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por Cláudio Bueno da Silva

 

Reflexões didáticas sobre as aflições


Não é por coincidência que o capítulo V, “Bem-aventurados os aflitos”, é um dos mais longos de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Nesse capítulo, Allan Kardec em conjunto com os Espíritos, explica o mecanismo da Lei de Causa e Efeito, fundamento da justiça divina, estudando os dramas humanos ligados à dor e ao sofrimento, características da vida do homem na Terra.

Compreendendo Deus como sendo a justiça por excelência, não é possível pensar que haja equívocos no Seu julgamento. Portanto, há uma causa para o sofrimento e ela não pode ser injusta.

O homem produz seu próprio infortúnio, já que o mal vem dele. Livre para escolher, nem sempre o faz com acerto, e como suas ações estão submetidas aos critérios das Leis Superiores, sofre as reações do que tenha produzido, concreta ou virtualmente. Seus vícios morais lhe causam, já nesta vida, muito desconforto, dores e preocupações.

Como uma só existência é insuficiente para que progrida e atinja a perfeição, que é a sua destinação, se submete a uma série variável, mas sempre muito numerosa de vidas que lhe farão chegar a esse objetivo traçado por Deus para todas as criaturas.

O difícil exercício de viver no corpo propicia ao homem mais erros que acertos. Se ele viveu no passado, lá errou também, o que implica em trazer para o presente, pela reencarnação, consequências desse passado. O sofrimento do homem tem, portanto, raízes nas vidas anteriores, somadas a agravantes desencadeados no presente.

Se os enganos desta vida já têm, por si só, enorme peso psíquico sobre ele, que não pode fugir deles nem mesmo pelo suicídio, imagine-se juntando a eles os “crimes” de outras vidas. Por isso Deus estabeleceu o esquecimento do passado, poupando a criatura do que poderia acontecer-lhe se dele se lembrasse.

Sujeito a um programa de provas que farão desenvolver sua inteligência e sentimento, o ser encarnado será vitorioso se aceitá-las sem revolta e com resignação ativa, como quem toma o remédio amargo sabendo que lhe fará bem. Prova superada é caminho que não precisará mais ser percorrido. Bem sofrer é converter a aflição em conquista.

Nas determinações divinas não há excessos nem falta; ao lado da dor está o remédio, ambos na dose certa e justa.

A Terra, como um verdadeiro laboratório da alma, onde se expia e se é provado, não oferece ao homem a felicidade real, proporcionando-lhe apenas momentos descontínuos de alegria. Contudo, não será sempre assim. A força do progresso continuará desenvolvendo a natureza humana, e os caracteres cada vez mais abrandados do homem o aproximarão da aurora da felicidade verdadeira que tanto busca sem encontrar.

Na luta incessante por fazer-se digno, o homem sofre as provas que Deus lhe manda para o seu adiantamento, e fará muito se não comprometer o seu destino com novas faltas; se não criar tormentos voluntários, que só prejudicam a si próprio; se não inventar necessidades artificiais que consomem o corpo e a mente; se não fugir do mundo, isolando-se em concepções egoístas.

Aproveitará as provas e a vida se souber impor-se a si mesmo, dominando o orgulho e o egoísmo; se do sacrifício que fizer resultar bem ao próximo; se aplicar suas energias na prática de boas ações.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita