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por Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo

 

A mulher que se transformou em Anjo de Hamburgo


Como é fácil de notar, nós todos, coletivamente examinados, criamos muitas dificuldades na Terra, pela ânsia de fazer sem saber, mas agravamos consideravelmente essas mesmas dificuldades pelo atraso de saber e não fazer.  
Emmanuel (Chico Xavier) – Caminho espírita – IDE


A paranaense Aracy Moebius de Carvalho (1908-2011) foi uma poliglota brasileira que prestou serviços ao Ministério das Relações Exteriores. Foi agraciada pelo governo de Israel com o título de “Justa entre as Nações” pela ajuda que prestou a muitos judeus, a quem auxiliou a vir clandestinamente da Alemanha ao Brasil durante o governo de Getúlio Vargas.

O doutor do Instituto do Cérebro e professor da Unicamp, Nubor Orlando Facure, em palestra sobre depressão na União Espírita de Piracicaba, afirmou que ela é uma doença física, mental e espiritual, e que às vezes pode estar ocorrendo não a depressão, mas a “depreguiça”, o medo de enfrentar a vida, algo que também precisa de tratamento psicológico e médico.

Aracy enfrentou as mudanças. Uma delas, passar a se chamar Aracy de Guimarães Rosa, por se casar em segunda núpcias com o escritor, diplomata e médico Guimarães Rosa.

Sua história começa quando, com um filho de cinco anos de idade, Aracy se mudou para a Alemanha na tentativa de fugir do preconceito da época sobre mulheres separadas (1). Não ficou depressiva, nem ansiosa e não teve medo, enfrentou a vida e buscou uma nova experiência morando na casa de uma tia em Hamburgo. Fluente em português, alemão, inglês e francês, não teve muita dificuldade para se adaptar à rotina local, ainda que já houvesse indícios de que uma catástrofe estava para acontecer naquele país.

Com Hitler no poder desde 1933, 17 mil judeus já haviam abandonado a Alemanha — número que só aumentou nos anos seguintes (1).

Paranaense, filha de mãe alemã, ela se mudara para a Alemanha após o divórcio, em 1930, estabelecendo-se em Hamburgo, onde chefiou a Seção de Passaportes do consulado brasileiro, como funcionária do Itamaraty. Lá, ajudou inúmeros judeus a fugir, desde 1934, em uma Alemanha já tomada pelo nazismo e na iminência da Segunda Guerra Mundial. Eu acredito que a pior coisa que existe é tirar nossa liberdade de ser, de escolher e de viver.

Devido à sua coragem e determinação, ficou conhecida como Anjo de Hamburgo. Foi homenageada nos museus do Holocausto de Jerusalém e de Washington. Em psicologia se diz que coragem é medo caminhando; para se libertar da ansiedade, é necessário brincar, dançar, cantar; para se livrar do medo, é bom não ter arma e nem facão, fazer caminhadas e adotar um animal de estimação.

Outro também médico, o meu amigo Ricardo Orestes Forni, da cidade de Tupã, no interior de São Paulo, autor de mais de dez obras publicadas pela Editora EME, que tem muita coragem, não se deixou abater e não temeu na pandemia da Covid-19, mas se preveniu e, sem ansiedade, me escreveu com muito bom humor, dizendo: “Amigo Arnaldo, à medida que o ano vai chegando ao fim, peço-lhe que cuide de si e evite acidentes, porque peças de reposição para modelos antigos como nós não estão mais no estoque”.

 

(1) Para acessar sua biografia, clique aqui


Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é diretor da Editora EME


 
 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita