O temor da morte
O medo da morte deve ser enfrentado através do
exercício da razão e da lógica
“Se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a
morte.” -
Jesus. (João, 9:51.)
A Humanidade ainda está longe de perder o pavor
provocado pela morte, uma vez que foi “cozinhada” durante
séculos, no caldo cultural judaico-cristão que a
pintou com as cores mais pesadas e tristes que
já existiram.
Kardec esclarece bem
essa questão, afirmando que para libertar-se
dessa fobia faz-se necessário encarar a morte
sob o seu verdadeiro ponto de vista, isto é:
penetrar pelo pensamento o mundo espiritual,
fazendo dele uma ideia tão exata quanto
possível, visto que tal
temor decorre da noção insuficiente da vida
futura.
Assim que nascemos começamos a morrer, e segundo
podemos aprender com a nobre Mentora Joanna de
Ângelis em
psicografia de seu pupilo Divaldo Franco: “(...)
nesse processo de transformações incessantes,
chega o momento da parada final dos equipamentos
biológicos, e tal ocorrência é perfeitamente
natural, não podendo responder pelos pavores que
têm sido cultivados.
(...) Um aprofundamento mental demonstra que a
morte não dói, não apavora, mas, o estado
psicológico de cada um, em relação à mesma,
transfere as impressões íntimas para
o exterior, dando curso às manifestações
aparvalhantes.
A Psicologia Transpessoal, lidando com o ser
psíquico, (o ser espiritual), sabe-o em processo
de evolução, entrando no corpo — reencarnação —
e dele saindo — desencarnação — da mesma forma
que o corpo se utiliza de
roupas, que lhe são necessárias e dispensáveis
conforme as ocasiões. O simples hábito de
dormir, quando se mergulha na inconsciência
relativa, é uma experiência de morte que deve
servir de padrão comparativo para o fim do
processo biológico.
Conforme o eu profundo considere a morte,
povoando-a de incertezas, gênios do mal, regiões
punitivas ou aniquilamento, dessa forma a
enfrentará. O oposto igualmente se dá: vestindo
a morte de esperança de reencontros
felizes, de aspirações enobrecidas, de
agradável despertar, ocorrerá o milagre da
vida. O medo decorre tão somente da
ignorância da realidade espiritual e do apego ao
transitório físico.
Freud afirmava que o instinto da morte é
superior ao de conservação da vida, o que é
perfeitamente natural, tendo-se em vista que o
corpo é fenômeno, e este passa, permanecendo a
causa, que é a energia, a vida em si mesma. A
psicoterapia preventiva, como curadora para o
medo da morte, propõe uma conduta harmônica com
os níveis
superiores de consciência desperta, lúcida,
avançando para a transcendência do eu,
até culminar na identificação com a Cósmica.
Pensar e agir bem; amar e amar-se; servir, como
forma de ser feliz; vincular-se à Fonte da Vida
Perene, causal e terminal; meditar,
beneficiando-se com o autodescobrimento e
tornando-se um agente de esperança e de paz, eis
como viver sem morrer e morrer para perpetuar a
vida”.
Em sua portentosa obra,
Léon Denis explica: “(...) a morte é o estado de
exteriorização total e de libertação do "eu" sensível
e consciente, afirmando, também que o nascimento
é como que uma morte para a alma, que por ela é
encerrada com o seu corpo etéreo no túmulo da
carne. O que chamamos morte é simplesmente o
retorno da alma à liberdade, enriquecida com as
aquisições que pôde fazer durante a vida
terrestre; e vimos que os diferentes estados do
sono são outros tantos regressos momentâneos à
vida do Espaço. Quanto mais profunda for a
hipnose, tanto mais a alma se emancipa e afasta.
O sono mais intenso confina com a primeira fase
da vida invisível.
“(...) Na realidade, as palavras sono e morte
são impróprias. Quando adormecemos para a vida
terrestre, acordamos para a vida do Espírito.
Produz-se o mesmo fenômeno na morte; a
diferença está só na duração.
CHEGADA AO MUNDO MAIOR
A situação do Espírito depois da morte é a
consequência direta das suas inclinações, seja
para a matéria, seja para os bens da
inteligência e do sentimento. Se as propensões
sensuais dominam, o ser forçosamente se
imobiliza nos planos inferiores que são os mais
densos, os mais grosseiros. Se alimenta
pensamentos belos e puros, eleva-se a esferas
em relação com a própria natureza dos seus
pensamentos.
Swedenborg disse com razão: "o Céu está onde
o homem pôs o seu coração"; todavia, não é
imediata a classificação, nem súbita a
transição.
Se o olhar humano não pode passar bruscamente da
escuridão à luz viva, sucede o mesmo com a alma.
A morte faz-nos
entrar num estado transitório, espécie de
prolongamento da vida física e prelúdio da vida
espiritual. É o estado de perturbação,
estado mais ou menos
prolongado segundo a natureza espessa ou etérea do
perispírito.
Livre do fardo material que a oprimia, a alma
acha-se ainda envolvida na rede dos pensamentos
e das imagens - sensações, paixões, emoções,
por ela geradas no decurso das suas vidas
terrestres; terá de familiarizar-se com
a sua nova situação, entrar no conhecimento do
seu estado,
antes de ser levada para o meio cósmico adequado
ao seu grau de luz e densidade.
A princípio, para o maior número, tudo é motivo
de admiração
nesse outro mundo onde as coisas diferem essencialmente
do meio terrestre. As leis da gravidade são mais
brandas; as paredes não são obstáculos; a alma
pode atravessá-las
e elevar-se aos ares. Não obstante, continua retida
por certos estorvos que não pode definir. Tudo a
intimida e enche de hesitação, mas os seus
amigos de lá a vigiam e guiam-lhe os
primeiros voos.
Os Espíritos adiantados depressa se libertam de
todas as
influências terrestres e recuperam a consciência
de si mesmos. O
véu material rasga-se ao impulso dos seus pensamentos
e abrem-se perspectivas imensas. Compreendem
quase logo a sua situação e com facilidade a ela
se adaptam.
Seu corpo espiritual, instrumento volitivo,
organismo
da alma, de que ela nunca se separa, que é a
obra de todo o seu passado, porque
pessoalmente o construiu e teceu
com a sua atividade, flutua algum tempo na
atmosfera;
depois, segundo o seu estado de sutileza, de
poder, corresponde às atrações
longínquas, sente-se naturalmente
elevado para associações similares, para agrupamentos
de Espíritos da mesma ordem, Espíritos luminosos
ou velados, que rodeiam o recém-chegado com solicitude
para o iniciarem nas condições do seu novo modo
de existência”.
-
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 51.ed.
Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 1ª parte,
cap. II.