Educar é viver com dignidade
Conversava recentemente com um amigo que
coordena atividades de extensão em uma
Universidade, e ele comentou sobre a dificuldade
em sensibilizar os alunos de Farmácia, Medicina,
Fisioterapia, Odontologia e outros para
participarem de atividades de alcance social,
relacionadas ao próprio curso. Ele me disse:
– Ricardo, eles só se interessam se existir
algum tipo de ganho: bolsa, créditos etc. Onde
está o espírito de gratuidade? O que aconteceu
com essa geração, tão focada nos próprios
interesses?
Eu aventei uma opinião:
– Estão reproduzindo o que aprenderam com os
pais. Quantos deles observaram os pais visitando
enfermos desprovidos de família, ou como
voluntários em asilos e creches, ou participando
de atividades altruístas em benefício dos mais
necessitados?
Não podem agir de forma diferente, pois foram
educados a olhar apenas para o próprio umbigo.
O Espírito Joanna de Ângelis, quando trata da
educação no lar, disse assim:
– Educar é viver com dignidade.
Ao contrário do que se pensa, educar não é fazer
longos sermões, dar lições de moral ou falar sem
parar. Educar é comportar-se com correção de
caráter, com compaixão e com espírito de
solidariedade. E os filhos, desde pequenos,
estarão observando e introjetando dentro de si
os valores que dão riqueza a nossa vida.
Os desafios, portanto, da educação no lar estão
relacionados, sobretudo, ao exemplo. Mas existe
outro fator: a autoridade.
Sempre que nós pensamos em autoridade, temos que
pensar também em liberdade. As duas precisam
caminhar juntas. Porque se ficamos apenas com a
autoridade, ela se transforma em autoritarismo.
Se ficamos apenas com a liberdade, ela se
transforma em libertinagem.
Em uma sala de aula em que alguns alunos fazem
bagunça, onde está a liberdade daqueles que
querem aprender? O professor precisa exercer a
sua autoridade para que isso aconteça.
Muitos pais confundem autoridade com
autoritarismo. A autoridade legítima deve se
embasar na modéstia e no exemplo.
Sobre o exemplo, já falamos. E a modéstia?
Carece de modéstia a autoridade que, a todo
momento, precisa se reafirmar, com expressões
assim:
– Quem manda em casa sou eu!
– Eu que pago as suas contas!
– Você nada conseguiria sem mim!
Expressões como essas humilham, desgostam e
afastam os filhos dos pais. A autoridade deve
existir não porque os pais pagam as contas, mas
porque viveram mais tempo, tem uma história de
vida que os filhos ainda não têm, cometeram mais
erros e mais acertos, têm o que dizer, e os
filhos têm o que ouvir. Mesmo que sigam outro
caminho. Mas têm o dever de ouvir, analisar, e
depois, sim, decidirem.
Um ditado chinês diz:
– Se você não sabe aonde ir, converse com quem
está voltando.
Sobre a questão da autoridade, eu me recordo do
meu primeiro dia de residência médica, em março
de 1984, quando o chefe da residência reuniu-se
com todos os iniciantes e apresentou a seguinte
questão:
– Dois homens são muito honestos: um deles tem
vinte anos e o outro setenta. Qual dos dois é
mais honesto?
E como nenhum de nós se atrevesse a responder,
ele voltou-se e disse:
– O de setenta, porque é honesto há mais tempo.