontram fora, em diferentes pessoas.
-
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83.ed.
Rio [de Janeiro]: FEB, 2002, q. 919 a, § 3º.
- BÍBLIA,
N.T. Mateus.
Português. O novo testamento. Tradução de
João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro:
Imprensa Bíblica Brasileira, 1983. cap. 5. vers
48.