Abundância e
caridade
A caridade é uma
palavra simples
e complexa ao
mesmo tempo. De
diferentes
matizes e
entendimentos,
fazer caridade é
uma maneira de
desenvolver o
potencial, de
realizar
entregas e de
melhorar, a si,
os outros e o
mundo a cada
dia.
A palavra tem
origem no latim caritas e
transmite a
relação de
sentimento, amor
ou afeto, mas
que, por outro
lado, também se
conecta com a
palavra grega cháris,
graça ou até
mesmo caro ou
que tem seu
valor. É o amor
incondicional da
graça e que tem
sua presença e
valor. Mas, o
que seria mesmo
a caridade?
Na literatura
grega há a
distinção entre
três tipos de
amor: Eros,
Philia e Ágape.
O primeiro
representa o
amor romântico,
carnal e objeto
de desejo. Por
Eros, há o
desejo sexual da
carne e da
matéria,
necessária para
a manutenção da
vida
reprodutiva, mas
que não exaure o
tema. Em Eros há
também o risco
de perder-se na
paixão e se
desequilibrar na
vida.
Já Philia,
o amor fraterno,
presente entre
irmãos, amigos e
almas com
afinidades. A
palavra filósofo
ou amigo do
conhecimento
retrata uma
dessas
configurações. Philia é
o amor
interpessoal e
que pode ser
focado em
determinados
temas ou
interesses.
Assim, pode
tratar de
interesses
materiais ou
terrenos, mas
que auxilia na
construção dos
relacionamentos
e da amizade.
Por último, Ágape é
o amor divino,
puro e sublime.
Por ele há o
amor
incondicional,
desinteressado e
naturalmente
bom. No
hebraico, o
correspondente
de Ágape é Ahava e
simboliza o amor
de doação ou
compartilhamento,
tal como o
dividir dos pães
em uma mesa ou o
repartir de
pratos em um
banquete, onde
todos se
beneficiam. Ahava retrata
tanto uma mescla
do comportamento
individual
frente à
coletividade,
quanto da
coletividade e
sua expansão. É
ultrapassar a
mera questão da
etiqueta social
ou da moral em
se portar com
dignidade diante
de autoridades e
irmãos. Ou seja,
de se contentar
internamente em
benefício do
próximo e da
tendência
afirmativa e
progressiva de
expansão. O
ganho do outro
representa
vitória para mim
também. É deixar
de lado a
inveja, o
egoísmo e o
orgulho, bem
como de
proporcionar a
condição do “ganha-ganha”.
Ou seja, todos
ganham e
participam da
mesa do banquete
da família
universal. Somos
todos filhos de
um mesmo Pai
bondoso e com
generosidades
suficientes para
dar créditos e
oportunidades
mesmo aos filhos
mais
endividados. A
caridade nos
aproxima então
de Deus e de sua
graça.
Além disso, a
caridade é um
enriquecimento
tanto externo,
quanto interno
do ser e dos
outros. Todavia,
apenas uma
condição de
abundância
permite tal
desenrolamento.
A plenitude ou
riqueza não se
restringe ao
material, apesar
de que as
condições
materiais de
encarnação podem
influenciar,
ainda que não
determine a
execução da
distribuição e
da caridade.
Condicionar a
bondade ou
maldade do
indivíduo pela
sua condição
material é
simplesmente
descartar o
espírito e o
avanço moral do
ser sobre a
matéria. Assim
como há
provações para
os que buscam
trilhar o
caminho da
pobreza
material, também
há para os que
trilham a
riqueza
material. E, em
ambos os casos,
há desafios e
conquistas,
problemas de
superação do
passado e
avanços no
futuro. Em
outras palavras,
resgates quando
bem executados e
dívidas quando
há as
derrocadas.
