A certeza da imortalidade
“Nunca ninguém voltou da morte para nos contar como é.”
Esta a frase que ouvimos repetidamente, quando o tema
“vida para além da morte” é tema de conversa.
A alma humana tem necessidade de saber, de crer, mas
crer através de uma compreensão maior, que, não mais
como antigamente, se cinja a uma fé cega e dogmática,
mas firmada na razão, no discernimento.
A humanidade cresceu, amadureceu, desenvolveu-se,
através das sucessivas idas e vindas entre o plano
espiritual e o terreno. Pelas reencarnações, através dos
milénios, ascendida a inteligência a patamares que nos
situam num campo do estudo, da pesquisa, da
experimentação, tornámo-nos mais exigentes, não nos
contentamos com explicações pueris e infantilizadas que
nos serviam em épocas de maior obscurantismo. Quadros
lendários e imaginosos que nos eram “impingidos” em
outras eras, e que acatávamos de boamente, por sermos
ainda almas infantis e necessitadas de imagens
fortemente materiais, já não nos seduzem. O inferno das
penas eternas, o céu da contemplação do esplendor divino
(por muito esplendoroso que possa ser), a ressurreição
da carne (por muito milagrosa que se apresente), a
criação do mundo em três dias, o Deus parcial, pai
implacável vingativo e exigente, as orações pré-feitas e
pagas para alcançar dádivas, e tantos outros exemplos
que aqui poderiam surgir, se fosse esse o nosso intento,
vão, cada vez mais, parecendo, às gerações atuais,
simples contos de entreter crianças ingénuas.
Entretanto, o que nos resta, abaladas todas essas
crenças ingénuas e sem sentido? Onde buscar a Fé
esclarecida? Em que acreditar? A mente humana,
esclarecida intelectualmente, cada vez mais habituada a
pensar por si mesma, crente na ciência que de tudo busca
o comprovativo, sente-se perdida quando se trata de
questões de espiritualidade. Mas, cada vez mais,
encontramos quem se debruce sobre estas questões e
procure nelas refletir, buscando, além da matéria,
soluções para as questões fundamentais da vida: Quem
somos? O que somos? De onde viemos? Por que estamos
aqui? Para onde vamos? Por que sofremos? Qual o
verdadeiro sentido da vida? Há, realmente, um sentido
para a vida? Seremos apenas obra de um acaso? O
resultado de combinações químicas fortuitas? Qual o
nosso papel em tudo o que nos acontece? Há um autor do
Universo? Quem é Ele? Por que nos criou? O que nos
acontecerá para além da morte? Como será a outra vida?
Há outra vida?
São tantas e tão variadas as questões com que nos
deparamos, quando procuramos um sentido para a
existência! A ânsia da busca das verdades fundamentais é
comum à maioria de nós. Daí a proliferação das mais
variadas religiões e cultos em todos os tempos e
civilizações, desde os tempos remotos da pré-história
até aos dias de hoje. São resultado dessa procura de
ligação com uma sabedoria maior que a humanidade sempre
pressentiu estar por trás do Universo.
Diz Léon Denis, no seu livro Cristianismo e
Espiritismo, que “o homem tem tanta necessidade de
uma crença como de uma pátria, como de um lar”.
Infelizmente, as religiões tradicionais, a quem cabia a
tarefa de fazer crescer a humanidade para a ligação com
Deus, prenderam-se aos interesses puramente materiais e
levaram-na à submissão a dogmas e rituais exteriores que
a mantiveram na ilusão e no engano. Crentes que, pelo
seguimento dos ritos impostos pelas religiões,
estaríamos nas boas graças de Deus, despreocupámo-nos de
seguir a sua Lei, acarretando sofrimentos que poderiam
ser evitados.
Mas tudo fez parte do crescimento espiritual.
Jesus deixou-nos ensinamentos inestimáveis, que quando
seguidos em toda a sua plenitude, nos farão estar sempre
em sintonia com a Lei do Pai. Disse-nos Ele que vinha
trazer a Verdade e a Verdade nos libertaria. Se antes
não estávamos preparados para entender a Verdade em todo
o seu esplendor (e o Mestre bem o sabia), o estádio
evolutivo atual da Terra, cada vez nos vai dando mais
competências para avançarmos também nesse entendimento
maior que urge alcançar. Estamos atravessando tempos
extremos, em que a nossa Fé e a vontade de seguir em
frente para patamares mais elevados está sendo posta à
prova. São tempos dolorosos, decisivos, em que o socorro
de uma Fé raciocinada, esclarecida, capaz de nos
fortalecer, fará a diferença entre o estacionar num
caminho do desespero e da dor e o seguir confiante na
proteção de um Deus que nos ama e quer a nossa
felicidade. Essa confiança, será a certeza que nos fará
avançar na luta contra as nossas imperfeições,
levando-nos à espiritualização das nossas ambições mais
profundas e centrando os interesses que nos movem na
busca dos verdeiros bens que nada têm da materialidade a
que continuamos agarrados.
Mas, por que são esses bens os que realmente nos
interessa conquistar? Por que lhes devemos dar a
primazia? Se esta fosse a única vida que nos é dado
viver, se nada mais para além dela existisse, isso
seria, efetivamente, quase irrelevante. Se, com a morte
do corpo, atingíssemos o fim, se o resultado fosse o
nada, ou a simples degradação física, o que seria o
mesmo, para nada interessaria o que tivéssemos
conquistado ao longo dos anos, fossem essas conquistas
puramente materiais ou de cariz moral ou intelectual.
Mas, se, após esta estadia terrena, tivermos de
enfrentar a continuação da vida, num outro estádio ou
dimensão, os valores que levaremos para esse “outro
mundo”, essa “outra vida”, serão certamente os valores
espirituais.
É aqui que esbarramos, comumente, com a dúvida de
tantos: Haverá mesmo uma outra vida? Nunca ninguém veio
da morte para contar!
É neste ponto que apetece refletir: Como seria tão bom,
se todos, mas mesmo TODOS, acreditassem, soubessem,
tivessem a certeza de que aquilo que tantas vezes
afirmam não corresponde à verdade! Não é verdade que
nunca ninguém veio da morte para contar como é. É aqui
que a Doutrina Espírita, como mais nenhuma outra, traz a
certeza da vida imortal e da inter-relação contínua
entre os espíritos estejam eles encarnados na Terra ou
em outra dimensão. É tão vasta e tão profunda a Doutrina
dos Espíritos, que, se conhecida e bem entendida por
TODOS, seria, só por si, a grande alavanca para toda a
espécie de mudanças de que a humanidade terrena
necessita para se elevar a patamares mais sublimados.
Se temos a “sorte” de conhecer esta Doutrina e de
procurar seguir os ensinamentos e verdades que o Mestre
Jesus nos deixou e que o Espiritismo Consolador veio
repor, Doutrina essa trazida, pelos Espíritos,
precisamente esses que “morreram” e se julgava que
jamais poderiam regressar e, afinal, nos vêm contar as
suas experiências pós morte física, então, como pediu
Jesus, “não escondamos a luz debaixo do alqueire”.
Sejamos terra fértil para a germinação das novas ideias
que farão um novo mundo melhor para todos nós, deixemos
que a sementinha da Verdade germine e cresça em nosso
redor e se transforme em alívio, consolação,
esclarecimento, luz que ilumina os corações daqueles que
a Divina Bondade colocou no nosso caminho.