Ainda a questão de gênero
Tempo de eleições, tempo de decisões importantes que vão
certamente impactar as nossas vidas. A democracia
representa um avanço considerável nas sociedades
humanas. Mas, cumpre lembrar que o fato de poder
escolher nossos futuros legisladores e gestores públicos
também nos traz muita responsabilidade. Escolher um
candidato preparado e de reputação ilibada para tal
desafio é um imperativo cívico, especialmente diante da
enorme divisão ideológica presente em nossa sociedade.
Nosso país continua extremamente carente de políticos
bem-intencionados e desprendidos dos interesses
pessoais. Infelizmente, a previsão é de que haverá pouca
renovação parlamentar nesse pleito. Sendo essa a
realidade, pois tenhamos cuidado a fim de não nos
arrependermos.
Em tempos de eleições geralmente ouvimos e lemos coisas
absurdas, propostas bizarras e sobretudo muita mentira
(atualmente denominada de fake news). Nesse
sentido, chamou-me a atenção a declaração de determinada
candidata à presidência da república: “mulher vota em
mulher”. Tal afirmação, profundamente assentada num
estreito pensamento feminista - que, por sinal,
mostra-se, na prática, tão ou mais enviesado e
intelectualmente ralo que o machista -, delimita muito
as ideias e percepções acerca de gênero transformando-as
numa explícita competição entre indivíduos de sexos
opostos. Fiquei a imaginar se algum candidato, aceitando
a absurda provocação, propusesse o contrário, onde
chegaríamos? Especulo que, no mínimo, nada de
inteligente ou construtivo.
Na última eleição, a propósito, votei numa mulher para o
senado. O fiz baseado em sua trajetória, ideais e
curriculum, enfim. Considerei que ela tinha capacidade o
que lhe conferia o direito de postular a tal cargo,
aliás, merecidamente conquistado por ela. Minha decisão
foi totalmente pautada no mérito (embora até essa
variável venha sendo questionada atualmente, não consigo
enxergar melhor pré-requisito), e suponho que muitos
outros o fizeram pelo mesmo motivo.
Assim como ela, outras mulheres também conquistaram o
seu espaço no âmbito político (também cedido, cabe
destacar, por muitos homens cordatos e equilibrados, que
enxergam as coisas sob mais amplas perspectivas).
Resultado: umas saíram-se bem, outras não. Tivemos,
cumpre também lembrar, uma presidente eleita
democraticamente. As evidências têm mostrado que
mulheres não enfrentam mais um intransigente cerceamento
à sua entrada à vida pública. Aliás, os partidos
políticos têm convocado indivíduos do sexo feminino para
disputar os pleitos eleitorais pelas suas legendas. Há
até mesmo quotas estabelecidas pela lei vigente, de tal
forma que não se pode declarar a existência de
discriminação contra as mulheres que desejam ingressar
nesta esfera. Mas o voto democrático soberano decide,
por fim, quem será eleito ou não.
O que me parece essencial, no entanto, é que elejamos
pessoas verdadeiramente preparadas e capazes de lidar
com os reais problemas humanos, independentemente do seu
gênero. Em paralelo, vale recordar que a última eleição
presidencial americana produziu resultados muito
interessantes e dignos de nota: um presidente já em
plena terceira idade e uma vice pertencente à raça
negra. Mais ainda, estudos recentemente publicados
indicaram que a maioria dos eleitores daquela nação
pendeu para a chapa que demonstrava um perfil de
liderança andrógena. Ou seja, a chapa vencedora
apresentou um equilíbrio entre traços masculinos e
femininos no relevante campo da liderança. Desse modo, a
persistir a tendência, os novos líderes –
independentemente do seu gênero - devem procurar exibir
simultaneamente características agênticas
(assertividade, determinação e proatividade) e comunais
(empatia, compaixão e disposição para ajudar) em seu
perfil de comando. Nos Estados Unidos há, na atualidade,
a emergência de políticos assim delineados e, por
extensão, o mesmo poderá acontecer em nossa pátria.
Como resultante teríamos as pessoas ideais na liderança
da nação. Também é apropriado lembrar que envergar a
polaridade masculina ou feminina decorre da escolha do
Espírito com vistas ao seu progresso, conforme nos
esclarecem os maiorais da espiritualidade. Assim sendo,
disseminar radicalismos numa ou noutra direção nada útil
produz a não ser o fato de evidenciar atraso espiritual
e intelectual dos seus proponentes que não divisam algo
mais além. Como bem recomenda o Espírito Emmanuel, na
obra Fonte Viva (psicografia de Francisco Cândido
Xavier), “Que nossa atividade, dentro da vida produza
muito fruto de paz e sabedoria, amor e esperança, fé e
alegria, justiça e misericórdia, em trabalho digno e
constante, porquanto, somente assim o Pai será por nós
glorificado e só nessa condição seremos discípulos do
Mestre Crucificado e Redivivo”.
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