Para certos
espíritos que
buscam provas
específicas, as
riquezas
materiais, fama
e poder podem
representar
legítimos
obstáculos,
assim como
também as
situações de
penúria. Assim,
se o óbolo da
viúva é
meritório,
também o é
aquele que vem
como legítimos
Arjunas e
Sakyamunis. Para
sermos
perfeitos,
precisamos
passar por todas
as situações e
vencermos as
provações fáceis
e difíceis, tal
como alunado
que, para se
formar, não pode
pular séries.
Todavia, além da
caridade e
distribuição
material, também
é relevante
destacar outros
tipos de
abundância e
distribuição. É
fundamental
distribuir aos
semelhantes o
amor e tantas
outras virtudes
que edificam o
bem-estar na
terra. Apenas
aqueles que têm
em abundância as
virtudes e
sentimentos
conseguem passar
pelos testes sem
pestanejar e a
inspirar outros
para que sigam o
mesmo caminho.
Por exemplo, a
paciência, a
tolerância e o
equilíbrio
pessoal são
formas de fazer
caridade para
com irmãos em
situações
conflituosas. A
paciência é a
caridade de quem
abunda em paz,
experiência e em
consideração com
o próximo. Ser
alguém com
caridade no
tempo e tirar
momentos para
servir ao
próximo é ter a
consideração em
não estragar o
momento. O
essencial é
aproveitar toda
chance e
oportunidade
para a educação
e a transmissão
de exemplo e
inspiração para
a independência
futura.
Já a tolerância
como a caridade
dos que buscam
compreender o
caminho alheio,
sem estragar
sonhos e
momentos. É
fundamental que
se tenha uma
postura
respeitosa.
Tolerar
diferenças e
perspectivas não
significa
aceitar o
errado, mas de
perceber que há
diversos
caminhos e
estratégias para
se chegar no
resultado
designado. Não
raro, o caminho
das sutilezas
gera impactos
melhores do que
abordagens
diretas e
conflituosas.
Por sua vez, o
equilíbrio é a
caridade de
evitar que
conflitos
simples se
tornem maiores.
Ou em dito
popular: “quando
um não quer,
dois não
brigam”. Por
meio do
equilíbrio há a
caridade das
virtudes do bom
senso e da
capacidade de
buscar os
caminhos
corretos mesmo
apesar das
dificuldades. É
a moderação e a
temperança que
dão gosto às
relações
humanas.
Deste modo, a
caridade vem
como o caminho
da abundância e
plenitude, pois
apenas quem
possui pode dar,
como também, ao
se oferecer, há
a multiplicação
dos benefícios,
tal como na
famosa passagem
das
bem-aventuranças.
Quando se
multiplicam a
caridade há o
bem coletivo
maior, que
ultrapassa a
mera satisfação
pessoal ou
condição menor.
Todavia, não se
deve limitar a
caridade aos
meios materiais,
pelo contrário.
O altruísmo
beneficia a
coletividade e
os indivíduos
que se coadunam
como legítimo
corpo maior. É a
pavimentação não
da luz pessoal,
mas de autêntico
jardim e
floresta de luz
em busca da
unidade de Deus.
Quando a
humanidade
perceber o
potencial da
caridade, às
brigas e
conflitos
mesquinhos darão
passagem para
ganhos
superiores.
Apenas quando
toda a Terra for
legítima
floresta de luz
poderemos
brilhar como Sol
para todo o
Universo. Somos
luz e sal do
universo[1],
cabe apenas a
operacionalização
do grande
banquete para
saciarmos o amor
e o progresso de
todos.
Apenas assim,
prestando as
graças, as
fontes de
abundância e
riqueza jamais
secarão. Ou
conforme as
palavras do
salmista:
“Aquele que
oferece o
sacrifício de
louvor me
glorificará; e
àquele que bem
ordena o seu
caminho eu
mostrarei a
salvação de
Deus.” (Salmos
50:23) [2]
[2] Em
homenagem
aos meus
queridos
e
zelosos
genitores,
Paulo
Hayashi
e Ioko
Ikefuti
Hayashi,
que já
se
encontram
na
pátria
espiritual.