A natureza vence o antropomorfismo
Tentamos antropomorfizar a natureza porque não é fácil
conviver com aquilo que foge ao nosso controle.
O ego sente-se um nada diante de trovões, relâmpagos,
ventania, terremoto, então o que ele faz?
Inventa explicações metafísicas (a ira de Deus, castigo
dos céus, demônios se rebelando) porque, vestindo de
"humanidade" esses fenômenos "selvagens", conseguimos
manter a ilusão de tê-los sob nosso controle.
O vazio, a carência e o medo do homem são tamanhos que
ele não consegue viver num mundo que não tenha a "sua
cara”!!
Quando Allan Kardec sob os cuidados dos espíritos
veneráveis nos adverte que o “sobrenatural” é a
manifestação de leis “naturais” que desconhecemos, ele
está nos mostrando que a Natureza não se curva aos
desmandos ególatras e biocidas do sapiens porque,
como frutos de uma evolução milenar, somos parte da teia
da vida e não dono e senhor dela.
O mundo contemporâneo trouxe à tona questões axiais como
o aquecimento global, extinção de espécies, monoculturas
e riscos à saúde humana pela invasão, na metrópole, de
vírus que viviam em seus “lares” nas árvores e mares.
Com a destruição desses biomas, o homo sapiens abriu
um horizonte perigoso de contato com micro-organismos
nocivos e contagiosos.
O surto de epidemias e pandemias é a consequência dos
excessos de interferência do homem na natureza. O
planeta, à luz da hipótese Gaia de Lynn Margulis e James
Lovelock, não está se vingando. É antropomorfismo
atribuir a seres inanimados características humanas, mas
o planeta como um organismo vivo está nos devolvendo o
fruto de nosso plantio.
Na jornada seminal do espírito pela matéria, ele traz
suas expiações, provações e missões. Tais tarefas
orquestradas previamente em seu processo de reencarne
coloca-o como a espécie dominante do planeta, porém como
cooperador do grande concerto divino e da harmonia
cósmica.
Todas as espécies devem ser solidárias em sua caminhada
evolutiva.
Desde o reino mineral, até o hominal, o princípio
inteligente que ensaia sua individualização e autonomia
perante a lei divina, é o grande jardineiro desse lindo
pálido ponto azul na imensidão. O orbe terreno, como
morada das almas expiatórias, merece ser protegido e
cuidado.
Numa interdependência conatural, todos precisam de
todos....
Em respeito e harmonia com as necessidades das outras
espécies, é preciso colocar limites em nossos anseios
predatórios e estabelecer estruturas econômicas,
pedagógicas, sanitárias, que assegurem a vida para as
gerações futuras.
Quando se fala em transição planetária, não são apenas
os humanoides na superfície do planeta galgando níveis
superiores de consciência. O próprio planeta também
possui sua linha evolutiva, pois, como afirmou Santo
Agostinho, “os mundos também evoluem...”
Conviver em paz com o meio ambiente, respeitar a
natureza, proteger os animais e trabalhar por um planeta
saudável talvez seja uma das maiores caridades que se
pode fazer enquanto espírito encarnado rumo à perfeição.
João
Márcio F. Cruz, bacharel em Letras e especialista em
Saúde Pública, é psicanalista clínico, palestrante
espírita e autor dos livros Os Quatro Pilares da Educação e O
Espiritismo e o encontro com a
própria sombra.
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