A verdade
A reflexão, a inspiração e a revelação são as
três alavancas do espírito humano
“Conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará”. -
Jesus. (Jo., 8:32.)
Cada uma das três Revelações apresenta
característica própria:
a Primeira Revelação – Moisés – Justiça;
a Segunda Revelação – Jesus – Amor; Vida Futura;
a Terceira Revelação – O Espiritismo – A
Verdade.
Quando Pilatos perguntou a
Jesus o que era a Verdade, o Mestre silenciou...
O capacho de César não possuía descortino
intelectual e/ou vivencial para entender o que é
a Verdade, uma vez que a sua era a “verdade” revestida
pelos ouropéis mundanos.
Todas as religiões – desde as que se perdem na
noite dos tempos – até às de hoje têm fragmentos
da verdade. Mas, tão somente o Espiritismo a
revela na magnitude que nossos parcos
conhecimentos permitem abarcar. Está traçado o
caminho da libertação, o caminho da alforria
espiritual. Resta apenas aguardar a chegada do
quinhão de boa vontade de cada um para trilhar a
senda que conduz ao seu regaço confortador. Há
que se ter humildade para alcançar a verdade.
Enquanto estivermos entronizando o orgulho, o
egoísmo e toda a coorte de seus sicários, jamais
poderemos vislumbrar o alvorecer da Era Nova.
Os conceitos com que tentam traduzir a Verdade
vêm desafiando a inteligência dos filósofos de
todos os tempos, mas existem aqueles cujo
desembaraço dos prejuízos lhes permite alcançar
um maior distanciamento, redesenhando, assim os
novos contornos dos limites do conhecimento
sobre a Verdade.
Uma vez perguntaram a Blaïse Pascal o que ele
entendia ser a Verdade, e sua resposta não se
fez esperar:
“(...) a Verdade, meu amigo, é uma dessas
abstrações para a qual o espírito humano tende,
sem cessar, sem poder jamais alcançá-la. É
preciso que a ela se incline, é uma das
condições do progresso, mas sua natureza
imperfeita, e só por isso ela é imperfeita, não
saberia a ela chegar. Seguindo a direção que
segue a Verdade, em sua marcha ascendente, o
espírito humano está no caminho providencial,
mas não lhe é dado ver-lhe o fim.
Compreender-me-ás melhor quando souberes que a
Verdade é, como o tempo, dividida em duas partes
pelo momento inapreciável que se chama o
presente, a saber: o passado e o futuro. Há,
pois, duas Verdades também, a Verdade relativa e
a Verdade absoluta. A Verdade relativa é o que
é; a Verdade absoluta é o que deveria ser. Ora,
como o que deveria ser sobe por degraus até a
perfeição absoluta que é Deus, segue-se que,
para os seres criados escalando a rota
ascensional do progresso, não há senão Verdades
relativas. Mas de que uma Verdade relativa não é
imutável, ela não é menos sagrada para o ser
criado.
Vossas leis, vossos costumes, vossas
instituições são essencialmente perfectíveis e,
por isto mesmo, imperfeitas; mas suas
imperfeições não vos livra do respeito que lhes
deveis. Não é permitido anteceder seu tempo e de
se fazer leis fora das leis sociais. A
humanidade é um ser coletivo que deve caminhar,
senão em seu conjunto, pelo menos por grupos,
para o progresso do futuro; aquele que se
destaca da sociedade humana para avançar como
filho perdido, para as Verdades novas, sofre
sempre, sobre vossa Terra, a pena devida à sua
impaciência. Deixai aos iniciadores, inspirados
do Espírito de Verdade, o cuidado de
proclamar as leis do futuro submetendo-se à do
presente. Deixai a Deus, que mede vossos
progressos pelos esforços que fazeis para vos
tornardes melhores, o cuidado de escolher o
momento que crê útil para uma nova transição,
mas não vos subtraiais jamais a uma lei senão
quando ela tiver sido derrogada.
Porque o Espiritismo foi revelado entre vós, não
creiais num cataclismo das instituições sociais;
até este dia ele realizou uma obra subterrânea e
inconsciente para aqueles que lhe foram os
instrumentos. Hoje que ele aflora ao solo, e
que chega à luz do dia, a marcha do progresso
não deve por isso ser menos de uma lenta
regularidade. Desconfiai dos Espíritos
impacientes que vos levam aos caminhos perigosos
do desconhecido. A Eternidade que vos foi
prometida deve vos fazer tomar em piedade as
ambições tão efêmeras da vida. Sede reservados
até em suspeitar frequentemente da voz dos
Espíritos que se manifestam.
Lembrai-vos disto: o Espírito humano se move e
se agita sob a influência de três causas que
são: a reflexão, a inspiração e a revelação.
A reflexão é a riqueza de vossas
lembranças que agitais voluntariamente. Nela, o
homem encontra o que lhe é rigorosamente útil
para satisfazer as necessidades de uma posição
estacionária.
A inspiração é a influência dos Espíritos
extraterrestres que se misturam mais ou menos
às vossas próprias reflexões para vos levar ao
progresso, é a intromissão do melhor na
insuficiência da transição; é uma força nova que
se acrescenta a uma força adquirida para vos
levar mais longe do que o presente, é a prova
irrecusável de uma causa oculta que vos impele
para frente, e sem a qual permaneceríeis
estacionados; porque é da regra física e moral
que o efeito não poderia ser maior do que sua
causa, e quando esta chega, como no progresso
social, é que uma causa ignorada, desapercebida,
se juntou à causa primeira de vosso impulso.
A revelação é a mais elevada das forças
que agitam o espírito do homem, porque ela vem
de Deus e não se manifesta senão por Sua vontade
expressa; ela é rara, algumas vezes mesmo
inapreciável, algumas vezes evidente para aquele
que a sentir ao ponto de se sentir
involuntariamente tomado de um santo respeito.
Eu o repito, ela é rara, e dada comumente como
uma recompensa à fé sincera, ao coração
devotado; mas não tomeis como revelação
tudo o que pode vos ser dado por tal. O homem
exibe a amizade dos grandes, os Espíritos exibem
uma permissão especial de Deus, que
frequentemente lhes faz falta; eles fazem
algumas vezes promessas que Deus não ratifica,
porque só Ele sabe o que é preciso e o que não é
preciso.
Eis, meu amigo, tudo o que te posso dizer sobre
a Verdade. Humilha-te
diante do Grande Ser, porque tudo vive e
se move na infinidade
dos mundos que Seu poder rege; pense que se
n`Ele se encontra
toda a sabedoria, toda a justiça e todo o poder;
n`Ele se encontra também toda a
Verdade.”
- BÍBLIA,
N.T. João.
Português. O novo testamento.
Tradução de João Ferreira de Almeida.
Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica
Brasileira, 1983. cap. 18. vers.
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