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por Eder Andrade

 

Vingança e justiça


Ao longo da história da humanidade, devido aos abusos cometidos pelo próprio homem contra o seu semelhante, foram criadas leis muito rígidas, que estabeleciam penas aos infratores, proporcionais aos delitos cometidos.

O primeiro código de leis de que se tem notícia na história do homem, talhado em uma rocha cilíndrica de diorito (rocha extremamente dura, tornando difícil de esculpir trabalhos maiores, porém extremamente resistente ao tempo), foi o código de Hamurabi, escrito em língua acadiana sob a forma da escrita cuneiforme, desenvolvida pelos sumérios na Mesopotâmia por volta do século XVIII a.C. Foi um grande avanço do ponto de vista da civilização para a Mesopotâmia.

Esse código estabeleceu uma penalidade que ficou conhecida como, olho por olho, dente por dente, era a Lei de Talião. Consistia na rigorosa reciprocidade do crime e da pena, apropriadamente chamada retaliação. Eram leis rígidas para uma sociedade atrasada, um povo ignorante e violento, uma forma de punição para determinadas condutas dos cidadãos da Babilônia.

A ideia de justiça se confundia com vingança, pois na verdade as pessoas prejudicadas desejavam penalizar os infratores com castigos muito mais severos do que o ato por eles cometido. Dessa forma antigos governantes com alguma sabedoria criaram leis duras, para intimidar possíveis retaliações, com penalidades severas e dessa forma conter boa parte da violência e do sentimento de desforra e vingança, por parte dos ofendidos.

Existia um outro problema com relação à aplicação da justiça, principalmente imposta pelos governantes, quando penalizavam severamente os povos vencidos. Essa atitude acabou confundindo a ideia de justiça, como um sinônimo para vingança ou desforra. A compreensão distorcida de como aplicar a justiça, dificultava um acerto de contas e consequentemente a aplicação das leis. O jogo de interesse entre as classes, dificultava a aplicação das leis, que infelizmente acabavam favorecendo a classe dominante, em detrimento da classe oprimida. Essa é uma análise histórica da humanidade.

Esse comportamento gerou um grave comprometimento de ordem moral entre os homens, criando débitos que se transferiram para futuras gerações, por séculos. Pela falta de noção de limite e com uma cultura que endossava certas atitudes imprudentes, tornava-se difícil aceitar a ideia de perdão. O perdão em alguns casos era visto como sinal de fraqueza.

Em alguns povos de diferentes culturas do Oriente Médio, a pena de morte passou a ser aplicada como uma forma de reprimir manifestações de vingança e ao mesmo tempo intimidar os indivíduos prejudicados para não cometerem uma justiça com as próprias mãos. Deixando ao encargo dos governantes a aplicação das leis vigentes, assim como o cumprimento das penas, relativamente proporcionais aos delitos cometidos.

A questão cultural acabava influenciando na organização das leis de uma nação, embora a grande maioria dos povos ocidentais, estruturaram seus códigos de leis, com base no direito romano, que por sua vez se organizou influenciado pela cultura dos povos do Oriente Médio e da Cultura Clássica.

A desigualdade socioeconômica, assim como a falta de oportunidades, acabou favorecendo uma série de questões, desafiando o Estado, que passa a combater a desordem e as irregularidades sociais, no lugar de investir em uma política preventiva. Isso desde a Idade Antiga, devido a manutenção de uma sociedade de classes.

Parece que estamos falando de um assunto recente, mas na verdade é uma questão muito antiga na história da humanidade, sociedade de classe ou sociedade estamental, onde as pessoas ocupavam uma posição social de acordo com seu local de nascimento, seu berço ou sua família.

Os problemas sociais refletiam o distanciamento entre Estado e o Cidadão, isso desde o Império Romano. As graves crises sociais que ocorreram durante o império, como os incêndios em Roma durante o governo de Nero, atribuídas aos cristãos, já refletiam um ápice nas desigualdades sociais, que ao longo dos séculos foram se acentuando.

Não adiantava aperfeiçoar as leis, se continuassem existindo um abismo social entre as classes. Faz-se necessário uma mudança, onde todo cidadão tenha direito a uma vida mais digna.

No livro A Caminho da Luz1, psicografado por Chico Xavier e ditado pelo Espírito Emmanuel, podemos perceber que, tanto na Idade Antiga, Idade Média e Idade Moderna, a desigualdade social foi a mola mestra para os graves conflitos e disputas pelo poder entre os segmentos das camadas sociais.

Aqueles que reencarnaram com o objetivo de promoverem mudanças que beneficiassem a sociedade, tanto no campo da realeza, assim como junto ao clero, abandonaram seus compromissos. Isso gerou uma defecção espiritual ou abandono voluntário, agravando a programação confiada pelo Cristo, o que acentuou consideravelmente às questões sociais que já existiam no seio da sociedade.

Os Iluministas no século XVIII já haviam percebido que a educação do homem deveria ser acompanhada por uma mudança nas leis sociais, permitindo as pessoas terem acesso a uma melhor oportunidade de vida, pois caso contrário as novas ideias não iriam sair do papel.

O advento da segunda revelação com o Cristo, que convidou a todos os homens ao exercício do amor ao próximo e o perdão das ofensas, representou um grande marco na mudança de conduta para a humanidade, principalmente no trato entres os semelhantes, para aqueles que tinham “olhos de ver e ouvidos de ouvir”. (Mateus 13:16-17)

Já na Terceira Revelação com Allan Kardec, ficou melhor explicado por intermédio do Espírito da Verdade, que devemos ressignificar os acontecimentos em nossas vidas, assim como uma reeducação de valores. A compreensão da imortalidade da alma vai nos ajudar a mudar o nosso foco de vida e de como venha a ser, a aplicação da justiça terrena, assim como o exercício do verdadeira compaixão para com o próximo!

Somos espíritos imortais, com a posse temporária de um corpo físico, vivendo uma experiência no mundo material, para nosso aprimoramento e evolução espiritual. Sabemos das dificuldades, porém na medida do possível, ajudar e colaborar na evolução coletiva daqueles que nos cercam. Um compromisso social para com todos nós.

 

Referências:

1) Xavier, Francisco Cândido; A caminho da Luz; XIII - O Império Romano e seus desvios; XVIII - Os abusos do poder religioso; XXIV - O Espiritismo e as grandes transições; FEB.

2) Wikipédia (Enciclopédia livre).

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita