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por Marcus Vinicius de Azevedo Braga

 

Metaforizando a educação mediúnica


Dra. Marta trabalha em um Hospital Universitário. Ele existe para oferecer aos alunos da área de saúde, principalmente de medicina e enfermagem, campo de prática para as suas atividades curriculares, acompanhados por professores, preceptores e por outros profissionais, em um ambiente hospitalar que guarda algumas especificidades para facilitar o ensino. Mas, ainda sim, é um hospital.

No Hospital Universitário, se precisa realizar por ano um elenco de procedimentos, para que os alunos acompanhem e vejam como é. Interessa não só a quantidade, mas a diversidade. E sim, sobremaneira, importa a qualidade. Uma cirurgia demora mais, pois tem que explicar, o aluno pergunta, o residente participa. É assistência, mas com a peculiaridade do ensino, e tudo que isso envolve, inclusive custos.

Assim é a formação do profissional de saúde desde a sua gênese, com uma forte carga prática e de acompanhamento de profissionais mais experientes, vendo fazer e fazendo sozinho de forma supervisionada. O paciente que está ali não é uma cobaia. Pelo contrário! Ele é atendido por uma equipe de muitos profissionais, experientes e de forma supervisionada, e aquele atendimento serve para o ensino e para a pesquisa, de forma que casos mais complexos sempre atraem os hospitais universitários e os olhos sequiosos de seus alunos e professores.

Essa lógica pode ser perfeitamente aplicada a uma atividade comum a praticamente todas as casas espíritas. A reunião de estudo e educação da mediunidade termina por ser um campo de prática dos médiuns, dado que apenas o estudo teórico, sozinho ou em grupo, é insuficiente para o aprendizado necessário para o exercício mediúnico da maneira desejada. Faz-se necessário uma prática supervisionada e refletida.

Nesse sentido, assim como o hospital universitário tem preceptores que supervisionam a atividade dos alunos, os coordenadores da reunião de estudo e educação da mediunidade acompanham a pratica dos médiuns, lhes dando a autonomia do fazer sozinho, mas observando e trazendo os comentários para o rico momento posterior de debates, talvez a hora mais importante.

Da mesma forma, os irmãos sofredores que são atendidos, não são objeto de um atendimento fictício ou menos importante, como no exemplo da metáfora utilizado. É um atendimento mediúnico como outro qualquer, com a diferença de que o foco se desloca um pouco do espírito atendido, sendo dividido também com o processo de aprendizagem do médium.

Assim como no Hospital, médiuns e esclarecedores precisam também ver e vivenciar situações, inclusive as emergenciais e mais complexas, para que saibam como lidar. Não adianta proteger o aluno-médium da realidade, em uma redoma. Faz-se necessário supervisioná-lo e orientá-lo, intervindo para a correção e o aprendizado no momento certo.

Uma boa educação mediúnica não é uma questão de eficiência, mas sim de tranquilidade e de segurança do médium. Assim como o profissional de saúde, que lida com a vida humana, o médium lida com consciências, inclusive a dele, e precisa de um espaço de confiança, no qual ele possa falar o que sente, suas dúvidas e seus anseios.

Existe uma tendência de converter a educação mediúnica em um receituário de regras, focado na disciplina. Não pode isso, não pode aquilo, tentando formatar aquele médium, como se a mediunidade fosse algo possível de ser encapsulado e tudo pudesse ser previsto e antecipado. Assim como na atividade de saúde, se quer preparar o indivíduo com autonomia e maturidade para enfrentar as diversas situações que ele vai ter a frente, e isso demanda estudo, prática, mas também muita conversa e reflexão.

A reunião de estudo e educação da mediunidade é essencial para as casas espíritas. É muitas vezes a porta de entrada dos trabalhadores da área mediúnica, que precisam ser recebidos, com as suas questões do afloramento da mediunidade. Ali é o alicerce, assim como o hospital universitário figura na base da formação do bom profissional de saúde. Uma metáfora que tem muito a contribuir com a nossa compreensão dos limites e possibilidades da educação mediúnica.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita