Correio mediúnico

Espírito: Irmão X

O candidato apressado


Quando Tiago, filho de Zebedeu, seguia o Mestre, a pequena distância, junto às margens do Jordão, eis que se aproxima jovem e piedoso senhor de terras, interessado em aderir ao Reino do Céu.

Resoluto, avançou para o apóstolo e indagou:

— Em verdade, o Messias é portador de uma Boa Nova?

O seguidor do Nazareno, mostrando imensa alegria no olhar cândido e lúcido, informou, feliz:

— Sim, é o mensageiro da Vida Eterna. Teremos, com Ele, o mundo renovado: nem opressores, nem vítimas, e, sim, irmãos, filhos do mesmo Pai…

— A que lema ele obedece? — inquiriu o rapaz, dono de extensa propriedade.

— O amor a Deus, acima de tudo, e ao próximo como a nós mesmos — respondeu Tiago, sem titubear.

— E a norma de trabalho?

— Bondade para com todos os seres, inclusive os próprios inimigos.

— O programa?

— Cooperação com o Pai Supremo, sob todos os aspectos, em favor do mundo regenerado.

— O objetivo?

— Felicidade para todas as criaturas.

— Que diretrizes estatui para os momentos difíceis?

— Perdão extenso e sincero, esquecimento do mal, auxílio mútuo, fraternidade legítima, oração pelos adversários e perseguidores, serviço desinteressado e ação altruística sem recompensa, com absoluta perseverança no bem, até ao fim da luta.

— Espera vencer sem exército e sem armas?

— O Mestre confia no concurso dos homens de boa vontade, na salvação da Terra.

— E, mesmo assim, admite a vitória final?

— Sem dúvida. Nossa batalha é a da luz contra a sombra; dispensa a competição sangrenta.

— Que pede o condutor do movimento, além das qualidades nobres mais comuns?

— Extrema fidelidade a Deus, num coração valoroso e fraterno, disposto a servir na Terra em nome do Céu.

O moço rico exibiu estranho fulgor nos olhos móveis e perguntou, após ligeira pausa:

— Acredita possível meu ingresso no círculo do Profeta?

— Como não? — exclamou Tiago, doce e ingênuo.

E o rapaz passou a monologar, evidenciando sublime idealismo:

— Desde muitos anos, sonho com a renovação. Nossos costumes sofrem decadência. As vozes da Lei parecem mortas nos escritos sagrados. Fenece o povo escolhido, como a erva improdutiva que a Natureza amaldiçoa. O romano orgulhoso domina em toda parte. O mundo é uma fornalha ardente, em que os legionários consomem os escravos. Enquanto isto, Israel dorme, imprevidente, olvidando a missão que Jeová lhe confiou…

Tiago assinalava-lhe os argumentos, deslumbrado. Nunca vira entusiasmo tão vibrante em homem tão jovem.

— O Messias nazareno — prosseguiu o rapaz, em tom beatífico — é o embaixador da verdade. É indispensável segui-lo na santificação. O Templo de Jerusalém é a casa bendita de nossa fé; entretanto, o luxo desbordante do culto externo, regado a sangue de touros e cabritos, obriga-nos a pensar em castigo próximo. Cerremos fileiras com o Restaurador. Nossos antepassados aguardavam-No. Aproximemo-nos d’Ele, a fim de executar-lhe os planos celestiais.

Demorando agora o olhar na radiante fisionomia do filho de Zebedeu, acrescentou:

— Não posso viver noutro clima… Procurarei o Messias e trabalharei na edificação da nova Terra!…

Desvencilhou-se do cabaz de uvas amadurecidas que sustinha na mão direita e gritou:

— Não perderei mais tempo!…

Afastou-se, lépido, sem que o discípulo do Cristo lhe pudesse acompanhar as passadas largas.

Marcos, o evangelista, descreve-nos o episódio, no capítulo dez, encontrando-se a narrativa nos versículos dezessete a vinte e dois.

Pôs-se o rapaz a caminho e chegou, correndo, ao lado de Jesus. Arfava, cansado. Pretendia imediata admissão no Reino do Céu e, ajoelhando-se, exclamou para o Cristo:

— Bom Mestre, que farei para herdar a Vida Eterna?

O Divino Amigo contemplou-o, sem surpresa, e interrogou:

— Por que me chamas bom? ninguém é bom, senão um, que é Deus.

Diante da insistência do candidato, indagou o Senhor quanto aos propósitos que o moviam, esclarecendo o rapaz que, desde a meninice, guardara os mandamentos da Lei. Jamais adulterara, nunca matara, nunca furtara e honrava pai e mãe em todos os dias da vida.

Terminando o ligeiro relatório, o jovem inquiriu, aflito:

— Posso incorporar-me, Senhor, ao Reino de Deus?

O Mestre, porém, sorriu, e explicou:

— Uma coisa te falta. Vai, dispõe de tudo o que te prende aos interesses da vida material, dando o que te pertence aos necessitados e aos pobres. Terás, assim, um tesouro no Céu. Feito isto, vem e segue-me.

Foi, então, que o admirável idealista exibiu intraduzível mudança. Num momento, esqueceu o domínio romano, a impenitência dos israelitas, o sonho de redenção do Templo, a Boa Nova e o mundo renovado. Extrema palidez cobriu-lhe o rosto, e ele, que chegara correndo, retirou-se, em definitivo, passo a passo, muito triste…

 

Do livro Luz acima, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita