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por Juan Carlos Orozco

 

Renúncia


Renúncia pode ser entendida como ato de negar, rejeitar, afastar, recusar, deixar, desistir, privar ou abandonar algo, alguém ou comportamento para assumir outra atitude.

Religiosamente, pode-se renunciar o mal para praticar o bem; renunciar o apego material para privilegiar a aquisição de bens espirituais; renunciar aos benefícios do mundo material para aceitar as privações e os sofrimentos da vida; renunciar a si mesmo para servir e ajudar o próximo; renunciar o orgulho e a soberba para agir com humildade; dentre outros tantos.

A renúncia poderá motivar um comportamento oposto, tal como: a renúncia à raiva, ao ódio, à vingança e à perseguição que poderá estimular a compreensão, o perdão, a reconciliação e a pacificação.

Francisco de Assis, em certo momento de sua existência, renunciou a uma vida de riqueza, com seus benefícios, para outra de privação e pobreza, modificando totalmente a forma de agir. Além disso, renunciou a si mesmo para dedicar-se aos mais necessitados. Francisco praticou o amor em sua plenitude e na mais sublime expressão, distribuindo-o para todos indistintamente.

A reflexão sobre Francisco de Assis está na renúncia que mudou a sua vida para dar a ela novo rumo e sentido. O primeiro passo foi a libertação das amarras que lhe prendiam e impediam tomar o caminho da verdade e da vida, e no desapego das coisas materiais que dificultavam tomar nova direção e orientação, principalmente se essa direção fosse no sentido oposto ao que vinha vivendo até aquele momento.

O amor aos bens terrenos constitui um dos maiores óbices ao adiantamento moral e espiritual. Pelo apego à posse de tais bens, afasta-se o amor na sua pureza de coração.

O Cristo em sua missão, até o martírio na cruz, ensinou e testemunhou o amor divino e a renúncia plena, principalmente diante da traição, da humilhação e do abandono a que foi submetido, inclusive dos seus discípulos. A ingratidão recebida por Jesus, após inúmeros benefícios proporcionados, conduz a profundas reflexões sobre o seu sublime amor por todos nós.

O amor verdadeiro e sincero nunca espera recompensa, sendo a renúncia essencial para a prática do puro amor, incondicionalmente.

Contudo, nem todos os aflitos pretendem renunciar às causas de suas desesperações e tampouco os tristes querem fugir à sombra para o encontro com a luz. É quase impossível melhorar moralmente sem sacrifícios e renúncias.

Muitos caminhos se apresentam na vida: os que conduzem às perturbações e desarmonias espirituais; e os caracterizados pela renúncia aos valores transitórios e às ilusões da matéria. Escolher um caminho ou outro depende de nós.

Pelas experiências educativas, em seu processo evolutivo, o Espírito desenvolve a capacidade de discernimento entre o bem e o mal, aprendendo a fazer as escolhas mais acertadas que auxiliarão no propósito de mudança.

Entretanto, nem sempre revelamos a disposição para renunciar às infindáveis requisições do mundo material para seguir Jesus. Indispensável cultivar a renúncia exemplificada pelo Cristo para conquistarmos a capacidade de sacrifício que permitirá a sublimação em mais altos níveis.

Assim, em todas as circunstâncias a que somos chamados para o serviço edificante na construção do reino de Deus dentro de nós, será imprescindível a prática do puro amor, induzindo-nos à renúncia de nós mesmos para que prevaleça a vontade divina, para o benefício próprio e dos nossos semelhantes.

O Espírito Emmanuel, em Renúncia, psicografia de Francisco Cândido Xavier, do livro O Espírito da Verdade, no capítulo 59, trata das renúncias a pessoas que não podem significar em abandono ou indiferença, mas sim um devotamento maior a elas:

“Se teus pais não procuram a intimidade do Cristo, renuncia à felicidade de vê-los comungar contigo o divino banquete da Boa-Nova e ajuda teus pais.

Se teus filhos permanecem distantes do Evangelho, renuncia ao contentamento de sentir-lhes o coração com o teu coração na senda redentora e ajuda teus filhos.

Se teus amigos não conseguem, ainda, perceber o amor de Jesus, renuncia à ventura de guardá-los no calor de tua alma, ante o sol da Verdade, e ajuda teus amigos.

Renúncia com Jesus não quer dizer deserção. Expressa devotamento maior.

Nele mesmo, o Senhor, vamos encontrar o sublime exemplo.

Esquecido de muitos e por muitos relegado às agonias da negação, nem por isso se afastou dos companheiros que lhe deram as angústias do amor não amado.

Ressurgindo da cruz, ele, que atravessara sozinho os pesadelos da ingratidão e as torturas da morte, volta ao convívio deles e lhes diz confiante:

‘Eis que estarei convosco, até ao fim dos séculos’.”

