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por Paulo Hayashi Jr.

 

Educação e os limites pessoais


Em língua portuguesa, a palavra educação é dúbia e apresenta duplo sentido. A educação como escolaridade e também como polidez pessoal. O presente texto foca no último sentido. O que representa o aspecto do caráter do indivíduo, seu jeito de ser, hábitos e peculiaridades que o tornam apto a responder com maior ou menor presteza e facilidade aos chamamentos da vida. É a responsabilidade pessoal sobre seu livre arbítrio e a capacidade de suportar o peso das decisões, escolhas e consequências, as quais, como legítima “bola de neve”, fazem o indivíduo adentrar em ciclos virtuosos ou viciosos, conforme as escolhas feitas.

A educação que reflete o reino interior e a capacidade de organizar os pensamentos e seus recursos cognitivos, de inteligências[1] e criatividade não amadurece do dia para a noite. Ela exige repetição, reflexão e tempo para que se consolide como verdadeiro patrimônio atemporal. É essencial que o ciclo se repita para que as lições fiquem impregnadas por todo o infinito no ser. Além disso, para Aristóteles: “Nós somos o que fazemos repetidamente, a excelência não é um feito, e sim, um hábito”.

Todavia, a educação não é apenas um exercício de polimento, tal como a capacidade da matéria de refletir a luz como autêntico espelho. Mas, também de expandir as áreas de conhecimentos e de possibilidades do ser brilhar a própria luz. A expansão ocorre pela fé do indivíduo e em seus recursos, bem como de saber de modo consciente o que se sabe e o que não se sabe. É o poder da consciência e reflexão sobre os conhecimentos adquiridos e os não adquiridos.

A famosa frase “Conhece-te a ti mesmo”, máxima sapiencial de tempos imemoriais da humanidade, presente tanto na Grécia de Sócrates, Platão e Aristóteles, quanto nas pirâmides do antigo Egito e outras civilizações representa ponto ímpar para o progresso na jornada de aprendizagens. Conhecer não apenas o que se sabe, mas também o que não se sabe o que se sabe. É o descortinar das viseiras pessoais que nublam o passado, a memória longínqua, o inconsciente, o pretérito muitas vezes não tão brilhante para que se possa aos poucos saldar as contas do destino. Reconhecer os erros e ilusões e avançar sobre as mazelas fazem parte da agenda pessoal de desenvolvimento. Neste sentido, é essencial que o avanço não se limite sobre o lado luminoso do ser, mas também em suas sombras e imperfeições. A integralidade pede passagem e desafia o discípulo à revisitação das lições menos primorosas.

Além disso, o avanço do conhecimento também se faz sobre aquilo que não se sabe. É a expansão de modo inequívoco na aprendizagem e conjunto de competências do ser. Na observação valiosa descrita pelo espírito de Isabel de França: “Ignorais que há muitas ações que são crimes aos olhos do Deus de pureza e que o mundo nem sequer como faltas leves considera?[2]”.

Quem adquire novos conhecimentos, experiências primeiras que expandem tanto o lado material quanto cognitivo, valoriza-se por meio de tornar as escolhas ricas em opções de respostas e de resultados. Para auxiliar na questão, o Quadro I expressa algumas possibilidades de conhecimentos adquiridos e que se tem consciência ou não.

 

Quadro I - Quadrantes do conhecimento

 

Conhecido

Desconhecido

Conhecimentos adquiridos

O que se sabe que sabe

O que não sabe que sabe

Conhecimentos não adquiridos

O que se sabe que não sabe

O que não sabe que não sabe

Fonte: elaboração própria

 

Todavia, até que ponto o indivíduo consegue por si mesmo expandir seus conhecimentos e limites de modo solitário? A resposta dada por Santo Agostinho na complementação da pergunta 919 de “O Livro dos Espíritos” ajuda a elucidar a questão. É possível perceber dois aspectos distintos na resposta.

Primeiro. Por meio da análise e da reflexão das atividades diárias, de passar na consciência o que se fez de bem ou de mal auxilia no avanço e consolidação da melhoria pessoal. É auditar os próprios atos de modo a corrigir os passos, caso necessário, pela mudança de direção, velocidade ou até mesmo, trabalhando para que não se perca o passo ritmado.

Segundo. Orando e pedindo a orientação e ajuda a Deus e ao seu anjo protetor. Ou seja, o indivíduo, alinhado com a espiritualidade superior, consegue ser assistido em seu processo de trabalho e aprendizagem. Algo parecido pode ser dito em relação a Sócrates e ao seu espírito guardião. O filósofo ateniense era conhecido por conversar com o seu guia espiritual, o seu daemonDaemon significa espírito ou divindade, mas seu sentido atual é distorcido e representa apenas o lado negativo. Estar alinhado e em cooperação com o anjo protetor facilita o descortinar de conhecimentos, os quais poderiam estar inacessíveis ao indivíduo sem amparo. Neste ponto, é imprescindível a recomendação da conquista do patrimônio moral para facilitar a afinidade e a interação com seu guia espiritual.

Valores pessoais tais como honestidade, humildade, integridade, desinteresse podem servir como referência neste patrimônio. O que permite a aproximação e influência de espíritos superiores. Neste caso, a dificuldade do ser humano é de se desapegar do egoísmo, da vaidade, do orgulho em saber pedir e pedir de modo apropriado a ajuda sublime.

Para ser uma pessoa de bem é essencial se despir das facilidades ou das falsas premissas para o trabalho disciplinado e a ação educativa. O que permite a emancipação do indivíduo em termos de liberdade, responsabilidade, resultados. Todavia, jamais se abre mão do bom senso e da fé raciocinada[3].

O futuro certo é aquele do indivíduo que conhece e trabalha de modo consciente e produtivo para realizar no presente as tarefas que darão testemunho de sua passagem pela terra. O vencer na vida não é medido por réguas materiais, mas por meio das luzes adquiridas através da educação e da liderança de si, que permite ao indivíduo se alargar na potência infinita do ser. Se o universo é gigantesco, somos luz e sal[4] que busca oficializar a nossa transição de simples matéria para vibração superior. A educação é a passagem. Cabe a cada um realizar sua viagem de modo inequívoco e com vistas ao engrandecimento geral de todos[5].


 

[1] Gardner, H. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

[2]  Allan Kardec. O Evangelho segundo o Espiritismo. Caridade para com os criminosos. Capítulo XI, Item 14.

[3] O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec – capítulo 19.

[4] Mateus 5:13-14

[5] Em homenagem aos meus queridos e zelosos genitores, Paulo Hayashi e Ioko Ikefuti Hayashi, que já se encontram na pátria espiritual.

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita