Direito à vida digna
“Quanto estamos dispostos a ceder para que todos
ganhem?”, li numa postagem da internet.
Parei para refletir em como esse pensamento atinge o
centro dos conflitos humanos. Importante ressaltar que
"ganhar", aqui, significa ter acesso ao bem mais
precioso: viver com dignidade. Então aquela frase
verdadeira, somada ao meu entendimento, ficou assim:
“Quanto estamos dispostos a ceder para que todos possam
viver com dignidade".
Claro que há outras reflexões que a frase sugere, mas
minha atenção se voltou de imediato para o primeiro de
todos os direitos do homem, segundo O livro dos
espíritos, de Allan Kardec (1): o de viver. Se a
vida humana na Terra não se sustenta sem interação e
cooperação direta ou indireta, conclui-se que a vida dos
outros importa para nós, e vice-versa.
Trata-se de valores materiais e morais. Se os que
“ganham” não estiverem dispostos a ceder, muitos ficarão
sem “ganhar”, o que pode traduzir severas injustiças.
Ceder no hábito do acúmulo, do supérfluo, do
açambarcamento dos bens materiais, e ceder também no
hábito de oprimir, de sujeitar, de iludir. “(...)
ninguém tem o direito de atentar contra a vida do
semelhante ou fazer qualquer coisa que possa comprometer
a sua existência corpórea” (2).
A frase lida no Facebook nos remete ao mais profundo
entendimento da caridade, quando a consciência roga
docemente ao espírito para que se coloque no lugar
daquele que sofre alguma carência; nos remete à
compreensão autêntica da igualdade humana,
independentemente da posição em que se esteja; nos
remete ainda ao direito democrático de participação de
todos em tudo o que se refira ao progresso e
engrandecimento individual e coletivo.
Quanto podemos ceder do nosso egoísmo, dos nossos
“prazeres”, “conquistas” e “ambições”, com o absoluto
entendimento de que não estamos perdendo nada, mas
agindo com a mais estrita justiça equitativa, prevista
nas leis naturais?
O quanto estamos dispostos a promover a espiritualização
nas relações sociais?
(1) e (2) – O livro dos espíritos,
questão 880 e seguintes.
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