Conclave de líderes
Grande distância
medeia entre possuir uma grande missão e
ser um grande
missionário
“(...) antes o maior entre vós seja como o
menor; e quem governa como quem serve.” -
Jesus. (Lc., 22:26)
Ermance
Dufaux descreve uma
reunião realizada no “Hospital Esperança”, Instituição
criada por Eurípedes Barsanulfo no Mundo
Espiritual, que presta relevantes e variados
serviços de socorro e esclarecimentos tanto a
encarnados como a desencarnados.
Nesse conclave, a plateia estava constituída por
mais de mil formadores de opinião do movimento
espírita: médiuns, escritores, articulistas,
dirigentes, etc... A direção estava a cargo do
próprio Eurípedes Barsanulfo, do Dr. Bezerra de
Menezes e do prof. Cícero Pereira, que foi
encarregado a fazer os comentários em nome dos
dois primeiros.
Em síntese, o
professor Cícero conclamou a todos os dirigentes
ali presentes (emancipados pelo sono físico) a
focar a atenção na reforma íntima, no
combate ao egoísmo, ao orgulho, à vaidade e ao
vício do prestígio... E não foi sem inquietudes
que a plateia ouviu as admoestações, uma vez que
todos, sem exceção, sabiam muito bem dos espinhos
que traziam na carne.
Dentre os comentários surgidos após a palestra,
vamos destacar o de Dona Maria Modesto Cravo1:
“(...) a doença da autossuficiência espiritual
ou o fascínio com a importância grandiosa que
muitos corações supõem possuir nos serviços de
Jesus, é um terrível mal que assola a maioria
das leiras de trabalhos espiritistas, bem como
as expressões religiosas de todos os tempos.
Os amigos
espíritas especialmente os mais experimentados
na arte de liderar, precisam vigiar com muita
cautela o
encanto que tem devotado às suas "folhas de
serviços". Bastas vezes confundem
quantidade de tarefas e realizações com ascensão
evolutiva, como
se fizessem carreira nos ofícios de sua
espiritualização. Ocorre que muitos
corações de ideal, em todas as atividades
doutrinárias, têm
passado pelas tarefas sem se educarem através
delas, e quanto mais expressivas elas
são, mais aumentam os riscos de vaidade e
ilusão. Temos por aqui vastos pavilhões de
médiuns, divulgadores, escritores,
evangelizadores da juventude, presidentes de
centros espíritas,
dispensadores da caridade pública, todos
abençoados com as luzes da Doutrina
Espírita, entretanto, sem conquistarem sua luz própria.
Sufocaram-se no orgulho com a cultura e a
experiência doutrinária
e negligenciaram o engrandecimento moral de si
mesmos através
da reeducação dos hábitos e da aquisição de
virtudes eternas. É
um engano milenar da ilusão humana, ainda
afeiçoada a vantagens, exteriores
sem a consolidação dos ensinos, cristãos no
próprio coração. Como disse o Senhor: "o
Reino de Deus não vem com aparência exterior”.
Uma das principais imperfeições dos líderes é
serem excessivamente controladores por julgarem
enxergar mais... Carregam consigo uma das mais
antigas mazelas humanas: O desejo de serem
servidos – uma faceta emocional sutil do desejo
de serem amados ou da necessidade de serem
queridos e aprovados pelos outros, a qual
termina por ser transferida para o costume de
serem bajulados e incensados pelos que os
rodeiam. Esse velho monstro da alma surge
sorrateiramente como um hábito doentio de
ordenar e comandar pessoas, já experimentado em
muitas e muitas vidas sucessivas, uma forma de
satisfação do egoísmo humano.
Considerando o vício de prestígio que carregam
esses corações, são intensamente
atraídos para posturas de destaque. Adoram os
cargos e
o poder e, embora possamos encontrá-los também
distantes dos títulos, estes são por eles
possuídos no campo psicológico. São criaturas
que realizam muito e tem significativa visão de
conjunto das necessidades do movimento
social em torno das ideias espíritas, apenas
pecando pelo orgulho em que se inspiram por
suporem possuir todas
as respostas e caminhos para todas as
necessidades e percalços da Seara. Isso
lhes torna úteis em certas situações e
extremamente rejeitados
pela arrogância em outras ocasiões, quando
excedem na sua
suposta sapiência e grandeza.
