Artigos

por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Ainda a questão de gênero


Tempo de eleições, tempo de decisões importantes que vão certamente impactar as nossas vidas. A democracia representa um avanço considerável nas sociedades humanas. Mas, cumpre lembrar que o fato de poder escolher nossos futuros legisladores e gestores públicos também nos traz muita responsabilidade. Escolher um candidato preparado e de reputação ilibada para tal desafio é um imperativo cívico, especialmente diante da enorme divisão ideológica presente em nossa sociedade. Nosso país continua extremamente carente de políticos bem-intencionados e desprendidos dos interesses pessoais. Infelizmente, a previsão é de que haverá pouca renovação parlamentar nesse pleito. Sendo essa a realidade, pois tenhamos cuidado a fim de não nos arrependermos.

Em tempos de eleições geralmente ouvimos e lemos coisas absurdas, propostas bizarras e sobretudo muita mentira (atualmente denominada de fake news). Nesse sentido, chamou-me a atenção a declaração de determinada candidata à presidência da república: “mulher vota em mulher”. Tal afirmação, profundamente assentada num estreito pensamento feminista - que, por sinal, mostra-se, na prática, tão ou mais enviesado e intelectualmente ralo que o machista -, delimita muito as ideias e percepções acerca de gênero transformando-as numa explícita competição entre indivíduos de sexos opostos. Fiquei a imaginar se algum candidato, aceitando a absurda provocação, propusesse o contrário, onde chegaríamos? Especulo que, no mínimo, nada de inteligente ou construtivo.

Na última eleição, a propósito, votei numa mulher para o senado. O fiz baseado em sua trajetória, ideais e curriculum, enfim. Considerei que ela tinha capacidade o que lhe conferia o direito de postular a tal cargo, aliás, merecidamente conquistado por ela. Minha decisão foi totalmente pautada no mérito (embora até essa variável venha sendo questionada atualmente, não consigo enxergar melhor pré-requisito), e suponho que muitos outros o fizeram pelo mesmo motivo.

Assim como ela, outras mulheres também conquistaram o seu espaço no âmbito político (também cedido, cabe destacar, por muitos homens cordatos e equilibrados, que enxergam as coisas sob mais amplas perspectivas). Resultado: umas saíram-se bem, outras não. Tivemos, cumpre também lembrar, uma presidente eleita democraticamente. As evidências têm mostrado que mulheres não enfrentam mais um intransigente cerceamento à sua entrada à vida pública. Aliás, os partidos políticos têm convocado indivíduos do sexo feminino para disputar os pleitos eleitorais pelas suas legendas. Há até mesmo quotas estabelecidas pela lei vigente, de tal forma que não se pode declarar a existência de discriminação contra as mulheres que desejam ingressar nesta esfera. Mas o voto democrático soberano decide, por fim, quem será eleito ou não.

O que me parece essencial, no entanto, é que elejamos pessoas verdadeiramente preparadas e capazes de lidar com os reais problemas humanos, independentemente do seu gênero. Em paralelo, vale recordar que a última eleição presidencial americana produziu resultados muito interessantes e dignos de nota: um presidente já em plena terceira idade e uma vice pertencente à raça negra. Mais ainda, estudos recentemente publicados indicaram que a maioria dos eleitores daquela nação pendeu para a chapa que demonstrava um perfil de liderança andrógena. Ou seja, a chapa vencedora apresentou um equilíbrio entre traços masculinos e femininos no relevante campo da liderança. Desse modo, a persistir a tendência, os novos líderes – independentemente do seu gênero - devem procurar exibir simultaneamente características agênticas (assertividade, determinação e proatividade) e comunais (empatia, compaixão e disposição para ajudar) em seu perfil de comando. Nos Estados Unidos há, na atualidade, a emergência de políticos assim delineados e, por extensão, o mesmo poderá acontecer em nossa pátria.

Como resultante teríamos as pessoas ideais na liderança da nação. Também é apropriado lembrar que envergar a polaridade masculina ou feminina decorre da escolha do Espírito com vistas ao seu progresso, conforme nos esclarecem os maiorais da espiritualidade. Assim sendo, disseminar radicalismos numa ou noutra direção nada útil produz a não ser o fato de evidenciar atraso espiritual e intelectual dos seus proponentes que não divisam algo mais além. Como bem recomenda o Espírito Emmanuel, na obra Fonte Viva (psicografia de Francisco Cândido Xavier), “Que nossa atividade, dentro da vida produza muito fruto de paz e sabedoria, amor e esperança, fé e alegria, justiça e misericórdia, em trabalho digno e constante, porquanto, somente assim o Pai será por nós glorificado e só nessa condição seremos discípulos do Mestre Crucificado e Redivivo”.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita