Flagelos humanos inevitáveis?
Desgraças e calamidades têm se avolumado nos últimos
tempos nas paisagens desse orbe ainda atado à condição
de provas e expiações. Aliás, o próprio grau de evolução
espiritual em que nos encontramos favorece a ocorrência
dessas tragédias redentoras, nas quais geralmente enorme
contingente de Espíritos purgam suas mazelas. É, pois,
preciso entendê-las, já que não efetivamente castigos de
Deus. Com efeito, as forças telúricas sempre permearam a
trajetória humana, mas o nosso aprendizado para melhor
lidarmos com elas tem sido lento e doloroso.
Posto isto, explica o Espírito Joanna de Ângelis, no
livro Após a Tempestade..., psicografado pelo
médium Divaldo Pereira Franco, que “Olhados sob o ponto
de vista espiritual esses flagelos destruidores têm
objetivos saneadores que removem as pesadas cargas
psíquicas existentes na atmosfera, que o homem elimina e
aspira, em contínua intoxicação”. A nobre mentora
acrescenta ainda que “Cataclismos sísmicos e revoluções
geológica que irrompem voluptuosos em forma de
terremotos, maremotos, erupções vulcânicas, obedecem ao
impositivo das adaptações, acomodações e estruturação
das diversas camadas da Terra, no seu trânsito de ‘mundo
expiatório’ para ‘regenerador’”.
Nesse sentido, no capítulo VI do Livro dos Espíritos,
que trata da lei de destruição, de autoria de
Allan Kardec, encontramos algumas respostas muito
reveladoras que merecem a nossa atenção. Por exemplo, na
resposta dada à questão nº 737 somos informados que os
flagelos destruidores são um tipo de recurso usado por
Deus para nos fazer progredir com maior celeridade, pois
eles embutem a necessidade de “regeneração moral dos
Espíritos”. Tais adventos, ademais, proporcionam a
oportunidade de um melhor ordenamento das coisas. Ou
seja, os estragos que produzem demandam forçosamente
medidas e ações pontuais desafiando-nos a inteligência e
a implantação da ética numa série de aspectos cruciais.
Tanto é assim que, na questão nº 739, os benefícios dos
flagelos destruidores são divisados, pois “[...] Muitas
vezes mudam as condições de uma região, mas o bem que
deles resulta só as gerações vindouras o experimentam”.
Em termos espirituais, os flagelos (questão nº 740) são
basicamente provas acerbas que nos dão ensejo de pôr em
prática a nossa inteligência, de aceitarmos com
paciência e resignação a vontade de Deus e de
manifestarmos os nossos melhores sentimentos,
especialmente “o de abnegação, de desinteresse e de amor
ao próximo”.
É preciso ter igualmente em vista que “[...] Muitos
flagelos resultam da imprevidência do homem. À medida
que adquire conhecimentos e experiência, ele os vai
podendo conjurar, isto é, prevenir, se lhes sabe
pesquisar as causas. Contudo, entre os males que afligem
a humanidade, alguns há de caráter geral, que estão nos
decretos da Providência e dos quais cada indivíduo
recebe, mais ou menos, o contragolpe. A esses nada pode
o homem opor, a não ser sua submissão à vontade de Deus.
Esses mesmos males, entretanto, ele muitas vezes os
agrava pela sua negligência” (questão nº 741).
Com efeito, tal raciocínio se aplica perfeitamente ao
terremoto que atingiu o sul da Turquia e Norte da Síria
em 6 de fevereiro, causando a morte de mais de 40
pessoas mil (pelo menos esse era o número de vítimas
fatais no momento em que escrevi essas linhas), cuja
maioria foram do lado turco. O terremoto de magnitude
7,8, que destruiu áreas inteiras dos dois países, foi
ainda mais intenso na Turquia do que o de 1939, que
vitimou 33.000 pessoas na província de Erzincan (leste).
Na Síria, conforme estimou a ONU, 5,3 milhões de pessoas
(cerca de 1/4 da população) ficaram desabrigadas. Ou
seja, se já não bastasse a guerra civil que há anos vem
aniquilando aquela nação, agora também há essa tragédia
humanitária a ser enfrentada.
Do lado turco, em contraste, aproximadamente 75.000
prédios localizados no sul do país tinham anistiados,
apesar de não estarem dentro das normas atuais dos
regulamentos de construção. Essa questionável medida –
aliada a outras envolvendo corrupção - colaborou
significativamente para o aumento dos danos e número de
vítimas. Aliás, entre as dezenas de imagens retratando a
calamidade que correram o mundo, uma delas envolveu
Mesut Hancar segurando por horas a mão da sua filha,
Irmak (de 15 anos), que morreu em sua cama, debaixo de
lajes de concreto, na província turca de Kahramanmara,
causando enorme comoção. Resgates miraculosos foram
realizados - como sói acontecer e tais circunstâncias -
muitos dias depois do terremoto.
É verdade que as áreas ora atingidas são altamente
propensas aos terremotos. Pela lógica nem deveriam ser
ocupadas pelo homem, mas como não vivemos num mundo
ideal, as cidades foram erguidas sem se considerar os
potenciais perigos, e nem medidas preventivas eficazes
foram implementadas. Por outro lado, poderíamos elencar
como contraponto, Tóquio, no Japão. Apesar daquela nação
estar igualmente localizada numa região sujeita a
frequentes abalos sísmicos, a inteligência dos seus
técnicos e cientistas permitiu a elaboração de um padrão
de construção avançado no qual os danos em tais
ocorrências são minimizados.
Conforme mencionei anteriormente, na Turquia, em
contraste, o efeito dessas catástrofes foi recrudescido
devido à má-fé de funcionários públicos corruptos que
fizeram, segundo se apurou, vistas grossas à ação de
empresários inescrupulosos que, a seu turno, construíram
edifícios sem a qualidade desejada, expondo, por
extensão, às pessoas à morte. E tal combinação nefasta
responde obviamente pelo grande número de vítimas
observada nessa tragédia.
Joanna de Ângelis também observa na referida obra que
“Construtores gananciosos que se fazem instrumento para
cobranças negativas, maquinistas e condutores de
veículos displicentes, que favorecem tragédias
volumosas, homens que vendem a honradez e sabem que
determinadas calamidades têm origem nas suas mentes e
mãos, embora ignorados pela Justiça humana não se
furtarão à Consciência Divina neles mesmos insculpida,
que lhes exigirá retorno ao proscênio em que se fizeram
criminosos ignorados para tornarem-se heróis, salvando
outros e perecendo, como necessidade purificadora de que
alçarão, depois, à paz”.
Como Deus em sua infinita bondade nos oferece ensejo à
paz consciencial no devido tempo, tem-se, então, que
“Não constituem castigos as catástrofes que chocam uns e
arrebatam outros, antes significam justiça integral que
se realiza”, como arremata a eminente entidade
espiritual. Com base nisso, é preciso que tenhamos o
compromisso de sempre realizar o melhor ao nosso alcance
para que a nossa consciência não nos cobre por falhas ou
negligências deploráveis.
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