Joias da poesia
contemporânea

Autor: Sandro Drumond Brandão

 

A vida, eu e a Vida


Desguarnecido Dele, sucumbo às minhas deformidades,

Sem Ele, só me resta eu, e eu comigo é só luta.

Desguarneço-me Dele quando O dispenso,

Dispenso-O porque estou feliz no mundo.

Esqueço-me de que feliz no mundo é diferente de ser feliz com Ele em Seu mundo.

A vida apresenta sua exação:

Sou devedor.

Eu, o filho do mais Rico,

Renuncio ao auxílio da Perfeição pela sabedoria dos imperfeitos,

Endivido-me ainda mais.

Meus débitos morais são excruciantes,

Fortalecem-se com a minha inércia,

Dominam-me pela minha invigilância

E me desfalecem pelo meu medo.

Olho em torno de minha casa e não encontro saída.

Sou credor de mim mesmo,

Indecoroso mal me habita.

Não se pode fugir de si mesmo.

Minha consciência é implacável.

Perturbado, procuro Quem nunca se escondeu,

Provoco Quem ansiava ser provocado,

Incomodo Quem aguardava pacientemente por mim,

Descubro que só Nele reside a resposta.

Sinto-me irrefutavelmente só e ao mesmo tempo inelutavelmente amparado.

É Ele o imaterial que me acolhe no momento em que o material se nega a responder.

Somos eu e Ele agora.

Sinto-me desatendido em meio ao atendimento.

Sou material. Só me é atraente o visível e o imediato.

Sua beneficência desperta em meu Espírito a mais profunda contrariedade.

Discordo do óbvio, elevo-me; a erudição do Bem me despe por inteiro.

Sou assolado pela melhor e mais justa razão.

Regozijo-me com tão salutar revés e aprendo que Ele é Pai.

 

O autor reside em Belo Horizonte (MG).



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita