Verdadeiro e necessário jejum
Se quereis um cilício, aplicai-o às vossas almas e não à
vossa carne
“(...) Misericórdia quero, e não sacrifício.”- Jesus.
(Mt., 9:13.)
Os textos
neotestamentários nos
dão notícia de um fariseu e um publicano que subiram ao
Templo de Jerusalém para orar... Aquele, orgulhoso,
venal e dissimulado, fazia um longo relatório de suas “virtudes”, acrescentando,
com a insolência própria de sua empáfia farisaica:“(...)
jejuo duas vezes na semana, bla bla bla!” Já o
publicano, humilhado por reconhecer a magnitude dos
próprios equívocos e limitações, batia a mão no peito, e
com a cerviz dobrada dizia: “ó
Deus, tem misericórdia de mim, que sou um pecador!”
Jesus afirmou que – naquele dia – só o publicano
humilde saiu justificado. Quanto ao fariseu
orgulhoso e “virtuoso”, que jejuava duas vezes
por semana, não saiu justificado...
Durante as missas da igreja católica e também em outras
denominações religiosas cristãs e não cristãs, a
palavra “sacrifício” é pronunciada inúmeras
vezes, e nas primeiras a imagem de Jesus é sempre
apresentada com aspectos de quem sofreu bárbara
tortura.
Testemunhamos, tempos atrás, um episódio ridículo quão
inusitado: mãe e filha, durante uma semana inteira,
estavam comendo e bebendo tudo pela metade (?!): meio
pão, meio copo d`água ou suco, meio tudo!...
Curioso, perguntei: por
que vocês estão bebendo e comendo pela metade?!
Responderam em uníssono: “Ah!
é ordem do bispo de nossa região. Ele falou que o seu
rebanho estava precisando fazer esse sacrifício!”. Efeito
manada: todos os fiéis estavam fazendo o tal jejum
episcopal. Não teve sequer apenas um cérebro pensante
para se indispor contra tão absurda bula!... Bastaria
entender o sentido da parábola acima mencionada para “derrubar” a
tese do bispo. E ninguém iria para a fogueira
inquisitorial e muito menos para o inferno por tal
desobediência a esse surreal “conto
do vigário”.
Quem está com Jesus no coração precisa lá de jejum
alimentar?! Só quem precisa emagrecer! ou alguma
circunstância de saúde.
Quando Jesus Se referiu a
jejum é evidente que Ele fazia menção à abstinência do
mal, da maledicência, da injúria da calúnia, enfim de
tudo que possa onerar nossa economia espiritual. E o
próprio Rabi afirma com todas as letras: quem estiver
privando de Sua veneranda presença não precisa de tais
expedientes. Senão vejamos: “(...)
então chegaram ao pé d`Ele os discípulos de João Batista
dizendo: por que jejuamos nós e os fariseus muitas
vezes, e os Teus discípulos não jejuam?”
Respondeu Jesus: “podem porventura andar tristes os
filhos das bodas, enquanto o Esposo está com eles? Dias,
porém virão em que lhes será tirado o Esposo, e então
jejuarão”. É evidente que Jesus Se referia ao Jejum
provocado pela Sua ausência.
Lá no Velho Testamento,
Isaías já alertava ao povo com relação ao verdadeiro e
falso jejuns: “(...)
não jejueis como hoje, para fazer ouvir a vossa voz no
alto. Seria este o jejum que eu escolheria: que o
homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua cabeça
como o junco, e estenda debaixo de si saco e cinza.
Chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao Senhor?
Que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as
ataduras do jugo; e que deixes livres os quebrantados, e
despedaces todo o jugo. Porventura não é jejum que
repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os
pobres desterrados? E, vendo o nu, o cubras? Fazendo
assim, então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura
apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante da
tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda. Se
abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita;
então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão
será como o meio dia; e serás como um jardim regado, e
como um manancial, cujas águas nunca faltam”.
Por tudo isso é que Jesus
conclamou em alto e bom som: “misericórdia
quero, e não sacrifício”.
Allan Kardec lança, por antecipação, a “pá de cal” na
tese do indigitado bispo ao inserir o seguinte texto na
Codificação Espírita:
“(...) se quereis um cilício, aplicai-o às vossas almas
e não à vossa carne; fustigai o vosso orgulho, recebei
sem murmurar as humilhações; flagiciai o vosso
amor-próprio; enrijai-vos contra a dor da injúria e da
calúnia, mais pungente do que a dor física. Aí tendes o
verdadeiro cilício cujas feridas vos serão contadas,
porque atestarão a vossa coragem e a vossa submissão à
vontade de Deus”.
- BÍBLIA,
N.T. Lucas.
Português. O novo testamento. Tradução de
João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro:
Imprensa Bíblica Brasileira, 1983. cap. 18.
Vers. 9 a 14.
- ----------------- Mateus.
Português. O novo testamento. Tradução de
João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro:
Imprensa Bíblica Brasileira, 1983. cap. 9. Vers
14 e 15.
- BÍBLIA,
V.T. Isaías.
Português. O velho restamento. Tradução de João
Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa
Bíblica Brasileira, 1983. cap. 58. Vers. 4 a
7.