O tabuleiro Ouija
O portal de notícias Contra Fatos! (contrafatos.com.br),
em sua edição de 16 de novembro de 2022, trouxe uma
matéria dando conta de que, no corredor de uma escola
localizada na cidade de Hato na Colômbia, recentemente
onze adolescentes com idades entre 13 e 17 anos foram
encontrados desmaiados num dos corredores do
estabelecimento de ensino, depois de terem participado
de um jogo utilizando um tabuleiro ou tábua Ouija, por
intermédio do qual supostamente se pode fazer contato
com o mundo espiritual. Conduzidos a um hospital os
meninos ficaram internados durante um dia e conforme o
coordenador médico de emergência, Juan Pablo Vargas
Nogueira, não foram encontradas alterações psicológicas
nos pacientes, tendo ocorrido, sim, um episódio de
intoxicação pela água que todos beberam de um mesmo
copo. O prefeito da cidade, no entanto, não descartou a
possibilidade de os desmaios terem sido causados pelo
uso do instrumento Ouija, muito em voga na Europa e nas
Américas a partir da primeira metade do século XIX.
Algumas publicações pesquisadas na Internet afirmam que
o primeiro instrumento que teria dado origem à atual
placa Ouija foi encontrada na China no ano 1.100 d.C.,
entre documentos históricos da dinastia Song. “A
comunicação era conhecida como Fuji, que pode ser
traduzido como “Escrita Espiritual”. Era usada em
rituais e apenas sob supervisão de membros autorizados.
Até ser proibida pela Dinastia Qing, foi uma prática
recorrente na Escola Quanzhen.” (¹)
O empresário estadunidense Charles Kennard teria sido o
criador do primeiro protótipo do Ouija da Era Moderna,
uma espécie de 'mesa falante', em meados do século XIX.
Kennard nominou o aparelho de Ouija após consulta aos
espíritos, que lhe disseram significar “Boa Sorte”.
Em 1891 o conterrâneo de Kennard, Elijah J. Bond
recebeu a concessão da patente para fabricação dos
tabuleiros falantes, tendo vendido rapidamente milhares
deles.
Atualmente, a procura por esses instrumentos é saliente
podendo ser encontrados até mesmo em sites de vendas
pela Internet.
Levo-me a crer que, em O
Livro dos Médiuns, (²) capítulo XI, item 143,
publicado em 1861, Allan Kardec fazia menção a aparelhos
similares ao Ouija na seguinte passagem “Esses
instrumentos só os conhecemos pelos desenhos e
descrições que têm sido publicados na América. Nada,
pois, podemos dizer do valor deles; temos, porém, para
nós, que a só complicação que denotam constitui um
inconveniente; que a independência do médium se comprova
perfeitamente pelas pancadas interiores e, ainda melhor,
pelo imprevisto das respostas, do que por todos os meios
materiais. (...)”
No item 144 do mesmo
capítulo ele se refere a uma Mesa-Girardin com a
seguinte alusão: “Um aparelho mais simples, porém, do
qual a má-fé pode abusar facilmente, conforme veremos no
capítulo das Fraudes, é o que designaremos sob o nome de
Mesa-Girardin, tendo em atenção o uso que fazia dele a
Sra. Emílio de Girardin nas numerosas comunicações que
obtinha como médium. Porque, essa senhora, se bem fosse
uma mulher de espírito, tinha a fraqueza de crer nos
Espíritos e nas suas manifestações. Consiste o
instrumento num tampo móvel de mesa, com o diâmetro de
trinta a quarenta centímetros, girando livre e
facilmente em torno de um eixo, como uma roleta. Sobre
sua superfície e acompanhando-lhe a circunferência, se
acham traçados, como sobre um quadrante, as letras do
alfabeto, os algarismos e as palavras sim e não. Ao
centro existe uma agulha fixa. Pousando o médium os
dedos na borda do disco móvel, este gira e para, quando
a letra desejada está sob a agulha. Escrevem-se, umas
após outras, as letras indicadas e formam-se assim,
muito rapidamente, as palavras e as frases. (...)” “Sem
dúvida, eles preferem os meios mais cômodos e,
sobretudo, mais rápidos; mas, em falta de lápis e papel,
não escrupulizarão de valer-se da vulgar mesa falante e
a prova é que, por esse meio, se obtém os mais sublimes
ditados. (...)”.
No capítulo XIII da mesma obra, Kardec fala sobre
“Psicografia indireta: cestas e pranchetas” no qual cita
outros instrumentos usados para comunicação com entes
espirituais, ressaltando o seguinte: “Efetivamente,
como acabamos de ver, as mesas, pranchetas e cestas não
são mais do que instrumentos ininteligentes, embora
animados, por instantes, de uma vida fictícia, que nada
podem comunicar por si mesmos. Dizer o contrário é tomar
o efeito pela causa, o instrumento pelo princípio. (…).”
A abundância de instrumentos que supostamente servem
para comunicação com os mortos aumenta proporcionalmente
as probabilidades de se fraudarem tais contatos. Por
isso mesmo, o Codificador alerta no capítulo
XXVIII-Charlatanismo e Prestidigitação/Médiuns
Interesseiros/Fraudes Espíritas, item 314 sobre tais
armadilhas.
No capítulo XXV-Questões e Perguntas, item 282-11,
Kardec indaga e os Espíritos respondem:
11. Será
inconveniente evocar Espíritos inferiores e será de
temer que eles dominem o evocador?
— Eles só
dominam os que se deixam dominar. Quem for assistido por
Espíritos bons nada tem a temer, porque se impõe aos
Espíritos inferiores e não estes a ele. Os médiuns
quando sós, principalmente quando iniciantes, devem
evitar essa espécie de evocações.
Com isso, o Codificador alerta para o perigoso
inconveniente de se evocar espíritos em reuniões e com
propósitos frívolos, como possivelmente possa ter
ocorrido com os garotos da cidade de Hato na Colômbia –
e que deu-me ensejo de escrever este artigo – porque
ambientes dessa natureza são atrativos para os espíritos
zombadores e atrasados a quem pouco importa constranger
ou fazer o mal a quem os evoca, utilizando-se seja que
instrumentos forem.
Reuniões para se evocarem aqueles que já se despiram das
vestes carnais devem ser realizadas somente em ambientes
adrede preparados, com propósitos moralmente úteis à
evolução da Humanidade, como por exemplo as sessões
mediúnicas nos centros espíritas pundonorosos e
íntegros, mediadas por pessoas de caráter ilibado e de
profundo conhecimento da Doutrina Espírita.
(¹) para acessar, clique
aqui
(²) O Livro dos Médiuns, de Allan
Kardec
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