O humor inteligente
O renomado escritor espírita baiano Carlos Imbassahy
(1883-1969), em sua famosa obra O que é a
morte inclui, para ilustrar certa parte do seu
texto, duas notas humorísticas envolvendo dois nomes da
história de França.
A primeira: “Luiz XIV perguntou a Molière: – Está
contente com seu médico? – E este: – Sim,
admiravelmente. Ele não lê os meus livros e eu não tomo
os seus remédios”.
E a segunda nota, não menos espirituosa: “Eu chamo o
médico porque o médico precisa viver, compro os remédios
porque o farmacêutico precisa viver e ponho os
medicamentos fora porque eu também preciso viver”.
Assim como o bem humorado polemista Carlos Imbassahy,
muitos grandes nomes do saber humano usaram o humor para
expressar suas ideias e se comunicar com o mundo.
Após o término da festa de comemoração dos setenta e
dois anos de Albert Einstein, em 1951, este se preparava
para partir e já estava no carro quando, cercado por
fotógrafos e jornalistas que insistiam em saber sua
opinião sobre a situação política, irritado e
descontraído ao mesmo tempo, mostrou-lhes a língua e a
imagem foi registrada. Essa foto, que Einstein apreciava
muito, tornou-se famosa em todo o mundo. Tempos depois,
o cientista teria dito à sua secretária: “A língua de
fora revela as minhas posições políticas”.
O sábio e ainda incompreendido Allan Kardec, sempre
circunspecto mas nunca carrancudo, aplicou num dos
números da Revista Espírita ¹ duas pérolas
de fino humor que refletem muito mais no cérebro de quem
pensa do que na boca de quem gargalha.
Referindo-se aos “milagres”, Kardec diz: “Diariamente
a Ciência faz milagres aos olhos dos ignorantes. Por
isso, outrora, os que sabiam mais que o vulgo passavam
por feiticeiros. E como acreditavam que toda ciência
sobre-humana vinha do diabo, queimavam-nos. Hoje, que
estamos muito mais civilizados, contentamo-nos em
mandá-los para os hospícios.”
A outra pérola é sobre o “julgamento do Espiritismo”:
“Se um dia um corpo de cientistas nomeasse um
relator para examinar a questão do Espiritismo e
esse relator não fosse francamente Espiritualista,
seria o mesmo que um concílio escolher Voltaire para
tratar de uma questão de dogma.”
Em outro número da mesma Revista Espírita ² Kardec
responde a um jornalista injurioso: “A propósito,
poderíeis dizer-me por que Jesus escolheu seus apóstolos
entre o povo e não entre os homens de letras? Sem dúvida
porque, na época, não havia jornalistas para lhe dizerem
o que ele devia fazer”.
Como se vê, o humor não é incompatível com a seriedade.
O humor inteligente fala ao raciocínio e com ele pode-se
dizer grandes verdades. Chega a ser uma necessidade na
vida. E é preciso reconhecer que há momentos em que rir
talvez seja a melhor coisa a fazer.
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¹ Revista
Espírita, setembro,1860, “O maravilhoso e o
sobrenatural”, Edicel.
² Revista
Espírita, outubro, 1860, “Resposta do Sr. Allan
Kardec”, Edicel.
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