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por Cláudio Bueno da Silva

 

Moral de vitrine


Sempre acreditei que a autotransformação e o trabalho para o progresso geral devem ser os objetivos de todo espírita, e que a melhor forma de implementa-los será com o acatamento e respeito aos princípios da Doutrina que professa.

O conhecimento adquirido nas leituras e práticas espíritas dão a entender que o ódio, a mentira, a hipocrisia, não podem jamais conviver com os princípios morais que tanto se preza.

Recordo-me que em períodos difíceis vividos há décadas atrás, vez ou outra discordávamos de colegas, neste ou naquele ponto de vista, sem que isso representasse a quebra por nenhuma das partes, do compromisso ético-moral que devia imperar nas nossas atividades e relações.

Por que muitos irmãos que até ontem ombreavam conosco na luta por dias melhores para todos, hoje se distraíram a ponto de defender ideias e opiniões contraditórias e incompatíveis com aqueles programas doutrinários que compartilhávamos?

Mesmo diante do consenso humano e racional de que o amor, a paz, a solidariedade, o respeito, a verdade, são valores moralmente inegociáveis, muitos companheiros vacilam apoiando programas e projetos inconciliáveis com o Espiritismo.

Amadurecido pelos embates e provas da vida ao longo dos anos, continuo com o mesmo projeto que se iniciou na juventude espírita, de lutar para a minha transformação pessoal e pela melhora da sociedade.

Continuo acreditando que a base desse projeto de vida passa pelo respeito fiel às instruções morais de O Evangelho segundo o Espiritismo que, segundo dizem, é o livro mais conhecido entre os espíritas. Passa também pelo empenho no estudo e debate de todas as questões de “As leis morais” contidas em O livro dos Espíritos, para que se possa compreender melhor o difícil exercício de viver.

Afinal, o que foi que mudou? Que entendimento da Doutrina é esse, em que espíritas mostram fraqueza moral e mergulham num mundo paralelo?

Nossa intenção não é julgar ninguém individualmente, mas a questão deixa de ser “nuanças de opinião”, na expressão de Kardec em um de seus discursos (1), para transformar-se em divergência profunda no modo de compreender valores morais que não precisam de interpretação: ódio, mentira, escárnio, perversão, são o que são em qualquer tempo e lugar, e devem ser combatidos e não defendidos por quem quer que seja.

Sem qualquer desapreço, minha conclusão é a de que muitos espíritas não estão preparados para compreender o Espiritismo senão em partes, cada um com a que mais se afina. E ainda: para muitos a moral espírita, que é a mesma do Cristo, é admirada através de uma vitrine, apenas.

Diante desta incógnita, busco consolo no depoimento de Allan Kardec sobre a invigilância dos espíritas, na esperança de que tudo isso vai passar com o tempo.

“Em todo caso, – diz Kardec – não vos inquieteis absolutamente com algumas dissidências passageiras (...) São provas para a vossa fé e para o vosso julgamento; muitas vezes são meios permitidos por Deus e pelos bons Espíritos para dar a medida da sinceridade e dar a conhecer aqueles com os quais realmente se pode contar (...). São pequenas pedras semeadas em vosso caminho, a fim de vos habituar a ver em que vos apoiais” (1).


(1) Revista Espírita, novembro de 1861, “Discurso de Allan Kardec”.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita