Introdução indispensável
Hábito muito condenável em qualquer leitor é desprezar a
introdução ou prefácio de um livro, indo direto aos
capítulos. A apresentação de uma obra é indispensável
para o bom entendimento do conteúdo da própria obra,
face aos esclarecimentos prévios que abrem caminho para
o contexto ideal a benefício do leitor. O mesmo ocorre
com o índice, onde atenta observação igualmente muito
favorece o conhecimento de qualquer publicação.
Em se tratando de Doutrina Espírita, esse critério é
fundamental, indispensável, insubstituível, justamente
para se evitar as distorções tão comuns que se praticam
em nome do Espiritismo, de índole séria, responsável,
embasada em rigores científicos e filosóficos e ainda
com o aroma da moral cristã.
Não se pode conhecer Doutrina Espírita sem estudá-la,
sem aprofundar seus conceitos – exatamente para o
perfeito entendimento de seu inestimável conteúdo –, sem
conjecturar-se com suas inesgotáveis fontes de
conhecimento. E muitos aventuram-se em sua prática sem o
devido conhecimento, baseando-se em comportamentos
duvidosos ou frágeis de supostos espíritas ou supostos
médiuns, e pior, de pretensos despreparados dirigentes,
que se adornam com uma titularidade de conhecimento que
não possuem, prestando grande desserviço à genuína
prática espírita.
Sem adentrarmos a questão moral – tão bem expressa em O
Evangelho Segundo o Espiritismo –, fixemo-nos
parcialmente na questão filosófica e científica do
Espiritismo, em duas de suas colunas fundamentais: O
Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns, de
Allan Kardec.
As duas introduções, nas referidas obras, constituem
tesouro inestimável de conhecimento e orientação, com
coordenadas vitais para o bom entendimento e a correta
prática espírita. Mas o que se observa ou se percebe é
quase um total desconhecimento das duas obras e, claro,
das citadas introduções, onde em preciosos parágrafos, o
Codificador indica a importância de se conhecer a
origem, a causa, os desdobramentos, as consequências e
os desdobramentos variados do conhecimento originário
das Leis Divinas (não inventados ou imaginados pelo
autor das citadas obras) que regem a vida humana e suas
infinitas particularidades, na grandeza do próprio
universo ao diminuto grão de areia no deserto, nesses
gigantescos extremos onde se encontra a racionalidade da
capacidade de pensar, refletir, sentir, já alcançada
pelo ser pensante que habita corpos transitórios.
Quero sugerir ao leitor ler ou reler as duas introduções
para perceber as pérolas ali colocadas com tanto cuidado
e critérios humanitários, sociais, científicos e
igualmente morais, nos fenômenos produzidos pelos
chamados espíritos e sua intensa interação com os seres
ainda habitantes de corpos perecíveis.
Do valioso conteúdo, permito-me transcrever breves
faíscas ao leitor:
a) “(...)
Sede, além do mais, laboriosos e perseverantes nos
vossos estudos, sem o que os Espíritos superiores vos
abandonarão, como faz um professor com os discípulos
negligentes. “ – item IX da Introdução de O Livro dos
Espíritos;
b) “(...)
Esperamos que dará outro resultado, o de guiar os homens
que desejam esclarecer-se, mostrando-lhes, nestes
estudos, um fim grande e sublime: o do progresso
individual e social e o de lhes indicar o caminho que
conduz a esse fim (...)” – Item XVII da Introdução de O
Livro dos Espíritos.
c) “(...)
A prática do Espiritismo está cercada de muitas
dificuldades, e não está sempre isenta de inconvenientes
que só um estudo sério e completo pode prevenir. (...)”
– Introdução de O Livro dos Médiuns.
d) “(...)
experiências feitas levianamente e sem conhecimento de
causa, (...) têm o inconveniente de darem, do mundo dos
Espíritos, uma ideia muito falsa e se prestarem à
zombaria (...). A ignorância e a leviandade de certos
médiuns causaram mais dano do que se crê à opinião de
muitas pessoas (...)” – Introdução de O Livro dos
Médiuns.
Esperamos que tais advertências nos levem de volta à
leitura atenta das duas Introduções, para não nos
incluirmos no rol crescente de praticantes
desprevenidos, descompromissados e alheios
desrespeitosos aos nobres objetivos do Espiritismo, em
seu conteúdo racional e sempre convidativo ao bem geral,
sem qualquer tipo de exploração da credulidade ou uso
indevido de seus conteúdos, sempre voltado à
incomparável moral cristã.
E, para concluir, sem dúvida, a iniciantes e já
conhecedores, que tal buscar a fenomenal obra O Que é
o Espiritismo, com todo seu conteúdo extraordinário,
igualmente esquecida e indicada como leitura preliminar?
Com tais referências fundamentais não nos perderemos.