Ainda Emmanuel, em Renunciar, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, do livro Caminho, verdade e vida, no Capítulo 154, esclarece sobre o verdadeiro sentido da renúncia para a conquista da vida eterna:

“E todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos ou terras, por amor do meu nome, receberá cem vezes tanto e herdará a vida eterna. (Mateus, 19:29)

Neste versículo do evangelho de Mateus, o Mestre divino nos induz ao dever de renunciar aos bens do mundo para alcançar a vida eterna. Há necessidade, proclama o Messias, de abandonar pai e mãe, mulher e irmãos do mundo. No entanto, é necessário esclarecer como renunciar.

Jesus explica que o êxito pertencerá aos que assim procederem por amor de seu nome.

À primeira vista, o alvitre divino parece contrassenso.

Como olvidar os sagrados deveres da existência, se o Cristo veio até nós para santificá-los? Os discípulos precipitados não souberam atingir o sentido do texto, nos tempos mais antigos. Numerosos irmãos de ideal recolheram-se à sombra do claustro, esquecendo obrigações superiores e inadiáveis.

Fácil, porém, reconhecer como o Cristo renunciou.

Aos companheiros que o abandonaram aparece, glorioso, na ressurreição. Não obstante as hesitações dos amigos, divide com eles, no cenáculo, os júbilos eternos. Aos homens ingratos que o crucificaram oferece sublime roteiro de salvação com o Evangelho e nunca se descuidou um minuto das criaturas.

Observemos, portanto, o que representa renunciar por amor ao Cristo. É perder as esperanças da Terra, conquistando as do Céu.

Se os pais são incompreensíveis, se a companheira é ingrata, se os irmãos parecem cruéis, é preciso renunciar à alegria de tê-los melhores ou perfeitos, unindo-nos, ainda mais, a eles todos, a fim de trabalhar no aperfeiçoamento com Jesus.

Acaso, não encontras compreensão no lar? Os amigos e irmãos são indiferentes e rudes? Permanece ao lado deles, mesmo assim, esperando para mais tarde o júbilo de encontrar os que se afinam perfeitamente contigo. Somente desse modo renunciarás aos teus, fazendo-lhes todo o bem por dedicação ao Mestre, e, somente com semelhante renúncia, alcançarás a vida eterna.”

No livro O Consolador, Emmanuel, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, na pergunta 331, comenta sobre pessoas que realizaram renúncia para o cumprimento de suas missões sagradas:

“Pergunta: Como devemos interpretar a sentença: ‘Há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos Céus’?

Resposta: Almas existem que, para obterem as sagradas realizações de Deus em si próprias, entregam-se a labores de renúncia, em existência de santificada abnegação.

Nesse mister, é comum abdicarem transitoriamente as ligações humanas, de modo a acrisolarem os seus afetos e sentimentos em vidas de ascetismo e de longas disciplinas materiais.

Quase sempre, os que na Terra se fazem eunucos para os reinos do Céu, agem de acordo com os dispositivos sagrados de missões redentoras, nas quais, pelo sacrifício e pela dedicação, se redimem entes amados ou a alma gêmea da sua, exilados nos caminhos expiatórios. Numerosos Espíritos recebem de Jesus permissão para esse gênero de esforços santificantes, porquanto, nessa tarefa, os que se fazem eunucos, pelos reinos do céu, precipitam os processos de redenção do ser ou dos seres amados, submersos nas provas e, simultaneamente, pela sua condição de envolvidos, podem ser mais facilmente transformados, na Terra, em instrumentos da verdade e do bem, redundando o seu trabalho em benefícios inestimáveis para os entes queridos, para a coletividade e para si próprios.”

Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec aborda a renúncia por meio do celibato:

“699. Da parte de certas pessoas, o celibato não será um sacrifício que fazem com o fim de se votarem, de modo mais completo, ao serviço da Humanidade?”

“Isso é muito diferente. Eu disse: por egoísmo. Todo sacrifício pessoal é meritório, quando feito para o bem. Quanto maior o sacrifício, tanto maior o mérito.”

Kardec comenta: “Não é possível que Deus se contradiga, nem que ache mau o que ele próprio fez. Nenhum mérito, portanto, pode haver na violação da sua lei. Mas, se o celibato, em si mesmo, não é um estado meritório, outro tanto não se dá quando constitui, pela renúncia às alegrias da família, um sacrifício praticado em prol da Humanidade. Todo sacrifício pessoal, tendo em vista o bem e sem qualquer ideia egoísta, eleva o homem acima da sua condição material.”

Por fim, cita-se mensagem deixada pelo Mestre Jesus, no Evangelho de Mateus (16: 24-25): “Se algum quiser vir nas minhas pegadas, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me, porquanto aquele que quiser salvar a vida a perderá e aquele que perder a vida por amor de mim a encontrará de novo.”


Bibliografia:

Bíblia Sagrada.

CAMPOS, Humberto de (Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. Boa Nova. 37ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.

EMMANUEL (Espírito); na psicografia de Francisco Cândido Xavier; coordenação de Saulo Cesar Ribeiro da Silva. O Evangelho por Emmanuel: comentários ao Evangelho segundo Mateus.  1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira. Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte I. Orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2015.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte II: orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira (organizadora). Estudo aprofundado da Doutrina Espírita: Cristianismo e Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita