A coragem e o medo, as faces da mesma
moeda
A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa,
sossega e inquieta. O que ela quer da gente é coragem. Guimarães
Rosa
Guimarães Rosa foi um dos mais importantes escritores
brasileiros, além de ter seguido a carreira de diplomata
e médico. Nascido em 1908 em Cordisburgo, município de
Minas Gerais, tão pequeno como a nossa querida cidade
coração, que tem apenas 9 mil habitantes, atualmente.
Vamos fazer aqui pequenina reflexão sobre sua obra Grande
Sertão: Veredas, escolhendo algumas frases desse
livro de mais de 600 páginas.
Começamos com esta interessante expressão: “O espírito
da gente é cavalo que escolhe estrada”. Somos livres
para fazer as escolhas sempre, nossa consciência ou
inconsciência é que decidem se queremos mar, rosas ou um
cativeiro.
Os animais, tanto o cachorro, o cavalo etc., estão
desenvolvendo os rudimentos da inteligência e do amor;
são também seres espirituais caminhando na criação de
Deus para alcançar a evolução; o médico-escritor diz:
“Cavalo que ama o dono, até respira do mesmo jeito”.
Essa sequência de frases indica que o autor acreditaria
na evolução da alma, e tinha pensamento semelhante ao do
filósofo Sócrates: “O mais importante e bonito, do
mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre
mudando”. “Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de
muita coisa.” São duas virtudes, acreditar e
desacreditar para crescer; em determinadas
circunstâncias somos obrigados a exercê-las com coragem
para que nada fique sem solução.
Não decidir é deixar que os outros decidam por nós.
Ninguém nasce ruim ou bom. O Poder Superior nos criou
simples e ignorantes, e vamos desenvolvendo nossa
inteligência e sentimento.
Guimarães alfineta aqueles que estão no campo do mal, da
ignorância, da corrupção: “Ser ruim, sempre, às vezes é
custoso, carece de perversos exercícios de experiência”.
O escritor, que desencarnou com 59 anos, fala na crença
em Deus e também no retorno à vida espiritual: “E a
gente, isso sei, às vezes é só feito menino. Se tem
alma, e tem, ela é de Deus”; “Viver é muito perigoso:
sempre acaba em morte”; “A gente morre é para provar que
viveu”.
Guimarães Rosa retornou à espiritualidade em 19 de
novembro de 1967 na cidade do Rio de Janeiro, deixando a
mulher Aracy Guimarães Rosa (1908-2011), natural da
cidade paranaense de Rio Negro, nascida no mesmo ano do
diplomata, funcionária do Itamaraty em Hamburgo
(Alemanha), onde ajudou inúmeros judeus a fugir do
nazismo. Conhecida como Anjo de Hamburgo, foi
homenageada nos museus do Holocausto de Jerusalém e de
Washington.
Às vezes o medo é bom e a coragem é necessária. Abrir a
nossa mente é saber lidar com nossos medos, e mantê-la
fechada é deixar que os medos nos dominem.
Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é
diretor da Editora EME.
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