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por Rogério Coelho

 

Verdadeiro e necessário jejum


Se quereis um cilício, aplicai-o às vossas almas e não à vossa carne


“(...) Misericórdia quero, e não sacrifício.”- 
Jesus.  (Mt., 9:13.)


Os textos neotestamentários[1] nos dão notícia de um fariseu e um publicano que subiram ao Templo de Jerusalém para orar... Aquele, orgulhoso, venal e dissimulado, fazia um longo relatório de suas “virtudes”, acrescentando, com a insolência própria de sua empáfia farisaica:“(...) jejuo duas vezes na semana, bla bla bla!” Já o publicano, humilhado por reconhecer a magnitude dos próprios equívocos e limitações, batia a mão no peito, e com a cerviz dobrada dizia: “ó Deus, tem misericórdia de mim, que sou um pecador!”

Jesus afirmou que – naquele dia – só o publicano humilde saiu justificado. Quanto ao fariseu orgulhoso e “virtuoso”, que jejuava duas vezes por semana, não saiu justificado...

Durante as missas da igreja católica e também em outras denominações religiosas cristãs e não cristãs, a palavra “sacrifício” é pronunciada inúmeras vezes, e nas primeiras a imagem de Jesus é sempre apresentada com aspectos de quem sofreu bárbara tortura.  

Testemunhamos, tempos atrás, um episódio ridículo quão inusitado: mãe e filha, durante uma semana inteira, estavam comendo e bebendo tudo pela metade (?!): meio pão, meio copo d`água ou suco, meio tudo!...

Curioso, perguntei: por que vocês estão bebendo e comendo pela metade?!

Responderam em uníssono: “Ah! é ordem do bispo de nossa região. Ele falou que o seu rebanho estava precisando fazer esse sacrifício!”. Efeito manada: todos os fiéis estavam fazendo o tal jejum episcopal. Não teve sequer apenas um cérebro pensante para se indispor contra tão absurda bula!... Bastaria entender o sentido da parábola acima mencionada para “derrubar” a tese do bispo. E ninguém iria para a fogueira inquisitorial e muito menos para o inferno por tal desobediência a esse surreal “conto do vigário”.

Quem está com Jesus no coração precisa lá de jejum alimentar?! Só quem precisa emagrecer! ou alguma circunstância de saúde.

Quando Jesus Se referiu a jejum é evidente que Ele fazia menção à abstinência do mal, da maledicência, da injúria da calúnia, enfim de tudo que possa onerar nossa economia espiritual. E o próprio Rabi afirma com todas as letras: quem estiver privando de Sua veneranda presença não precisa de tais expedientes. Senão vejamos[2]“(...) então chegaram ao pé d`Ele os discípulos de João Batista dizendo: por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os Teus discípulos não jejuam?”

Respondeu Jesus: “podem porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o Esposo está com eles? Dias, porém virão em que lhes será tirado o Esposo, e então jejuarão”.  É evidente que Jesus Se referia ao Jejum provocado pela Sua ausência.

Lá no Velho Testamento[3], Isaías já alertava ao povo com relação ao verdadeiro e falso jejuns: “(...) não jejueis como hoje, para fazer ouvir a vossa voz no alto.  Seria este o  jejum que eu escolheria: que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua cabeça como o junco, e estenda debaixo de si saco e cinza. Chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao Senhor?  Que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo; e que deixes livres os quebrantados, e despedaces todo o jugo. Porventura não é jejum que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desterrados?  E, vendo o nu, o cubras?  Fazendo assim, então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda. Se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio dia; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam”.

Por tudo isso é que Jesus conclamou em alto e bom som[4]“misericórdia quero, e não sacrifício”.  

Allan Kardec lança, por antecipação, a “pá de cal” na tese do indigitado bispo ao inserir o seguinte texto na Codificação Espírita[5]: “(...) se quereis um cilício, aplicai-o às vossas almas e não à vossa carne; fustigai o vosso orgulho, recebei sem murmurar as humilhações; flagiciai o vosso amor-próprio; enrijai-vos contra a dor da injúria e da calúnia, mais pungente do que a dor física. Aí tendes o verdadeiro cilício cujas feridas vos serão contadas, porque atestarão a vossa coragem e a vossa submissão à vontade de Deus”.  

 


[1] - BÍBLIA, N.T. Lucas. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1983. cap. 18. Vers. 9 a 14.

[2] - ----------------- Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1983. cap. 9. Vers 14 e 15.  

[3] - BÍBLIA, V.T. Isaías. Português. O velho restamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1983. cap. 58. Vers. 4 a 7.      

[4] - BÍBLIA, N.T. Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1983. cap. 9. Vers. 13

[5] - KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 121.ed.Rio [de Janeiro]: FEB, 1944, cap. V, item 26.


 

 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita