Tô pagando!
Caetano foi
visitar uma
cidade histórica
e ao adentrar as
igrejas antigas,
para conhecer
seus detalhes
arquitetônicos,
percebeu que em
algumas janelas
de madeira e
atrás de alguns
bancos estavam
gravadas datas e
nomes de
famílias.
Curioso,
pergunta ao guia
turístico sobre
aquele fato e
recebe a
explicação de
que a família
que doava
recursos para a
construção da
igreja tinha
direito a gravar
o seu nome nos
móveis que
custearam, para
deixar claro a
toda a
comunidade a sua
doação.
Essa questão,
enterrada lá no
Brasil colônia
do passado, tem
reflexos até
hoje, e não
somente nos
irmãos
católicos, mas
também no
contexto das
casas espíritas,
e os dilemas do
financiamento de
sua
subsistência.
Sim, nossos
prédios, sua
manutenção e
atividades,
geram custos de
insumos,
energia,
alimentos,
material de
expediente,
funcionários
para a limpeza,
e que demandam
fundos para
serem honrados.
Muitas fórmulas
se apresentam na
prática para
arrecadar fundos
para se manter
as casas
espíritas, e
tradicionalmente
se organizam
almoços,
bazares, venda
de livros
doutrinários,
peças teatrais,
shows de música
e a cobrança de
mensalidades dos
associados,
evitando-se, por
conta de uma
ética que tem se
mostrado
salutar, a
cobrança direta
relacionada a
uma atividade,
rateando esses
custos entre
todos,
independente do
que se frequenta
ou não.
Não resta dúvida
que na prática
essa engenharia
financeira, um
tanto precária,
por vezes não dá
certo, e termina
por surgirem na
casa pessoas
que, pela sua
trajetória nesta
encarnação, têm
uma melhor
situação
econômica e
podem doar mais,
assumindo uma
condição de
patronesse das
atividades da
casa,
contribuindo de
maneira mais
acentuada para o
financiamento
das atividades.
Muitos desses
são discretos,
auxiliadores
anônimos, mas
alguns, como um
reflexo da nossa
sociedade,
começam a se
achar mais do
que os outros,
suplantando a
estrutura
estabelecida
para a casa pelo
simples fato de
estarem
subsidiando de
forma mais
acentuada
aquelas
atividades. A
dependência
daquele aporte
faz a casa, seus
dirigentes, se
calarem diante
dessas
situações, pela
continuidade das
atividades.
Aí, já vimos
esse filme...
Ascende o
autoritarismo
frente a gestão
participativa, e
o financiador
vai se tornando
dono da casa, e
aspectos
acessórios da
infraestrutura
vão ocupando
espaço nas
discussões das
atividades, e se
cria uma
estrutura de
poder paralela,
na qual se
valoriza mais
investimento
para se fazer o
que as vezes não
é importante, em
termos
doutrinários.
Com as devidas
adequações dessa
situação narrada
as realidades
observadas, essa
trajetória que
ocorre em
diversas casas
espiritas é a
mistura de uma
fragilidade no
processo de
financiamento
das atividades
atrelado a um
desejo de se
expandir mais do
que se pode
financiar,
dependendo do
apoio de
frequentadores
mais
aquinhoados, mas
que não
necessariamente
estão envolvidos
e comprometidos
com os ideais da
casa.
Assunto árido,
mas necessário,
desemboca também
nas questões
éticas no
financiamento de
nossas
atividades, que
pode trazer
conflitos de
interesses e
dissabores a
atividade
espírita, como o
exemplo aqui
detalhado do
patronesse, mas
pode se destacar
também outros
equívocos, como
a busca de
recursos
públicos que
podem atrelar as
atividades da
casa a agenda
político-partidária,
ou ainda, a
obtenção de
recursos pela
exploração de
atividades ou
espaços da casa
espírita com um
espírito diverso
dos fundamentos
da doutrina.
Como dito no
início do texto,
as casas
espíritas
precisam
financiar as
suas atividades,
de maneira
sustentável,
transparente e
com provisões
para as
incertezas. Tudo
isso se torna
complexo em um
país tão
desigual, com
bolsões de
pobreza, e
ainda, em casas
que conduzem as
suas atividades
com voluntários,
em tempos de uma
vida tão
atribulada.
E a questão se
complica quando
falamos das
atividades
assistenciais,
uma agenda
clássica em
nosso movimento,
mas que demanda
recursos, pois
as doações são
sempre
insuficientes
para atender as
famílias
assistidas e
sempre entra
orçamento da
casa para essas
coisas. E haja
almoço fraterno,
campanha, e tudo
isso em um
cenário no qual
os próprios
frequentadores
tem dificuldades
de fechar as
suas contas,
pelas crises
econômicas que
surgem de vez em
quando.
Além de árido,
esse é um tema
pouco debatido,
e nós,
frequentadores,
esquecemos de
nossa
responsabilidade
com a
subsistência da
casa, e nos
encaminhamos
para essas
armadilhas já
citadas,
entendendo esses
caminhos como um
mal necessário
para as nossas
atividades, mas
que, como meios
tortos, têm
consequências
nas finalidades
e, com o tempo,
os problemas
aparecem.
Não, este texto
não vai terminar
com uma solução
mágica. Ele traz
ponderações e
alertas, fazendo
luz sobre um
tema que precisa
entrar na pauta,
que são os
limites e
cuidados no
financiamento de
nossas
atividades. Um
tema que, apesar
de sempre ser
enquadrado como
acessório, pode
se converter em
um problema
central, seja
pela
sobrevivência da
casa espírita,
ou, ainda, por
riscos à imagem
e de deturpação
dos caminhos
desejados. Vale
o debate!