A ciência da paz
“Sede pacientes; a paciência também é uma
caridade, e deveis praticar a lei de caridade
ensinada pelo Cristo, enviado de Deus. A
caridade que consiste na esmola dada aos pobres
é a mais fácil das caridades. Mas há uma bem
mais penosa, e consequentemente bem mais
meritória: perdoar àqueles que Deus colocou em
nosso caminho para serem os instrumentos de
nossos sofrimentos e pôr em prova nossa
paciência.” (E.S.E., capítulo IX)
Ainda que eu passe várias existências no mundo
material, vou ter muita dificuldade para colocar
em prática essa recomendação de um Espírito
amigo ocorrida em Le Havre, 1862.
Se aceitas fazer um teste comigo, vou colocar
algumas perguntas sobre a paciência contida no
livro Deus te abençoe, psicografia de
Baccelli, editora Didier, na página intitulada Mais
Fácil.
Vamos lá: como reages quando és tratado com
descaso, nesta ou naquela repartição de serviço
que buscas; como te revelas ao volante do carro,
quando és insultado por um motorista que se
apressa no trânsito congestionado; como ficas
quando, ao telefone, alguém te destrata e
desliga o aparelho, sem oferecer-te chance de
revide; como te sentes quando o vizinho lança
detritos à porta de tua residência, qual se
coubesse a ti a digna tarefa confiada aos garis;
como respondes a quem te agride os ouvidos,
alteando a voz em diálogo contigo?
Tenho certeza absoluta que muitas outras
perguntas poderíamos fazer a nós mesmos sobre a
paciência. Por exemplo: como reages quando
chegas cansado depois de um dia de serviço e a
esposa deseja conversar sobre o dia dela; como
está tua paciência com os filhos que necessitam
de tua atenção e a quem deves esse tempo pela
responsabilidade que assumiste perante as Leis
de Deus; quais são os pensamentos que te
assaltam quando o patrão critica um serviço que
executaste com muito carinho e cuidado; o que
sentes quando na Casa espírita companheiros não
concordam com tua opinião? E vai por aí afora,
podendo cada um levantar uma situação em que a
paciência é colocada em teste.
Creio até que seria difícil encontrar o final
para as indagações que nos revelariam como vai a
nossa paciência, ou, se preferirem, como não vai
a nossa paciência.
Jerônimo Mendonça, o Gigante Deitado, que foi
um livro de paciência diante de tantas
dificuldades que teve de enfrentar e que não o
impediram de divulgar a Doutrina Espírita,
definia a paciência como a ciência da paz, nome
que demos a este artigo.
No livro Pensamentos Que Ajudam, página Danúbio
azul, doutor José Carlos de Lucca cita um
parágrafo da música “Paciência”, de Lenine e
Dudu Falcão: E o mundo vai girando, cada vez
mais veloz, a gente espera do mundo, e o mundo
espera de nós um pouco mais de paciência.
Particularmente não concordo que o mundo gira
mais rápido. Somos nós que vivemos entupindo o
dia com mais e mais compromissos, fazendo com
que as tradicionais vinte e quatro horas já não
tenham todo o espaço que nosso egoísmo, orgulho
e vaidade exigem para que possamos nos
satisfazer.
Tenho a sensação de que corremos tão celeremente
mais rápido atrás das conquistas materiais que
ficarão todas na Terra, tendo a necessidade de
espichar as horas do dia como alguém que,
misturando todos os componentes da receita,
fizesse uma massa que precisasse ser comprimida
pelo rolo da cozinha para ser esticada,
arrumando lugar para os ingredientes de uma
torta ou alimento semelhante a serem contidos no
seu interior.
Quem sabe a física quântica ou alguma outra
ciência ainda desconhecida consiga uma fórmula
para alargar o dia atual de vinte e quatro
horas? Por enquanto, não é possível. O relógio
prossegue em sua marcha indiferente às nossas
angústias, anseios ou necessidades.
Vamos nos valer,
para encerrarmos, de um trecho do livro
mencionado anteriormente do doutor De Lucca: Hoje
a ciência já afirma que a impaciência pode ser
um fator componente da obesidade, hipertensão
arterial e envelhecimento. A impaciência está
tirando dias da nossa existência; ela nos
acelera tanto, que é provável que venhamos a
encontrar a morte mais rapidamente! Talvez não
sejamos capazes de mudar a sociedade, mas
podemos corrigir alguma coisa em nós mesmos. E o
Lenine dá uma dica interessante: “Enquanto o
tempo acelera e pede pressa, eu me recuso, faço
hora e vou na valsa, a vida é tão rara.”
Pensemos nisso: a vida é tão rara! Nossa vida
é preciosa para ser desperdiçada em constantes
surtos de impaciência.
Para que tanta pressa que gera a falta de
paciência que nada resolve e, muito pelo
contrário, pode agravar muitas situações?
E, além disso, mais uma coisa: quem corre muito
tentando, como já dissemos, engolir o tempo na
tentativa inútil de conseguir esse intento,
esgota mais rápido o calendário particular da
atual existência e chega mais célere ao
desencarne. É o que revelam as expressões: o tempo
voa, nem vi o tempo passar! Não vê mesmo. A
fixação quase mórbida em determinados objetivos
leva à miopia ou, até mesmo, à cegueira total
sobre o curso inabalável das horas que desfilam
no mesmo ritmo de sempre.
Uma vaga para a reencarnação está virando artigo
de luxo. Basta analisar estatisticamente o
número de filhos que os casais atuais estão
tendo. Como não existe outra porta para
retornar ao aprendizado no corpo físico, teremos
que ficar numa fila enorme e aguardar a nossa
vez.
Como não tenho nenhuma pressa de partir deste
corpo já envelhecido pelos anos, os que
desejarem podem passar à minha frente. Será uma
caridade que me farão.