A reencarnação e os preconceitos
Preconceito é o ato de julgar algo ou alguém antes de
conhecer o objeto de juízo, podendo se aplicar às
diversas situações do cotidiano. Nesse sentido, o
preconceito refere-se ao conceito antecipado à
constatação dos fatos, utilizando-se de características
julgadas universais, sendo atribuíveis a todos que se
encaixam na categoria referida, explicita ou
implicitamente, a qual é dirigida.
Pode ser, ainda, sentimento desfavorável, depreciativo,
aviltante, hostil ou pejorativo, sem fundamentos
lógicos, mas motivado por hábitos de julgamento ou
generalizações apressadas, podendo ser de cunho étnico,
racial, classe social, cor de pele, crença, sexo,
diferenças culturais, estereótipos, condição econômica,
dentre outros tantos.
Nesses casos, o preconceito pode tornar-se grande
problema para o próprio ser humano e para a sociedade
devido às possíveis consequências nocivas direcionadas a
certos indivíduos ou grupos, de forma generalizada,
chegando a afetar a liberdade das pessoas e a disseminar
o ódio sem a preocupação com os seus efeitos.
Os sentidos de preconceitos demonstram inferioridade
intelectual, moral e espiritual, que devem ser
eliminados para se seguir em frente rumo à paz, à
concórdia e à fraternidade universal, em que todos somos
irmãos e filhos do mesmo Pai.
Segundo a Doutrina Espírita, o processo de evolução
intelectual, moral e espiritual do ser humano, em
pluralidade de existências, auxilia a eliminar vários
sentimentos inferiores adquiridos em vida passadas,
inclusive os preconceitos de toda a ordem. Entretanto,
cada um de nós se encontra em um determinado estágio
evolutivo.
A reencarnação tem como objetivo a busca da perfeição,
em que todos chegarão a esse estágio evolutivo, cedo ou
tarde. Na questão 132, em “O Livro dos Espíritos”, de
Allan Kardec, sobre qual o objetivo da encarnação dos
Espíritos, a resposta é que “Deus lhes impõe a
encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição”.
Logo, a busca da perfeição é um determinismo divino.
Em “A Gênese”, de Allan Kardec, Capítulo I, item 36,
temos: “Com a reencarnação, desaparecem os
preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito
pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou
proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo,
homem ou mulher”.
No mesmo livro, Capítulo XVIII, item 19, somos
esclarecidos que: “Somente o progresso moral pode
assegurar aos homens a felicidade na Terra, refreando as
paixões más; somente esse progresso poderá fazer que
reinem entre as criaturas a concórdia, a paz e a
fraternidade. Será ele que derrubará as barreiras que
separam os povos, que fará que caiam os preconceitos de
casta e se calem os antagonismos de seitas, ensinando os
homens a se considerarem irmãos e a se auxiliarem
mutuamente e não destinados a viver uns à custa dos
outros.”
Contudo, esse processo evolutivo de educação e renovação
do Espírito é longo, em que uma existência é
insuficiente para se eliminar todos os preconceitos
acumulados, mesmo porque “Deus criou todos os
Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber” (Resposta
à questão 115, em “O Livro dos Espíritos).
Dessa criação, o Espírito imortal começa a sua jornada
evolutiva, com bem explica a continuação da resposta à
questão 115: “A cada um deu determinada missão, com o
fim de esclarecê-los e de os fazer chegar
progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da
verdade, e para aproximá-los de si. Nesta perfeição é
que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando
pelas provas que Deus lhes impõe, os Espíritos adquirem
aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas
e chegam mais depressa ao seu destino final. Outros só a
suportam murmurando e assim, por sua culpa, permanecem
afastados da perfeição e da prometida felicidade.”
Convém destacar que os preconceitos são sentimentos
inferiores próprios dos Espíritos imperfeitos, que
necessitam evoluir, como evidencia “O Livro dos
Espíritos”, na questão 101, sobre essa categoria: “Restritos
conhecimentos têm das coisas do mundo espírita e o pouco
que sabem se confunde com as ideias e preconceitos da
vida corporal. Acerca dessas coisas, não nos podem dar
senão noções falsas e incompletas (...).”
Aliada à reencarnação, temos o tempo espiritual de
evolução, em que o Criador espera o tempo que for
necessário para a nossa renovação, pois o tempo
transforma tudo. O tempo divino nos leva de um estado de
imperfeição espiritual para um estado de luz, de
espiritualidade e bondade.
Nesse momento de transição planetária, ocorrerá o fim do
mundo velho governado pelos preconceitos, pelo orgulho,
pelo egoísmo, pelo fanatismo, pela incredulidade, pela
cupidez, por todas as paixões más. A nova era derrubará
as barreiras que separam os povos, fazendo cair os
preconceitos existentes.
“O homem de bem é bom, humano e benevolente para com
todos, sem distinção de raças nem de crenças, porque em
todos os homens vê irmãos seus” (O
Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, Cap.
XVII, item 3).
“O Bem não se detém ante qualquer tipo de fronteira,
limite, preconceito, porque é emanação divina para a
edificação da vida” (Espírito
Manoel Philomeno de Miranda, no livro Transição
Planetária, na psicografia de Divaldo Pereira Franco).
Em “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, na questão
793, os Espíritos Superiores esclarecem sobre como
reconhecer uma civilização completa:
“Reconhecê-la-eis pelo desenvolvimento moral. Credes que
estais muito adiantados, porque tendes feito grandes
descobertas e obtido maravilhosas invenções; porque vos
alojais e vestis melhor do que os selvagens. Todavia,
não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos
civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes
banido os vícios que a desonram e quando viverdes como
irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, sereis
apenas povos esclarecidos, que hão percorrido a primeira
fase da civilização.”
Dessa resposta, Kardec comenta:
“A civilização, como todas as coisas, apresenta
gradações diversas. Uma civilização incompleta é um
estado transitório, que gera males especiais,
desconhecidos do homem no estado primitivo. Nem por
isso, entretanto, constitui menos um progresso natural,
necessário, que traz consigo o remédio para o mal que
causa. À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz
cessar alguns dos males que gerou, males que
desaparecerão todos com o progresso moral.
De duas nações que tenham chegado ao ápice da escala
social, somente pode considerar-se a mais civilizada, na
legítima acepção do termo, aquela onde exista menos
egoísmo, menos cobiça e menos orgulho; onde os hábitos
sejam mais intelectuais e morais do que materiais; onde
a inteligência se puder desenvolver com maior liberdade;
onde haja mais bondade, boa-fé, benevolência e
generosidade recíprocas; onde menos enraizados se
mostrem os preconceitos de casta e de nascimento, por
isso que tais preconceitos são incompatíveis com o
verdadeiro amor do próximo; onde as leis nenhum
privilégio consagrem e sejam as mesmas, assim para o
último, como para o primeiro; onde com menos
parcialidade se exerça a justiça; onde o fraco encontre
sempre amparo contra o forte; onde a vida do homem, suas
crenças e opiniões sejam melhormente respeitadas; onde
exista menor número de desgraçados; enfim, onde todo
homem de boa vontade esteja certo de lhe não faltar o
necessário.”
Na questão 930, Kardec comenta sobre a evolução do ser
humano: “Quando praticar a lei de Deus, terá uma
ordem social fundada na justiça e na solidariedade e ele
próprio também será melhor.”
Assim, as reencarnações, em pluralidade de existências,
auxiliam o Espírito imortal a eliminar os preconceitos
adquiridos em sua jornada evolutiva, desde a sua criação
simples e ignorante, passando pelas necessárias provas e
expiações que geram sofrimentos e dor, como formas de
aprendizado, educação e renovação rumo à perfeição
relativa à Humanidade, tendo o Mestre Jesus como modelo
e guia para as nossas vidas.
Bibliografia:
KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto
Bezerra. A Gênese. 2ª Edição. Brasília/DF:
Federação Espírita Brasileira, 2013.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon
Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon
Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
MIRANDA, Manoel Philomeno de (Espírito);
psicografado por Divaldo Pereira Franco. Transição
Planetária. 5ª Edição. Salvador/BA: Editora Leal,
2017.
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