Verdadeiramente, nossos
irmãos que aqui estiveram guardam conquistas
apreciáveis, porém,
nem sempre conseguem deixar de se enganar pelo
sibilino personalismo
que ainda carregam. Uma vez nessa postura fica
fácil reconhecer-lhes as imperfeições
prejudiciais ao serviço da obra cristã, porque
não ouvem opiniões por julgarem terem as
melhores, guardam convicções
pessoais exacerbadas, não dão atenção às
críticas, quase sempre
decidem sozinhos, tornam-se pouco afetivos,
muito racionais e
adoram mandar sem fazer, ordenar sem cumprir...
O conjunto dessas, características promove-os a
uma das condições mais inaceitáveis na atualidade
para quaisquer grupamentos que se proponham a
crescer espiritualmente: o autoritarismo.
(...) Uma
cultura de grandeza tem estimulado esse drama
ético entre os coidealistas no plano físico.
Grande distância medeia entre possuir uma grande
missão e
ser um grande
missionário. De fato, quantos foram brindados
com a Doutrina Espírita são como a "luz do
mundo", contudo, temos que ser honestos e
considerar que boa parcela dos irmãos tem
sucumbido aos golpes sutis
do orgulho, julgando-se bem mais valorosos que
realmente o são para os ofícios da causa. Não somente
esses mil, mas uma infinidade de homens e
mulheres da direção nos arraiais espiritistas se
encontram nas garras da autossuficiência
fascinados por seus feitos e com sua bagagem,
nutrindo pouca
disposição para serem avaliados e criticados em
suas ideias e ações. Gostam mesmo é de
serem admirados e aprovados sem restrições,
sendo que alguns adoram impressionar...
(...) Muito
desapego e coragem serão exigidos de todos nós
para que deixemos as fantasias da
autossuficiência, que nos fazem sentir um pouco
melhores diante de nossa inferioridade, e
assumirmos, enquanto é tempo, a condição
psicológica prenunciada há mais de dois mil anos
pelo Mestre do Amor, quando assinalou: “(...)
mas não sereis vós assim; antes o maior entre
vós seja como o menor, e quem governa, como quem
serve”.
Não é, portanto,
sem motivo, que Ferdinando, Espírito protetor
enviou esta página:
MISSÃO DO HOMEM INTELIGENTE NATERRA
Não vos ensoberbais do que sabeis, porquanto
esse saber tem limites muito estreitos no mundo
em que habitais. Suponhamos sejais sumidades em
inteligência neste planeta: nenhum direito
tendes de envaidecer-vos. Se Deus, em Seus
desígnios, vos fez nascer num meio onde pudestes
desenvolver a vossa inteligência, é que quer a
utilizeis para o bem de todos; é uma missão que
vos dá, pondo-vos nas mãos o instrumento com que
podeis desenvolver, por vossa vez, as
inteligências retardatárias e conduzi-las a
Ele...
(...) A
inteligência é rica de méritos para o futuro,
mas, sob a condição de ser bem empregada. Se
todos os homens que a possuem dela se servissem
de conformidade com a vontade de Deus, fácil
seria, para os Espíritos, a tarefa de fazer que
a humanidade avance. Infelizmente, muitos a
tornam instrumento de orgulho e de perdição
contra si mesmos. O homem abusa da inteligência
como de todas as suas outras faculdades e, no
entanto, não lhe faltam ensinamentos que o
advirtam de que uma poderosa mão pode retirar o
que lhe concedeu”.
- BÍBLIA,
N.T. Lucas.
Português. O novo testamento.
Tradução de João Ferreira de Almeida.
Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica
Brasileira, 1983. cap. 17. vers
20.
- BÍBLIA,
N.T. Lucas.
Português. O novo testamento.
Tradução de João Ferreira de Almeida.
Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica
Brasileira, 1983. cap. 22. vers 26.
- KARDEC,
Allan. O Evangelho Seg. o
Espiritismo. 121.ed. Rio [de
Janeiro]: FEB, 2003, cap. VII, item 13.