A expansão do amor
Aqueles que se preocupam em ser uma pessoa melhor,
comumente chamado de crescimento espiritual, tentam
perceber uma forma de se tornarem seres mais calmos.
Penso que este é um dos principais motivos que levam as
pessoas a permanecerem nos Centros Espíritas.
Temos uma vaga ideia de que o crescimento espiritual
acontece através do amor, até acreditamos conhecer esse
amor, embora vivamos de forma turbulenta. Acusamos os
outros e a vida por nos distanciarmos deste, que nos
oferta a paz quando, esporadicamente, aparece de forma
fugidia.
Associamos este sentimento a um movimento de carinho de
nós para com os outros. De forma perfeita, como o de
Jesus, é amarmos todos de forma igual.
Estas ideias aparecem por vivermos de forma desatenta,
não estarmos conscientes dos nossos movimentos. A mente
toma conta desses assuntos tão importantes através da
imaginação, não permitindo que os vivamos diretamente,
por isso sermos tão enrolados em problemas.
Mesmo vivendo de forma ilusória, temos perceções reais
que nos vão dando algum direcionamento do caminho que
devemos tomar.
No caso da direção ao amor, podemos perceber que
acontece através da serenidade e da paz interior.
Ninguém pode chegar a este reinado no meio de um
turbilhão emocional. Podemos chegar à ideia dele,
imaginá-lo, projetá-lo a alguém diretamente, mas não
envolvermo-nos de amor se estivermos envoltos de emoções
diferentes e desejos que tomem conta do nosso ser.
Funcionamos em vibrações. Podemos imaginar estas como se
fôssemos uma cebola cheia de camadas. As emoções
negativas e os desejos terrenos a que estamos apegados
são as camadas mais superficiais. Como nos mantemos
nesta vibração, através do pensamento que roda
constantemente entretido com esta forma de estar
superficial, não nos apercebemos da enorme imensidão que
existe para além desta vibração. Desta forma, a vida vai
acontecendo e nós vamos respondendo automatizadamente,
alimentando esta forma de estar supérflua que nos
envolve na ilusão da importância. É como olhar para o
mar: só vemos a água que está por cima e todo o seu
movimento, temos uma ideia de que por baixo é muito rico
e enorme, mas como nunca mergulhamos, não conhecemos
para além da imaginação que temos sobre este.
Quando temos alturas de paz, em que ultrapassamos este
movimento desenfreado da mente, e esta abranda um pouco,
podemos sentir paz e serenidade. O bem-estar que
sentimos desponta uma energia de amor que nos faz
harmonizar com o que está a nossa volta, simplesmente
amamos, sem projeções diretas. E nos sentimos mais
próximos de Deus, dos outros e integrados no universo.
O primeiro conselho que Jesus nos deixa sobre a oração é
para nos recolhermos em silêncio aos nossos aposentos.
Os nosso aposentos são silenciosos, mas ele insiste no
silêncio porque nos indica para um silêncio mental, ou
seja, para deixarmos para trás a vibração mais
superficial do movimento intenso do pensamento e
entrarmos no nosso interior, que se situa para lá deste
turbilhão, onde está Deus e o seu enorme amor que nos
caracteriza como filhos.
O Mestre incentiva-nos dizendo-nos que Deus em silêncio
escuta, para mergulharmos dentro de nós, onde, numa
outra passagem, nos informa que é o Reino de Deus.
A abdicação e o desapego dos desejos e emoções negativas
são essenciais para podermos perceber a nossa
profundidade como seres. Esta autodescoberta torna-se o
motor motivador para a busca de um crescimento
espiritual.
A nossa primeira verdadeira escolha acontece no plano
mais superficial da consciência, como é lógico. Os
desejos e as emoções aparecem e nós seguimos ou não
atrás. Tem muito a ver com o nosso apego ao que aparece;
se formos muito apegados, como um alcoólico ao álcool,
dificilmente contrariaremos o desejo que surge, mas
temos sempre uma pequena porta para o fazermos.
A escolha não está no que surge em nossa mente, como
acontece com o raciocínio. Quando efetuamos um
raciocínio escolhemos os pensamentos que estamos a ter,
o que nos dá a ideia de que somos senhores e donos de
nossa mente, mas, ao contrário disso, durante o dia, os
pensamentos que surgem são aleatórios à vontade,
servindo para nos testar.
Quanto mais distraídos formos, mais longe estamos da
consciência e mais apegados somos aos pensamentos,
seguindo atrás destes sem os questionarmos ou vigiarmos.
A escolha da consciência sobre o funcionamento da nossa
mente é o maior poder que podemos ter.
Quando estamos conscientes do funcionamento de nossa
mente, dificilmente somos enganados pelo movimento dos
pensamentos e quando aflitos pelo apego, podemos orar a
solicitar ajuda, força e coragem.
Com a prática, passamos a ter mais capacidade sobre este
intenso movimento, que diminui de força, deixando espaço
a um vazio que se preencherá de paz, amor e felicidade.
Desenvolvemos o silêncio que Jesus nos aconselha para
oração e expandimos o Amor em nossos corações.
Como o Mestre nos alerta, não podemos agradar a Deus e a
Mamon.
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