Reflexões didáticas sobre as aflições
Não é por coincidência que o capítulo V,
“Bem-aventurados os aflitos”, é um dos mais longos de O
Evangelho Segundo o Espiritismo. Nesse capítulo,
Allan Kardec em conjunto com os Espíritos, explica o
mecanismo da Lei de Causa e Efeito, fundamento da
justiça divina, estudando os dramas humanos ligados à
dor e ao sofrimento, características da vida do homem na
Terra.
Compreendendo Deus como sendo a justiça por excelência,
não é possível pensar que haja equívocos no Seu
julgamento. Portanto, há uma causa para o sofrimento e
ela não pode ser injusta.
O homem produz seu próprio infortúnio, já que o mal vem
dele. Livre para escolher, nem sempre o faz com acerto,
e como suas ações estão submetidas aos critérios das
Leis Superiores, sofre as reações do que tenha
produzido, concreta ou virtualmente. Seus vícios morais
lhe causam, já nesta vida, muito desconforto, dores e
preocupações.
Como uma só existência é insuficiente para que progrida
e atinja a perfeição, que é a sua destinação, se submete
a uma série variável, mas sempre muito numerosa de vidas
que lhe farão chegar a esse objetivo traçado por Deus
para todas as criaturas.
O difícil exercício de viver no corpo propicia ao homem
mais erros que acertos. Se ele viveu no passado, lá
errou também, o que implica em trazer para o presente,
pela reencarnação, consequências desse passado. O
sofrimento do homem tem, portanto, raízes nas vidas
anteriores, somadas a agravantes desencadeados no
presente.
Se os enganos desta vida já têm, por si só, enorme peso
psíquico sobre ele, que não pode fugir deles nem mesmo
pelo suicídio, imagine-se juntando a eles os “crimes” de
outras vidas. Por isso Deus estabeleceu o esquecimento
do passado, poupando a criatura do que poderia
acontecer-lhe se dele se lembrasse.
Sujeito a um programa de provas que farão desenvolver
sua inteligência e sentimento, o ser encarnado será
vitorioso se aceitá-las sem revolta e com resignação
ativa, como quem toma o remédio amargo sabendo que lhe
fará bem. Prova superada é caminho que não precisará
mais ser percorrido. Bem sofrer é converter a aflição em
conquista.
Nas determinações divinas não há excessos nem falta; ao
lado da dor está o remédio, ambos na dose certa e justa.
A Terra, como um verdadeiro laboratório da alma, onde se
expia e se é provado, não oferece ao homem a felicidade
real, proporcionando-lhe apenas momentos descontínuos de
alegria. Contudo, não será sempre assim. A força do
progresso continuará desenvolvendo a natureza humana, e
os caracteres cada vez mais abrandados do homem o
aproximarão da aurora da felicidade verdadeira que tanto
busca sem encontrar.
Na luta incessante por fazer-se digno, o homem sofre as
provas que Deus lhe manda para o seu adiantamento, e
fará muito se não comprometer o seu destino com novas
faltas; se não criar tormentos voluntários, que só
prejudicam a si próprio; se não inventar necessidades
artificiais que consomem o corpo e a mente; se não fugir
do mundo, isolando-se em concepções egoístas.
Aproveitará as provas e a vida se souber impor-se a si
mesmo, dominando o orgulho e o egoísmo; se do sacrifício
que fizer resultar bem ao próximo; se aplicar suas
energias na prática de boas ações.
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