Metaforizando a educação mediúnica
Dra. Marta trabalha em um Hospital Universitário. Ele
existe para oferecer aos alunos da área de saúde,
principalmente de medicina e enfermagem, campo de
prática para as suas atividades curriculares,
acompanhados por professores, preceptores e por outros
profissionais, em um ambiente hospitalar que guarda
algumas especificidades para facilitar o ensino. Mas,
ainda sim, é um hospital.
No Hospital Universitário, se precisa realizar por ano
um elenco de procedimentos, para que os alunos
acompanhem e vejam como é. Interessa não só a
quantidade, mas a diversidade. E sim, sobremaneira,
importa a qualidade. Uma cirurgia demora mais, pois tem
que explicar, o aluno pergunta, o residente participa. É
assistência, mas com a peculiaridade do ensino, e tudo
que isso envolve, inclusive custos.
Assim é a formação do profissional de saúde desde a sua
gênese, com uma forte carga prática e de acompanhamento
de profissionais mais experientes, vendo fazer e fazendo
sozinho de forma supervisionada. O paciente que está ali
não é uma cobaia. Pelo contrário! Ele é atendido por uma
equipe de muitos profissionais, experientes e de forma
supervisionada, e aquele atendimento serve para o ensino
e para a pesquisa, de forma que casos mais complexos
sempre atraem os hospitais universitários e os olhos
sequiosos de seus alunos e professores.
Essa lógica pode ser perfeitamente aplicada a uma
atividade comum a praticamente todas as casas espíritas.
A reunião de estudo e educação
da mediunidade termina por ser um campo de prática
dos médiuns, dado que apenas o estudo teórico, sozinho
ou em grupo, é insuficiente para o aprendizado
necessário para o exercício mediúnico da maneira
desejada. Faz-se necessário uma prática supervisionada e
refletida.
Nesse sentido, assim como o hospital universitário tem
preceptores que supervisionam a atividade dos alunos, os
coordenadores da reunião de estudo e educação da
mediunidade acompanham a pratica dos médiuns, lhes dando
a autonomia do fazer sozinho, mas observando e trazendo
os comentários para o rico momento posterior de debates,
talvez a hora mais importante.
Da mesma forma, os irmãos sofredores que são atendidos,
não são objeto de um atendimento fictício ou menos
importante, como no exemplo da metáfora utilizado. É um
atendimento mediúnico como outro qualquer, com a
diferença de que o foco se desloca um pouco do espírito
atendido, sendo dividido também com o processo de
aprendizagem do médium.
Assim como no Hospital, médiuns e esclarecedores
precisam também ver e vivenciar situações, inclusive as
emergenciais e mais complexas, para que saibam como
lidar. Não adianta proteger o aluno-médium da realidade,
em uma redoma. Faz-se necessário supervisioná-lo e
orientá-lo, intervindo para a correção e o aprendizado
no momento certo.
Uma boa educação mediúnica não é uma questão de
eficiência, mas sim de tranquilidade e de segurança do
médium. Assim como o profissional de saúde, que lida com
a vida humana, o médium lida com consciências, inclusive
a dele, e precisa de um espaço de confiança, no qual ele
possa falar o que sente, suas dúvidas e seus anseios.
Existe uma tendência de converter a educação mediúnica
em um receituário de regras, focado na disciplina. Não
pode isso, não pode aquilo, tentando formatar aquele
médium, como se a mediunidade fosse algo possível de ser
encapsulado e tudo pudesse ser previsto e antecipado.
Assim como na atividade de saúde, se quer preparar o
indivíduo com autonomia e maturidade para enfrentar as
diversas situações que ele vai ter a frente, e isso
demanda estudo, prática, mas também muita conversa e
reflexão.
A reunião de estudo e educação da mediunidade é
essencial para as casas espíritas. É muitas vezes a
porta de entrada dos trabalhadores da área mediúnica,
que precisam ser recebidos, com as suas questões do
afloramento da mediunidade. Ali é o alicerce, assim como
o hospital universitário figura na base da formação do
bom profissional de saúde. Uma metáfora que tem muito a
contribuir com a nossa compreensão dos limites e
possibilidades da educação mediúnica.
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