Um instrumento
seu a melhorar
Allan Filho é um
grande cantor e
compositor do
cancioneiro
espírita,
representante
dileto de uma
certa geração
que marcou
posição nesse
sentido no
Estado do Rio de
Janeiro e, por
que não, no
Brasil. Nela
transitaram
Marielza Tiscate,
Ariovaldo Filho,
Espelho da Alma
e tantos outros
que vou
injustamente
esquecer aqui, e
que contribuíram
muito com essa
forma de
expressão no
nosso segmento,
com atenção
especial ao
público jovem.
Dentre as suas
composições,
muito
popularizada é
aquela chamada
“Na porta de
Damasco”,
parceria com os
amigos Carlos
Alexandre (In
Memoriam) e
Sérgio Paulo, e
me refiro assim
com aproximação
pois tive a
oportunidade de
conhecer todos
os três
pessoalmente.
Figurinha fácil
em eventos
espíritas, a
música retrata
com singela
poesia as
reflexões de
Paulo de Tarso
na entrada da
cidade de
Damasco,
entremeada com
as reflexões do
homem moderno,
tão cheio de
conhecimento e
ao mesmo tempo,
repleto de
dúvidas.
Vamos então, de
forma inusitada
para um artigo,
fazer uma
leitura
comentada dessa
letra, permeando
o título desse
texto, que é
ideia do
autoconhecimento
frente aos
desafios que a
espiritualidade
espera de nós em
cada encarnação.
Senhor, em Seu
nome... Senhor,
em Seu nome...
Eu falava às
pessoas, jogava
as sementes,
Plantava e
colhia paz, mas
sentia falta de
algo mais.
Eu fazia quase
tudo e hoje tudo
é quase nada...
Frente à obra e
seu Criador,
sinto não
sabemos dar
valor.
Faltava me
mudar...
Nesse trecho,
representando
ser Paulo de
Tarso, um fiel
representante do
poder terreno
daquela época,
mas também
qualquer um que
vive a sua
espiritualidade,
com foco no
aspecto formal,
nos ritos e nas
palavras, nos
aspectos
exteriores, o eu
lírico reflete
sobre a
relevância
daquilo tudo que
ele faz para o
seu processo de
melhora
interior.
Sente que fazia
muitas coisas,
fazia o que lhe
era exigido,
seus deveres,
mas faltava um
algo mais. Todos
nós vivemos essa
crise de fé, na
qual sopesamos a
vivência da
nossa
espiritualidade
e os propósitos
daquilo tudo, da
nossa
existência. Esse
é um movimento
natural e nós
espíritas
precisamos e
devemos conviver
com a dúvida e a
reflexão em
relação a nossa
fé, questionando
a nossa prática
e ainda, como
ela se reflete
dentro de nós.
E tentar me
encontrar, e
tentar me
conhecer,
Senhor.
Ser mais um em
Seu rebanho a
caminhar.
Não me cabe só
falar, também
cabe agir e me
tornar
Um instrumento
Seu a melhorar.
No refrão da
música, surge a
ideia central,
de que tudo isso
que fazemos na
vivência de
nossa
espiritualidade,
é um instrumento
para nos
tornarmos
melhores. Que as
palavras, se não
encontrarem eco
no nosso agir,
serão vazias,
ausentes de
significados.
Que a verdadeira
espiritualidade
é uma viagem de
dentro para fora
e de fora para
dentro, fazendo
sentido tanto no
mundo real, como
no nosso mundo
interior.
E assim nos
encontramos,
como Paulo na
porta de
Damasco, que
bradou o seu
“Senhor, o que
queres que eu
faça”, dúvida
comum a todos
nós, na eterna
busca de um
sentido para a
existência, e
que tentamos
sanar na
espiritualidade.
A música mostra
que o caminho é
seguir o senhor,
mas sendo um
instrumento seu
no mundo, a
melhorar.
Senhor, em Seu
nome... Senhor,
em Seu nome...
Eu fazia muitos
planos, mas os
anos seguem em
frente
E nos fazem ver
quem somos...
cometemos mil
enganos...
Eu queria ser o
leme, mas agia
como âncora,
Retardando o meu
caminho, sou o
meu próprio
espinho.
Faltava me
mudar...
Aprofundando
mais a reflexão
a porta de
Damasco, ou à
porta da sua
crise de fé, o
eu lírico se vê
defrontado com a
consciência da
sua própria
imperfeição, com
a decepção do
seu ser real
frente ao
idealizado, na
frustração dos
planos não
atingidos. Nos
enganos e nos
erros que ao
invés de o
guiarem nesse
aprimoramento,
serviram de
âncora e
espinho, como
instrumento de
estagnação e de
sofrimento.
Entende ele que
precisa mudar,
converter esses
erros do passado
em um
combustível
para, de volta
ao refrão, se
encontrar e se
conhecer melhor,
para atingir a
transcendência
proposta de ser
um instrumento
do senhor em
continuo
aperfeiçoamento
na interação com
o próximo e
consigo mesmo,
superando o
conflito e a
dúvida,
adquirindo assim
um novo sentido
para a sua vida,
como fez Paulo
na passagem
evangélica.
Tantas reflexões
numa música tão
singela, e ao
mesmo tempo, tão
bela. O mundo
moderno, com seu
ritmo, cobra do
indivíduo ações,
posturas, ritos
e ele entra num
ritmo frenético
que o conduz,
por fim, a uma
crise. Essa
música nos traz
uma excelente
reflexão para
esses momentos,
nos lembrando de
harmonizar nosso
interior como o
nosso exterior,
em um equilíbrio
dinâmico no qual
ambos são
relevantes.