Emmanuel na Codificação
“A crença ou a opinião de milhões de pessoas não faz
algo se tornar uma verdade se, em sua essência, ele não
for.”
Da obra Expoentes da Codificação Espírita,
publicada pela Federação Espírita do Paraná, destacamos
a seguinte informação:
Emmanuel,
exatamente assim, com dois “m”, se encontra grafado o
nome do Espírito, no original francês L'Évangile
Selon le Spiritisme, em mensagem datada de Paris, em
1861, e inserida no cap. XI, item 11, da citada obra,
intitulada “O egoísmo”.
O nome ficou mais conhecido, entre os espíritas
brasileiros, pela psicografia do médium mineiro
Francisco Cândido Xavier.
Segundo ele, foi no ano de 1931 que, pela primeira vez,
numa das reuniões habituais do Centro Espírita, se fez
presente o bondoso espírito Emmanuel. (grifo
nosso)
A informação de que Emmanuel, que assina a mensagem “O
egoísmo”, é o mentor de Chico Xavier (1910-2002) é clara
e objetiva.
Mas a questão é: será que o próprio médium disse algo a
respeito? Fomos em busca da resposta. Em Lições de
Sabedoria: Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita,
localizamos uma entrevista do “Mineiro do Século XX” ao
jornalista Fernando Worm (1929-2014), que transcrevemos:
FW – Chico, você confirma que seu Mentor Espiritual
Emmanuel é o mesmo que, sob tal nome, e no anonimato da
equipe espiritual elaborou com Allan Kardec a
codificação de O Evangelho Segundo o Espiritismo e
demais obras da Codificação grafadas a partir de 1857?
Creio que sim. Conservo
para mim a certeza de que ele terá participado da equipe
que colaborou na estrutura da codificação da Doutrina
Espírita. A mensagem intitulada O Egoísmo, no capítulo
XI, §11 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, em que se
faz referência a Pilatos, é de autoria do nosso
Benfeitor Espiritual, não tenho dúvidas a esse
respeito. (grifo
nosso)
A resposta de Chico Xavier deixa transparecer que se
trata de crença dele, não uma informação que lhe teria
sido revelada pelo seu mentor.
Vejamos em O Evangelho Segundo o Espiritismo,
cap. XI – Amar o próximo como a si mesmo, o teor da
mensagem citada:
O egoísmo
11. O egoísmo, esta chaga da Humanidade, tem que
desaparecer da Terra, porque impede o seu progresso
moral. É ao Espiritismo que está reservada a tarefa de
fazê-la elevar-se na hierarquia dos mundos. O
egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros
crentes devem apontar suas armas, sua força, sua
coragem. Digo: coragem, porque é preciso mais coragem
para vencer a si mesmo, do que para vencer os outros.
Que cada um, portanto, empregue todos os esforços a
combatê-lo em si, certo de que esse monstro devorador de
todas as inteligências, esse filho do orgulho é a
fonte de todas as misérias terrenas. É a negação
da caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo à
felicidade dos homens.
Jesus vos deu o exemplo da caridade e Pôncio Pilatos o
do egoísmo, pois quando o justo vai percorrer as santas
estações de seu martírio, Pilatos lava as mãos,
dizendo: “Que me importa!” E diz aos judeus: “Este homem
é justo; por que quereis crucificá-lo?” Entretanto,
deixa que o conduzam ao suplício.
É a esse antagonismo
entre a caridade e o egoísmo, à invasão do coração
humano por essa chaga moral que se deve atribuir
o fato de não haver ainda o Cristianismo desempenhado,
por completo, a sua missão. Cabe a vós, novos apóstolos
da fé, que os Espíritos superiores esclarecem, o
encargo e o dever de extirpar esse mal, a fim de dar ao
Cristianismo toda a sua força e desobstruir o caminho
dos obstáculos que lhe embaraçam a marcha. Expulsai o
egoísmo da Terra, para que ela possa gravitar na escala
dos mundos, pois já é tempo de a Humanidade envergar
sua veste viril; e, para isso, é preciso que
primeiro o expulseis do vosso coração. – EMMANUEL.
(Paris, 1861.)
Consultamos 115 obras
assinadas por Emmanuel ,
mentor de Chico Xavier, quatro delas em parceria com
outros autores espirituais – André Luiz e Irmão José –
encontramos a palavra “egoísmo” mencionada por 353
vezes, porém não vimos uma mensagem com esse título. Mas
o que julgamos muito estranho é que não localizamos
nenhuma das expressões destacadas em vermelho na
mensagem acima.
Se é válida a afirmação
de que “Julgam-se os Espíritos, como os homens, pela sua
linguagem” e,
certamente, também devemos apreciá-los “pelo emprego de
palavras que lhes eram familiares” ,
então, é mais provável que esses dois personagens têm o
mesmo nome, ou seja, são homônimos, não seriam o mesmo
Espírito, conforme acreditava o médium Chico Xavier.
Referências bibliográficas:
FEP. Expoentes da Codificação Espírita.
Paraná: Federação Espírita do Paraná, 2002.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o
Espiritismo. Brasília: FEB, 2013.
KARDEC, A. O Livro dos Médiuns.
Brasília: FEB, 2013.
NOBRE, M. R. S. Lições de Sabedoria:
Chico Xavier nos 23 anos da Folha Espírita. São
Paulo: Editora Jornalística Fé, 1997.